Nova administração apresenta seus planos
Diário da Manhã
Publicado em 6 de janeiro de 2018 às 01:08 | Atualizado há 4 meses
A Diretoria-Geral de Administração Penitenciária foi formalmente apresentada na manhã de ontem, na antiga sede da Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária (SSPAP), agora apenas Secretaria de Segurança Pública. Quem assume a chefia da Diretoria é o coronel Edson Costa, antigo superintendente de Administração Penitenciária na SSPAP. A Diretoria terá independência administrativa e orçamentária, além de autonomia para remanejar vagas entre os presídios do Estado.
Segundo o secretário de Segurança Pública, Ricardo Balestreri, a separação das pastas segue recomendação da Organização das Nações Unidas (ONU) e do Departamento Penitenciário (Depen). “Quem prende não pode ser o mesmo quem guarda”, afirmou ele na reunião. Balestreri contou que esta foi a terceira tentativa de criar um setor especializado na administração penitenciária, finalmente atendida pelo governador Marconi Perillo e aprovada pelos deputados estaduais. Quem vai assumir a superintendência executiva da Secretaria de Segurança Pública é o tenente-coronel Newton Castilho.
A mudança foi anunciada como parte das medidas para se resolver a crise penitenciária. Balestreri mencionou as três rebeliões ocorridas nessa semana no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia dizendo que elas são orquestradas por organizações criminosas. “Esses não são fenômenos ocasionais, são disputas de mercado”, comenta. O coronel Edson Costa explicou que com a nova Diretoria os detentos indisciplinados e líderes de facções poderão ser transferidos mais facilmente, já que essa decisão não terá mais de passar por apreciação judiciária.
“Não é do nosso interesse movimentar presos para longe da família e do local de domicílio, mas se preciso for, será”, declarou o novo diretor. Ele também prometeu que as cinco unidades prisionais que estão sendo construídas – em Anápolis, Formosa, Águas Lindas de Goiás, Novo Gama e Planaltina – serão utilizadas para abrigar os presos mais perigosos. Duas dessas cinco obras já estão concluídas e os prédios, prontos para o uso.
FEDERAL
Ricardo Balestreri voltou a falar que os recursos federais repassados para as obras do sistema prisional são insuficientes. Além disso, ele afirmou que as verbas do Fundo Penitenciária só são liberadas seis meses depois do depósito do governo federal. O prazo para o gasto é de 18 meses, sendo que os recursos são liberadas conforme o andamento das obras. Desde julho do ano passado presídios estão sendo reformados e construídos, e até agora já foram utilizados 23% dos recursos, defendeu ele corrigindo a porcentagem informada pelo Ministério de Justiça na quarta-feira, de 18%.
O secretário também defendeu que a administração penitenciária deveria ser compartilhada pelo conjunto dos poderes, e não o Executivo nem só o governo estadual. “O problema é que o Judiciário não assumiu com a mesma garra que os governos estaduais e o Poder Legislativo também não assumiu. E o abacaxi fica exclusivamente para os governos estaduais, o ônus econômico e a administração ficam exclusivamente para eles. É preciso que a gente saia da discussão rasteira e analise profundamente a crise penitenciária no Brasil. O problema não é local, o problema é nacional”, discursou Balestreri.
Presídios de segurança máxima para presos perigosos
O governo de Goiás promete implementar um regime disciplinar rigoroso, semelhante ao dos presídios federais de segurança máxima, nas unidades prisionais estaduais que estão sendo construídas em cinco municípios. De acordo com as autoridades goianas, as obras de construção das unidades de Anápolis, Formosa, Novo Gama, Águas Lindas e Planaltina estão em fase avançada e as duas primeiras devem ser inauguradas no próximo mês, acrescentando 600 novas vagas carcerárias ao sistema.
Segundo o diretor-geral de Administração Penitenciária, coronel Edson Costa, a ideia é isolar os líderes de grupos criminosos que cumprem pena no estado e todo o apenado que exercer atividade prejudicial ao sistema carcerário, influenciando ou colocando em risco a integridade de outros internos. A expectativa é que os outros três presídios sejam entregues até o fim deste ano, totalizando 1.588 novas vagas e um investimento da ordem de R$ 150 milhões.
“Agora, quem der problema vai ser mandado para um presídio estadual onde vamos implementar mais ou menos o mesmo tipo de regime disciplinar das unidades federais. Agora temos ferramentas legais para fazer isso. O sistema de controle disciplinar mudou”, declarou Costa ao ser empossado para chefiar a diretoria criada quinta (4), a partir do desmembramento da Secretaria de Segurança Pública, que respondia pela gestão das unidades prisionais estaduais.
“A lei estabelece uma nova sistemática. Até hoje, o sistema tratava os presos indistintamente, reunindo os de muita periculosidade com os de baixa ou média periculosidade. Agora, vamos poder segregar os de maior periculosidade ou aqueles que estiverem tumultuando o processo”, acrescentou Costa, enfatizando que a influência exercida por uns poucos presos sobre todo o grupo tem um efeito mais nefasto que a própria superlotação dos presídios. “Às vezes, quatro ou cinco presos exercem uma liderança negativa e acabam direcionando os demais a executar os planos de lideranças criminosas”.
“Goiás é forte agente no desmantelamento de facções criminosas”
Durante entrevista coletiva na manhã de ontem para apresentar a nova Diretoria-Geral de Administração Penitenciária, o titular da Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP), Ricardo Balestreri, afirmou que o Estado é “forte agente no desmantelamento de facções criminosas e na identificação da origem dos motins ocorridos nos últimos dias nos presídios goianos”.
“Estas rebeliões são orquestradas pelo crime organizado, conforme farto material que recebemos das equipes de Inteligência da Secretaria; este é um novo tipo de crime, que é a atividade mais lucrativa do planeta”, relatou.
“Eles (os criminosos) dizem que há dois adversários a se enfrentar: o rival, um grupo do Rio de Janeiro e o Estado, que eles afirmam que atrapalha o negócio deles”, conta Balestreri. “E o estado que mais atrapalha o negócio deles é Goiás”, disse.
O titular da SSP destacou a posição geográfica do estado no contexto da distribuição de drogas e armas para grupos criminosos em todas as regiões do País. “Goiás é um Estado geoestratégico que, pela localização e proximidade com o Distrito Federal, tem sido alvo de uma intensa operação de crime organizado; este é um fenômeno profundamente articulado e poderoso”, reforçou o secretário.
“Goiás se tornou, ao longo dos dois últimos anos, alvo de uma intensa ação do crime organizado, portanto, não estamos mais falando da velha atividade criminal, mas de algo novo, largamente articulado”, observou, ao enfatizar o trabalho das polícias goianas no combate a esse tipo de crime.
“Somos o Estado que mais derruba índices criminais”, destacou Balestreri. “São 19 meses de queda de diversas ocorrências criminais, um ano de derrubada de 11 índices de um total de 12 que são acompanhados pela SSP. E, por fim, quatro meses de declínio de todos os índices criminais no Estado”, afirmou o titular da Segurança Pública. Ele lembrou que esses dados são amplamente disponibilizados, sujeitos a comparações e análises de profissionais da área de pesquisa.