Cotidiano

Preocupação de longo prazo

Redação DM

Publicado em 9 de agosto de 2018 às 01:27 | Atualizado há 7 anos

A guerra comercial anuncia­da entre Estados Unidos e Chi­na pode representar um benefí­cio imediato para o agronegócio brasileiro, com o aumento das nossas vendas de grãos para o mercado chinês. Mas, no mé­dio e no longo prazo, essa dis­puta pode não ser tão benéfi­ca em função da constatação de que a China vem trabalhando para diminuir sua dependência da compra de soja, por exemplo. Atualmente ela só produz 15% de sua necessidade, mas vem in­vestindo em projetos de dessa­linização de água e em energia solar para ampliar sua produ­ção. Além disso, há a expectativa de que, no longo prazo, a espe­rada desaceleração econômica mundial acabe por afetar o cres­cimento de renda chinês, o que reduziria sua demanda.

Essa foi uma das avaliações do painel sobre Comércio Ex­terior: Limites e Oportunida­des do Congresso Brasileiro do Agronegócio. “Sabemos que o consumo de proteína é função do aumento de sua renda per capital. Na China, há ainda um grande potencial de expansão que pode ser comprometido por um provável declínio econômi­co mundial causado pela dis­puta comercial”, afirmou Nel­son Ferreira, sócio da Mckinsey.

Outro risco a ser enfrenta­do pelo Brasil, na disputa entre China e Estados Unidos, é fal­tar derivados de soja no mer­cado doméstico para abastecer a indústria de proteína animal. “Como a China importa 70% do mercado mundial de soja e tem potencial para sugar toda a pro­dução sul-americana. Isso pode criar um problema para a indús­tria de carne, pois se vendermos toda nossa soja para China, tal­vez teremos de importar deriva­dos de soja para atender a de­manda interna”, avaliou Paulo Sousa, diretor da Cargill, que ain­da ressaltou a importância da competitividade para o agrone­gócio brasileiro.

“Eu diria que competitivida­de está ligada a previsibilidade. Tanto nas fronteiras nacionais, quanto globalmente, estamos com muita imprevisibilidade, o que atrapalha nossa competivi­dade”, concluiu Sousa. Mauro Al­berton, diretor de Marketing da Bayer, corrobora com a opinião do diretor da Cargill, ao afirmar que a imprevisibilidade atrapa­lha as questões globais, afetan­do muito a agricultura brasilei­ra. “Essa imprevisibilidade das regras do jogo pode trazer uma paralisação que seria muito pre­judicial, interferindo em investi­mentos globais”. afirmou.

Edwini Kessie, diretor de Agri­cultura e Commodities da OMC (Organização Mundial do Co­mércio), que também partici­pou do painel, defende a previ­sibilidade que, a seu ver, provêm do multilateralismo. “Precisamos voltar ao básico nas relações co­merciais entre as nações”, disse. “Partilho do otimismo do diretor da OMC, pois o multilateralismo é inevitável no mundo das regras comerciais”, analisou o embaixa­dor Alexandre Parola, represen­tante permanente do Brasil na OMC. A seu ver, sempre foi mui­to difícil avançar nas questões agrícolas. “Além disso, há ainda a discussão sobre problemas fi­tossanitários. Isso deve estar nos debates futuros”, finalizou.

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