Cotidiano

Pedófilos estão sequestrando menores exilados na Europa

Diário da Manhã

Publicado em 25 de outubro de 2015 às 13:16 | Atualizado há 10 anos

BERLIM — Na Alemanha, na Suécia, na Holanda ou na Itália, milhares de crianças refugiadas desapareceram nos últimos anos sem deixar vestígios. E a polícia suspeita que elas tenham sido sequestradas por redes de pedófilos, possivelmente para a prostituição. ONGs revelam que muitos dos menores que chegam à Europa desacompanhados deixam os abrigos por conta própria, na tentativa de procurar outros centros. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), por sua vez, denunciou o abusos de mulheres e crianças por parte dos traficantes e declarou que vai realizar uma investigação exaustiva sobre os casos.

Crianças a partir de 9 anos são enviadas sozinhas pelos pais para a Europa na esperança de que, pelo menos elas, tenham acesso a uma vida em segurança. Só a Alemanha recebeu este ano 30 mil menores desacompanhados. Na Itália, mais de cinco mil dos 13 mil menores que chegaram sozinhos ao país até junho, depois da perigosa viagem de barco pelo Mediterrâneo, desapareceram. De acordo com o Acnur, crianças estariam até mantendo relações sexuais, classificadas como “de sobrevivência” para pagar os contrabandistas pela viagem. A agência da ONU pediu que todas as autoridades europeias adotem medidas para garantir a proteção de mulheres e meninas, incluindo a criação de instalações seguras para esse grupo.

“Essas crianças estão sozinhas e acabam fazendo isso porque não têm mais dinheiro, porque foram roubadas ou porque não têm a proteção de um responsável. E as mulheres que viajam sozinhas estão na mesma situação, principalmente à noite, quando permanecem em áreas inseguras ou em centros de abrigo que não possuem áreas separadas para elas”, diz, em comunicado.

SUMIDO EM ABRIGOS

Na Alemanha, o caso mais recente de desaparecimento registrado levanta a suspeita de exploração sexual infantil. Mohamed Januzi, de 4 anos, de uma família da Bósnia, desapareceu do centro de registro de refugiados de Berlim no inicio do mês, embora acompanhado dos pais e das duas irmãs. Ele distanciou-se apenas alguns metros para brincar no parque próximo, quando foi abordado por um homem.

Mohamed foi filmado pelas câmaras de vigilância quando deixou o lugar segurando na mão do homem, que tinha na outra mão um animal de pelúcia, usado provavelmente para atrair a criança. Os dois caminharam em direção à estação de metrô Turmstrasse. Depois disso, não foram mais vistos.

As circunstâncias do desaparecimento permanecem misteriosas, mas, segundo os investigadores, o fato de o garoto ter sido levado por um homem de aparência europeia, de 35 a 50 anos, os leva a crer tratar-se de um delito sexual. Uma comissão especial que investiga delitos do tipo foi criada no Departamento Criminal Federal (BKA, na sigla em alemão). Ao avaliar o material da câmara de vigilância dos últimos meses, o grupo chegou à conclusão que o desconhecido observava o centro de registro de refugiados desde julho, em busca de possíveis vítimas.

Para Michael Ruscheinsky, da ONG Moabit Ajuda (Moabit é o nome do bairro onde fica o campo de refugiados Lageso), a tragédia dos fugitivos continua mesmo depois de julgarem estar em porto seguro. Na tentativa de conseguir registro e com isso a ajuda básica, os migrantes que chegam a Berlim ficam dias à espera, muitas vezes dormem na rua, e são, sobretudo as crianças, alvo fácil para delinquentes, sejam agressores da extrema-direita ou pedófilos.

— Mesmo as crianças acompanhadas pelos pais correm risco. Cansados e amargurados pelo sofrimento durante a fuga, muitos não conseguem mais prestar a atenção em suas crianças — disse Ruscheinsky.

Segundo o BKA, em toda a Alemanha, 300 crianças refugiadas estão registradas como desaparecidas. Números mais dramáticos foram registrados na Suécia: desde 2010, 1.500 crianças refugiadas que chegaram ao país desacompanhadas sumiram. De acordo com Agneta Sjolund, da administração municipal de Trelleberg, pequena cidade do Sul do país, mil das 1.900 crianças que viviam em abrigos de refugiados para menores na cidade desapareceram.

Na Holanda, a ONG Centro de Combate ao Tráfico de Crianças registrou diversos episódios, sendo o mais conhecido o da adolescente Fatema Alkasem, que sumiu no dia 31 de agosto. O caso da jovem repercutiu bastante no país porque a adolescente, grávida, de apenas 14 anos, já tinha sido uma vez vítima, da própria família, que a obrigou a casar. Esta é, pelo menos, a suposição do ministro da Imigração, Klaas Dijkhoff.

 


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