Mulheres no poder
Redação DM
Publicado em 8 de março de 2017 às 02:41 | Atualizado há 5 meses
Elas estão em todas as áreas e não se deixam intimidar por ambientes tidos como masculinos. Superando preconceitos e barreiras sociais procuram, sem medo, ser cada vez melhores no que fazem por meio de muito trabalho, estudo e esforço. Formada em redes de comunicação a empresária e professora Juliana Moreno Oliveira, 27 anos, narrou o quanto foi difícil para ela adentrar em um mercado de trabalho de predominância masculina.
“Quando estava cursando redes de comunicação precisei procurar estágio, tinha as melhores notas, era a única mulher da turma e todos conseguiram estágio, exceto eu. Algumas propostas de estágio já vinham escrito que só recebiam currículo de homens. Outros me disseram que eu era muito frágil e não iriam me contratar”.
Manter-se firme e combater o machismo tornou-se palavra de ordem para Juliana, que persistiu em seus ideais e, finalmente, faltando alguns meses para formar, conseguiu um estágio, necessário para sua formação. Mesmo assim, a jovem recorda de mais experiências que evidenciam o machismo institucional.
“Em uma das empresas que fiz prova para a vaga de estágio me ligaram avisando que eu tinha passado para a próxima fase. Quando fui na segunda fase eles disseram que foi engano e que eu não tinha passado, fiquei lá um tempo e vi que para todas as mulheres que chegaram eles disseram a mesma coisa e os homens eles deixavam entrar para a sala onde seria realizada a nova etapa”, recorda. Juliana formou em 2010 e hoje trabalha na própria empresa e dá aula particular de matemática.
Mulheres fortes e persistentes conquistaram o sucesso em suas áreas de atuação e servem de exemplo e inspiração para tantas outras que estão apenas no início de sua trajetória, buscando o sucesso profissional sem deixar de lado a feminilidade. Para a mestra em psicologia Dalva de Jesus Cutrim Machado a representação da “mulher” não abrange um significado único, trata-se de conceito plurissignificativo, em razão das conquistas sociais e profissionais das últimas décadas.
Ela descreve que a mesma mulher que se apresenta como uma mãe zelosa, dona de casa, esposa, pode se revelar uma profissional implacável, que persegue seus objetivos com firmeza e determinação. “Ser mulher atualmente representa o exercício de múltiplos papéis sociais e internos. É possuir ampla liberdade de escolha de quais papéis quer exercer e de como exercê-los, tendo a consciência das consequências de cada uma delas”, define.
Apesar das significativas conquistas das mulheres em diversas áreas de atuação e expressão, a especialista Dalva Machado observa que a mulher precisa criar mais condições para que suas lutas fundamentais avancem. “Há muito a ser mudado culturalmente, para que haja de fato direito à igualdade e à justiça, melhor reconhecimento ao seu trabalho, o enfrentamento ao preconceito, a discriminação, as desigualdades sociais, a violência física, moral e psicológica, que atinge mulheres de todas as classes, raça, idade, geração ou religião”, adverte.
Além do mais, ela acrescenta ser preciso haver uma mudança interior, por parte das mulheres, de superação dos medos, das incertezas, inseguranças geradas por anos sob o jugo cultural da “procriadora”. “Que a mulher tenha consciência que ela é “procriadora” sim, além de gerar vidas, ela também deve “procriar” amor, realizações profissionais, apoio do seu parceiro(a), alegria e união familiar, enfim, tudo o que ela quiser, lutar e conquistar”.
Cutrim acredita que a postura, atitude, profissionalismo, esforço, conhecimento e competência dessas mulheres que decidiram conquistar seu espaço são qualidades a serem admiradas e cada vez mais desejadas, possibilitando assim, que outras mulheres sintam que também são capazes de se tornar poderosas.
Conquistar é preciso
De acordo com projeção realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2017, a população brasileira já é formada majoritariamente por mulheres (50,64%). Contudo, a representatividade destas, em diversas áreas como a política, ainda destoa em comparação com a população.
“Apesar de tantas conquistas, ainda precisamos e lutamos diariamente contra o preconceito de gênero, o preconceito cultural de que a mulher nasceu só para ficar em casa, cuidar de marido e filhos, de que a mulher deve ganhar menos do que um homem que exerce a mesma função e cargo, conquistar mais espaço na política e em cargos de direção”, acredita a advogada, professora e mãe Mônica Araújo de Moura.
A tenente Geovanna Karla Rocha Vaquero define que: “a independência e a opressão são conceitos antagônicos que insistem no cotidiano da sociedade atual. Isso porque persiste a compreensão de que à divisão sexual do trabalho é vinculada a divisão social do trabalho. Desta forma, precisamos transformar o dogma de que, as mulheres e homens devem participar de modo desigual da produção e da reprodução”, avalia.
A estudante, Luciene Farias, 40 anos, ficou viúva aos 27 anos de idade tendo que assumir sozinha a responsabilidade de cuidar dos dois filhos pequenos. Ela contou que após o falecimento do marido voltou a se relacionar, contudo, a experiência não foi das melhores com o novo parceiro. “Sofri demais, precisei parar minha faculdade por conta de ameaças físicas e verbais dele. Nossas brigas eram por questão de dinheiro, eu tinha uma renda e ele não”, revelou.
Hoje, após ter sido subjugada Luciene se libertou e descreve que arrumou forças para seguir em frente. “Consegui erguer minha cabeça e estou muito bem, meu filho mais velho está terminando a faculdade e o mais novo está quase começando o ensino superior. Eu estou cursando enfermagem e sou realizada, mas ainda tenho muito medo de me envolver totalmente com outro homem, apesar de ter um namorado que sei que me ama”, cita.
“Ser mulher é sempre se exigir, porque nós mulheres sabemos que somos capazes de sermos o que quisermos. Não sou feminista, mas temos que acabar com os paradigmas. Lugar de mulher também é na rua, empresas, fazendas, lavouras, afinal nos capacitamos para isso. Nós mulheres temos que melhorar nossos conceitos para com outras mulheres. Me admira a capacidade pela qual a mulher se desdobra e no final prova o quanto é boa em seus muitos afazeres no dia a dia”, destaca a veterinária Maria Eliza Brito, 25 anos.
Enquete
Enquanto muitos definem que ser mulher quando bela é motivo para desconfiar da sua inteligência e capacidade, e se é assertiva e defende seus pontos de vista, é mandona e briguenta. No Dia Internacional da Mulher, celebrado no dia 8 de março, a reportagem do Diário da Manhã pediu para que mulheres que conquistaram o sucesso em suas áreas de atuação, sem descer do salto, definissem o que é ser mulher.