O preço do câncer
Diário da Manhã
Publicado em 17 de fevereiro de 2018 às 00:41 | Atualizado há 4 meses
Um estudo realizado pela Agência Internacional para Pesquisa do Câncer, órgão ligado às Nações Unidas. mediu as perdas e o impacto que o câncer causa a economia do Brasil todos os anos levando em conta o recuo na produtividade causado pelos 87 mil óbitos registrados na população economicamente ativa, ou seja, pessoas com idade entre 15 a 65 anos.
A estimativa é de que o País sofra um prejuízo de US$ 4,6 bilhões anuais, o equivalente a R$ 15 bilhões e a 0,21% de toda a riqueza gerada. O cálculo considera a renda média dos profissionais, quantos anos deixaram de ser trabalhados e com quanto eles poderiam ter contribuído economicamente por meio de salário e emprego até o final da carreira. Não foram incluídas crianças, pessoas que estavam em idade de aposentadoria e os gastos de saúde com os doentes.
Isabelle Soerjomataram, coautora da pesquisa e membro da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer, afirma que ‘‘se fossemos abraçar tudo (prejuízo econômico mais gastos com internação e medicamentos), estimo que as perdas totais seriam pelo menos o dobro do que avaliamos”, diz.
O estudo analisa as perdas causadas pelo câncer à economia dos Brics (grupo de emergentes composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), e foi divulgado neste mês pela publicação científica “Cancer Research Epidemiology”. Foram usados dados equalizados de 2012, que permitiram analisar o impacto econômico da doença para além dos indicadores triviais de incidência, mortalidade e sobrevivência.
Mais de dois terços dos 8,2 milhões de mortes anuais por câncer no mundo ocorrem em países de renda média e baixa – só os Brics concentram 42% desse total, ou seja, quatro em cada dez casos. Os prejuízos às economias desses países somam US$ 46,3 bilhões (aproximadamente R$ 150 bilhões) por ano, segundo os parâmetros da pesquisa.
A maior parte das perdas no Brasil ocorre por causa do câncer de pulmão, que tem o cigarro entre as principais causas. Só o custo das mortes por tabagismo foi estimado em US$ 402 milhões (R$ 1,3 bilhão) ao ano.
A obesidade também eleva o número de casos. “Taxas de obesidade que crescem rapidamente correspondem no Brasil a 2% dos casos de câncer em homens e quase 4% em mulheres. Isso aplicado aos resultados indica até US$ 126 milhões (mais de R$ 400 milhões) em perdas de produtividade por ano”, diz o estudo.
Outra característica brasileira é o alto número de casos de origem infecciosa. “Em comparação com países desenvolvidos, temos uma alta incidência de tumores de origem infecciosa. É o caso do câncer de colo de útero por HPV, por exemplo”, afirma a Marianna de Camargo Cancela, do Instituto Nacional do Câncer (Inca), que também participou do estudo.
A diferença de participação entre homens e mulheres no mercado de trabalho também foi considerada no estudo, revelando diferenças nas perdas econômicas de acordo com o gênero. Na média, cada vida perdida por câncer no Brasil na população economicamente ativa gera uma perda média de US$ 53,3 mil (R$ 176 mil). Mas no caso das mulheres, são US$ 44 mil (R$ 145 mil), e no dos homens, US$ 60 mil (R$ 197 mil).
Segundo os pesquisadores, a abordagem mais inteligente para lidar com o problema é a prevenção. As tendências de mudanças no Brasil no longo prazo dependem do tipo de câncer.
Os US$ 46,3 bilhões perdidos anualmente pelos Brics por causa da doença correspondem a 0,33% de seu Produto Interno Bruto somado. Nos países desenvolvidos, porém, as perdas são ainda maiores – chegam a 1% do PIB nos EUA, por exemplo.
No Brasil, os demais emergentes passam por uma transição epidemiológica, fase em que os tipos mais comuns de câncer deixam de ser predominantemente associados a causas inflamatórias e infecciosas, o que é típico dos países em desenvolvimento, e passam a ser causados por estilos de vida nocivos como o sedentarismo, sobrepeso e tabagismo, o que é característico dos países desenvolvidos. Apesar de apresentarem semelhanças, cada país do bloco emergente tem suas particularidades na área da saúde.