Cotidiano

Machismo e Feminismo: o espelho do próprio ego

Redação DM

Publicado em 12 de julho de 2018 às 00:46 | Atualizado há 7 anos

Não é novidade que o pa­pel do machista incomo­da muita gente, principal­mente as feministas. Mas até que ponto chega uma discussão sobre o feminismo? E de onde vão as ati­tudes hostis do machismo? A partir do momento em que ultrapassam a perspectiva do diálogo e da com­preensão, tais condutas se tornar tri­viais, desinteressantes ou até mes­mo chatas. Há anos a sociedade está envolta em assuntos sérios, mas tão pouco compreendidos.

Não que haja uma compara­ção entre estes dois sentidos, mas a questão é que sim, eles se tornam chatos todas as vezes que saem por aí com exuberâncias, gritando sua bandeira e se esquecem de que as pessoas podem ser como elas qui­serem, e que ninguém é obrigado a carregar no peito um conceito que, para eles, se quer faz algum sentido.

O filósofo, pensador, e escritor Mário Sérgio Cortella esclarece um pouco desses dois pontos de vista e a sua diferenciação “- O machis­mo pressupõe que o homem é su­perior à mulher, o feminismo de­fende a igualdade entre os sexos (…) Machismo não é o contrário de feminismo, o contrário de ma­chismo é inteligência”.

Contudo o extremo feminis­mo contemporâneo tem chega­do às estreitas do “femismo”, assim como define Renatto Neves escritor e blogueiro- “o feminismo se tor­nou uma ideologia linda e motivo de orgulho pra quem se autointitu­la desta forma. Mas quando vemos os excessos cometidos de ambas às ideologias, muitas pessoas não per­cebem que o “feminismo” tem se tornado a cada dia que passa o cha­mado “femismo”. O femismo sim pode ser relacionado como o con­trário do machismo. Só que tomou uma proporção tão grande que este termo acabou se ligando à misan­dria, ou seja, ao repúdio da mulher em relação ao homem”.

O machismo é tão antigo quan­to à palavra “feminismo” inventa­do em 1837 por um francês socia­lista François Marie Charles Fourier. Pensando dessa forma, podemos concretizar que sim, tanto o ma­chismo, quanto o feminismo (in­ventado por um homem) são duas vertentes criadas à partir de cultu­ras implantadas na sociedade desde então e assim como ela, evoluem. E evoluíram para um patamar por vezes diferenciado, porém, even­tualmente agressivo e hostil neste novo conceito de vida contempo­rânea. O machismo não se tornou uma ideologia, tampouco um movi­mento como o das feministas, con­tudo, ele está tão presente na socie­dade como o feminismo, e ambos, quando extremos se tornam cha­tos, ou até mesmo agressivos e ru­des. É como diz o velho ditado cli­chê: “tudo que é demais faz mal”.

O machismo reflete versões to­talmente contrárias ao feminismo, estas que deixa uma sociedade a mercê de atitudes rudes, ultrapas­sadas, e contraditórias à liberdade que prega o feminismo, como rela­ta a especialista Alessandra Mina­dakis, militante feminista, procu­radora federal, ativista de direitos humanos, e militante feminista no movimento #partida, ao contexto feminista frente ao machista: “Pra começar, feminismo não é o con­trário de machismo. O feminismo é a luta por direitos iguais, enquan­to o machismo parte de uma supe­rioridade dos homens que, embora estrutural, não podemos conside­rar aceitável. Ou seja, não há impor­tância no machismo, mas a consta­tação de que ele existe, é estrutural e deve ser combatido”.

Já para o escritor e blogueiro Renatto Neves “o machismo está muito mais ligado à postura vi­ril do homem, à condição de “va­lentão” do homem, um senso exa­gerado de orgulho masculino”. As mulheres estão cansadas de ati­tudes machistas. E se incomoda, é irrelevante e ofensivo, qual seria o motivo pelo qual homens e até mesmo algumas mulheres con­cordam com atitudes machistas? A Jornalista e Assessora de Comuni­cação Marketing Caroline Santana salienta sobre a importância do fe­minismo deixando claro seu pon­to de vista sobre o machismo. “Um corrói a sociedade (machismo) e o outro orienta (feminismo)”.

O feminismo é tido entre as fe­ministas, e pessoas que admiram o movimento como uma ideolo­gia clara da defensoria dos direitos iguais enquanto seres humanos, não por igualdade de sexo, mas por igualdade na profissão, nos salários, e nos direitos. O machismo já não se pressupõe como uma ação or­ganizada, mas sim como con­dutas de repúdio contra mu­lheres, enquanto másculos, e se veem melhores e ou superiores às mulheres. Mas daí vem a pergun­ta, mas o que tem ha­ver um com o outro? Ambos não podem ter uma comparativa, entretanto os excessos em ambos são atitu­des desaceitadas pela sociedade, que critica tais ações como: pas­seata de mulheres nuas, ou cantadas livres deno­tadas incoerentes e des­confortáveis.

Em entrevista ao Diário da Manhã, a militante feminis­ta Alessandra Minadakis expres­sa o seu ponto de vista em relação aos extremos de ambos os lados das ideologias. “Acho bastante relativo esse conceito de “chato”. Muito do que hoje chamam de chato é fruto de uma nova consciência que não admite a naturalização do pre­conceito. Se for ser chato não aceitar machis­mo, racismo, homofobia etc. Sou chata com orgulho”, afirma. E ainda acrescenta sobre a importância do feminismo e do machismo na so­ciedade atual, e até que ponto vão estes extremos. “Pra começar, femi­nismo não é o contrário de machis­mo. Feminismo luta por direitos iguais, enquanto o machismo parte de uma superioridade dos homens. O extremo do machismo pode ser o próprio feminicídio. Já o feminis­mo, enquanto busca por igualda­de, não há extremismo. O que ex­ceder deixa de ser Feminismo”, diz.

PESQUISA

A revista digital Gla­mour desta­ca uma pesquisa feita pela Skol com o Ibope à qual revela que “em 2017 o machismo é o pre­conceito mais praticado no País – e está presente no cotidiano de 99% dos brasileiros. Das 2.002 pessoas ouvidas entre os dias 21 e 26 de setembro, o estudo re­velou que apenas 17% dos bra­sileiros se declaram preconcei­tuosos, mas 72% já fizeram pelo menos um comentário machis­ta, homofóbico ou racista. Ou seja: 7 em cada 10 pessoas em território nacional fazem parte de uma geração onde o machis­mo pode parecer normal”.

Talvez estes dados sejam por uma questão cultural, uma questão de livres escolhas, porém, é parte do sen­so comum das pessoas tratarem tal assunto com naturalidade, algo que já o é tão repetido, e di­ficilmente uma pessoa se assu­me “machista”, seja ela homem, ou mulher. A Pedagoga e Coorde­nadora do site Blogueiras Feminis­tas explica claramente a questão cultural “- a forma como somos criados e como a sociedade está estruturada é um impor­tante fator para análise, mas não é o único. São milhares de anos em que o homem, especialmente o homem heterossexual branco, é o centro do sistema so­cial e com ele está o po­der institucional”.

Neste novo “modo de vida livre” homem que é homem não sai por aí gritando desa­foros sobre as mulhe­res, nem pagando de machão. Homem tam­bém tem o seu lugar na sociedade, e sim, a vaida­de também faz parte do uni­verso masculino, quer queiram ou não. Eles também estão ga­nhando cada vez mais espaço no universo feminino, se liber­tando dos tão temidos “ma­chões” para se entregarem às delícias que é ser você mesmo, do seu jeito, sem que ninguém imponha uma condição ou regra sobre o modo de vida, vestimenta, ou seu corpo.

Talvez o machista que gos­ta de pregar o seu lado másculo ainda exista sim, pela forma de criação, e a cultura que somente agora em pleno século XXI vem mudando os costumes, o olhar e perspectiva das pessoas e da vi­vência, inclusive dentre os ado­lescentes e jovens. Mas ainda é bastante comum sair para qual­quer balada e encontrar os “ma­chistas, ou machões” de plantão, que fazem questão de represen­tar o papel vivido pelos pais, tios, e toda uma geração. E é claro, o papel da mulher é fundamental neste roteiro, já que o machismo está tão presente que se torna “ir­ritante”. E para eles somente me­xer com a mulher, ou fazer xinga­mentos quando leva um “não” ainda é pouco. Sem nos esque­cermos da viralidade que o fe­minismo excedente e fervoroso também possui, basta alguém fu­gir aos princípios “delas” e pron­to, é instantaneamente apedreja­do por suas palavras e condições.

Acreditar em uma ideia e se­gui-la com vontade não acarre­ta nenhum defeito. Feio mesmo é balbuciar ofensas criadas apenas para aflorar um ego tão vasto de mágoas, e ou, criar imposições, numa soc i e ­dade “livre”.

 



Muito do que hoje chamam de chato é fruto de uma nova consciência que não admite a naturalização do preconceito. Se for ser chato não aceitar machismo, racismo, homofobia etc. Sou chata com orgulho”

Alessandra Minadakis, militante feminista


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