O primeiro romântico
Redação DM
Publicado em 10 de agosto de 2016 às 02:24 | Atualizado há 7 mesesConheça um pouco sobre Gonçalves Dias, um poeta que vem a calhar nestes dias olímpicos e nascia há 193 anos
Em tempos em que o patriotismo anda vitaminado pelo espírito olímpico, vale lembrar de um dos poetas mais nacionalistas deste Brasil. Trata-se de Antônio Gonçalves Dias, o Gonçalves Dias. Hoje completam-se 193 anos, que nascia em um sítio no Maranhão, o autor do poema Canção do Exílio. E os versos desta obra talvez sejam os mais famosos da literatura brasileira. Afinal, quem nunca ouviu pelo menos seu começo: “Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá?” Romântico de carteirinha, a idealização do País, dos índios, e, claro, das mulheres guiaram toda sua produção. Contudo, estudos sobre sua obra apontam que ele fez ainda mais.
Maranhense e mestiço, Gonçaves Dias nasceu no dia de hoje, mas o ano era 1923. Na época em que viveu, a nação passava por tempos emblemáticos, nos quais o Brasil, mesmo independente, ainda tentava escapar do ranço da colonização portuguesa. O pai era comerciante português e em sua mãe corria sangue negro e indígena. Assim, como um fruto de seu tempo e origens foi um dos representantes mais importantes da 1ª Geração do Romantismo.
A paixão pelo Brasil era tanta que foi um ávido pesquisador das línguas indígenas e do folclore brasileiro. Teve a vida dividida entre Brasil e Portugal – onde cursou Direito em Coimbra. E lá entrou em contato com escritores portugueses. A experiência também influenciou sua obra. Foi, inclusive lá – neste caso em Portugal –, que Dias escreveu Canção do Exílio, quando estava saudoso do Brasil.
A estas terras, o poeta logo voltou e em 1847 e começou a lançar uma “triologia” de sucesso formada por Primeiros Cantos, que continha Canção do Exílio, Segundos Cantos, no ano seguinte, e em 1851 Últimos Cantos. Esta derradeira obra da série de livros de poesia trazia o poema “I-Juca-Pirama”, um dos mais famosos poemas indianistas do Romantismo Brasileiro. Considerado por muitos a obra-prima do poeta maranhense. O poema possui, “humildes”, 484 versos.
Com o autor José de Alencar, autor de O Guarani e Iracema, eles, inclusive, criaram o chamado indianismo. Nele, o índio também é idealizado e retratado como um guerreiro nobre, e um verdadeiro herói. Já o branco fica com o papel de explorador.
Ah, o amor
Como um bom representante do romantismo, o amor dos poemas de Gonçalves Dias era também idealizado, inatingível e platônico. A inspiração da maioria de seus poemas ficou também eternizada no mundo literário e se chamava: Ana Amélia Ferreira Vale. É para ela versos de Ainda Uma Vez-Adeus, por exemplo.
O poeta chegou a pedir a musa inspiradora em casamento, mas a família da moça proibiu o casamento. Depois casou-se com Olímpia da Costa. Mas a paixão rendeu versos de Ainda Uma Vez-Adeus, como:
“Tantos encantos me tinham
Tanta ilusão me afagava
De noite, quando acordava,
De dia em sonhos talvez!
Tudo isso agora onde para?
Onde a ilusão dos meus sonhos?
Tantos projetos risonhos,
Tudo esse engano desfez!”
Talvez, Gonçalves Dias amou Ana Amélia durante toda vida que não durou muito. Em 1862 voltou para Portugal para um tratamento de saúde. Lá ficou por dois anos e, quando voltava à sua terra dos sabiás, o navio no qual estava naufragou. Salvaram-se todos, exceto o poeta, que foi esquecido, agonizando em seu leito, e se afogou.
Por sua relevância na literatura nacional, Gonçalves Dias é patrono da cadeira nº 15 da Academia Brasileira de Letras. Em sua carreira também escreveu peças de teatro. Algumas até fugiam do nacionalismo, que o consagrou. Um exemplo era a peça “Leonor de Mendonça”, que se passava na Itália no século XVI e “Boabdil”, uma montagem sobre o último rei árabe de Granada. Mas é fato que estas obras na época não foram bem recebidas, e sequer encenadas.