Cotidiano

Prepara Trans

Redação

Publicado em 19 de abril de 2016 às 03:10 | Atualizado há 4 meses

O Prepara Trans é um projeto de formação gratuito cujo foco é o acesso à universidade. A iniciativa partiu de cerca de dez goianos, estudantes de cursos variados, e a aula inaugural, chamada de “Babado inaugural”, será hoje (19), às 19h, no Mini Auditório da Faculdade de Educação da UFG, no Setor Universitário.

Segundo os organizadores e coordenadores do projeto, em entrevista do Diário da Manhã, a prioridade é que pessoas transexuais, trangêneras e travestis sejam aprovadas em seleções como ENEM e outros exames de admissão pra instituições de ensino superiores, além de oferecer um espaço que as inclua e as acolha. “Mas também receberemos estudantes lésbicas, bissexuais, gays ou cuja sexualidade e/ou gênero tenha sido motivo de exclusão do ensino formal. Acreditamos que a formação superior é um direito dos nossos grupos tanto quanto de qualquer outro, mas reconhecemos que, principalmente para transexuais, transgêneras e travestis, é um caminho muito mais difícil e que tende a fazer desistir”, explicam os organizadores.

Origem

Segundo o grupo que coordena o projeto, a ideia surgiu em outubro de 2015, “quando seis coletivos de diversidade sexual e de gênero que atuam principalmente nas universidades em Goiás (Fluidez, Transe: grupo de estudos feministas, Triângulo Rosa, UniDiverCidade, As libertárias e Grupo de Diversidade das Casas de Estudantes Universitárias) realizaram o XIII ENUDSG (Encontro Nacional em Universidades sobre Diversidade Sexual e de Gênero) no Campus Samambaia, na UFG”.

Após o evento da UFG, algumas pessoas da Comissão Organizadora se propuseram (inspiradas em projetos de outros cursinhos semelhantes pelo Brasil, como o PreparaNem, no Rio de Janeiro, que foi iniciativa de Indianara Siqueira) a iniciar um projeto de formação similar. “Essas e novas pessoas foram se empolgando com a proposta e começamos a nos reunir em janeiro para desenhar o projeto. Ao todo, hoje, existem oito projetos que conhecemos com intenções parecidas com as nossas”, relatam os organizadores.

Quem coordena

Como o projeto é um parceria e não há nenhuma linha hierárquica como diretoria e coordenadoria, os idealizadores optaram por falar, nesta entrevista, em conjunto sobre o projeto e não citar nomes dos que fazem parte da Comissão Organizadora, pois nenhum deles têm intenção de se promover em decorrência do projeto.

Eles explicam que são um grupo de aproximadamente 10 pessoas, estudantes de cursos variados que têm em comum o interesse pela causa. “Dentro do preparatório, construímos o projeto sempre em conjunto, então todas as pessoas colaboram de todas as formas possíveis, dentro de suas disponibilidades não há uma função específica pra ninguém Educantes (docentes) interessados em ministrar aulas, oficinas e monitorias podem participar da organização tanto quanto o grupo que teve a iniciativa de começar o projeto”, destacam.

Divulgação

A divulgação foi feita por meio de cartazes, panfletagem, e também pessoalmente com travestis e pessoas trans que a comissão organizadora já conhecia e outras que trabalham na região metropolitana de Goiânia. “Hoje, a divulgação já conseguiu alcançar um pouco mais a comunidade periférica, que é nosso público alvo, considerando as menores condições de acesso à educação, pensando principalmente nas pessoas que saíram da escola e que trabalham tanto e ganham tão pouco que nem conseguem investir em educação”, explicam os organizadores, que criaram uma página no Facebook para divulgar os formulários onlines para estudantes e para os docentes, que eles chamam de “educantes”, além de concentrar as informações acerca do projeto; divulgar as atividades que estão sendo realizadas e ajuda a manter o contato com todas as pessoas interessadas em estudar e colaborar com o projeto.

“Pensamos em atrair as pessoas oferecendo um espaço onde se sintam confortáveis e bem recebidas, além de considerarmos que seja importante que essas pessoas venham desde já ocupar a universidade pública. No entanto, uma travesti que está participando do projeto nos chamou a atenção sobre esse caminho só de vinda. Então estamos pensando nesse trânsito, procurando maneiras de obter recursos que nos possibilite oferecer futuramente alimentação e auxílio com transporte para que incentive cada vez mais estas pessoas a participarem de um espaço que é seu por direito”, argumentam os organizadores.

Os alunos

O projeto obedece à algumas prioridades. Em primeiro lugar, pretende atender a travestis e pessoas transexuais e transgêneras. “Mas também há a possibilidade de lésbicas, bissexuais, gays e demais indivíduos e grupos que enfrentam problemas na educação formal por conta de preconceito e violência motivados por sexualidade e gênero participarem”, contam.

Atualmente, há cerca de 40 pessoas inscritas como estudantes. “Pedimos que os interessados se inscrevam para sabermos da demanda, pois iniciaremos a turma com 25 pessoas e, dessa maneira, adotaremos critérios como suas localizações em regiões mais afastadas”, solicita a comissão organizadora.

Sem fins lucrativos

O projeto não tem nenhum fim lucrativo. Em decorrência disso, os organizadores estão enfrentando dificuldades para pagar pelo trabalho dos profissionais e outras estudantes que se dispuseram voluntariamente a trabalhar nos cinco eixos do projeto. “Por isso também convidamos mais gente a vir trabalhar conosco e estaremos sempre recebendo apoio. Adotamos os eixos do MEC e do ENEM como orientação inicial para nos organizarmos: Natureza (química, biologia e física, mas também ecologia); Humanidades (história, sociologia, filosofia, geografia, mas também política, antropologia, direito, pedagogia); Matemática; e Linguagens (Língua Portuguesa, línguas estrangeiras, dança, artes, educação física, literatura). Acrescentamos um eixo pensando na importância da leitura e escrita no ENEM: Leitura e produção textual no qual pessoas de todos os eixos podem contribuir”, explicam eles.

A comissão organizadora está planejando formas de sustentação do projeto por meio de financiamentos coletivos e campanhas de doações. “Sigam nossa página para saber como contribuir. Nossa intenção futura é conseguir recursos para que estudantes com dificuldades de locomoção, alimentação e compra de materiais possam participar sem essas dificuldades. Hoje, no “Babado Inaugural” quem já quiser trazer cadernos de uma matéria, lápis, canetas de todas as cores, borracha, giz de cera, resma de papel tamanho A4 e A3, giz de quadro, canetões (marcadores permanentes), revistas usadas, rolos de papel pardo, cola branca, blocos de papel colorido. livros de literatura e demais materiais que possam ser usados ou que costumam ser usados nas escolas, seria maravilhoso”.

Voluntariado

Os organizadores explicam que pessoas de todas as formações podem contribuir com o projeto. Algumas cuidam dos aspectos de organização, outras vão trabalhar mais diretamente com estudantes nos encontros dos eixos. Tem quem esteja participando mais presencialmente e frequentemente e quem contribua esporadicamente.

“Queremos criar uma ‘Comissão de Comunicação e Arte’ também. Um grupo ou algo assim com artistas de várias experiências, quem entende de projeto gráfico, identidade visual, comunicação nas redes sociais, diagramação, etc. Um grupo de gente a postos pra que possamos encaminhar demandas e cada uma possa ir fazendo os trabalhos conforme a disponibilidade”, explicam.

Babado inaugural

O projeto terá início no “Babado Inaugural” às 19h de hoje no Mini Auditório da Faculdade de Educação da UFG, perto do Banco do Brasil, entre a Faculdade de Direito e de Medicina, no setor Universitário.

“Chamamos algumas pessoas pra gente conversar sobre gênero e acesso à universidade. Essa é uma pauta antiga que muitas companheiras feministas lutaram para fazer avançar, mas que ainda não chegou onde tem de chegar. E nesse dia, atenção, faremos a confirmação das matrículas. Importante ir se já fez a inscrição e quem não fez também”, explicam.

Para o os próximos meses, o planejamento inclui rodas de conversa em locais em que há concentração de pessoas com o perfil do projeto e que saíram da escola formal, além de um ensaio fotográfico em algum lugar da cidade.

As aulas

A partir do dia 25 de abril, todas as noites, de 19h às 21h, em uma sala da Faculdade de Educação, encontros por eixo serão realizados. “Cada noite será um encontro de um dos eixos. Às quartas já sabemos que serão do eixo de “Leitura e produção textual”. E mudamos os nomes. Trata-se de mudanças inclusive de nomes. Aula é uma palavra carregada de uma relação que contribuiu para o afastamento de muita gente dos espaços formais. Aula também implica considerar estudantes como desprovidos de conhecimento, uma concepção bancária de formação”, argumentam eles.

As mudanças em comparação ao ensino formal vão além da mudança de nomes. “Nem aulas nem disciplinas fragmentárias demais. Cada eixo terá diferentes educantes, outra mudança de nome para professor ou docente, que tradicionalmente receberam formação especialista em disciplinas. Por exemplo: no de Humanidades poderá ter mais de um educante que teve formação inicial em História e trabalhará conjuntamente aos e às demais, como Antropologia, os vários conteúdos do eixo. Então os conteúdos vão sendo trabalhados por mais de uma pessoa ao longo dos encontros”, destacam.

Durante a organização do ENUDSG, cadastramos um projeto de extensão na UFG através de Luciene Dias (Coordenadoria de Ações Afirmativas – CAAF), que chama “Universidade, Diversidade Sexual e de Gênero”. O Prepara Trans continua dentro desse projeto de extensão. É importante mencionar que temos esse apoio institucional que facilita algumas coisas como a disponibilidade do uso da sala da Faculdade de Educação da UFG.

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