Presídio já pedia socorro
Redação DM
Publicado em 5 de janeiro de 2018 às 01:31 | Atualizado há 6 meses
O Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) divulgou um ofício de setembro de 2017 em que a juíza Wanessa Rezende Fuso Brom, da 2ª Vara de Execução Penal, solicitava ao superintendente executivo de Administração Penitenciária, tenente-coronel Newton Nery de Castilho, novas alas para a Colônia Agroindustrial, no complexo prisional de Aparecida de Goiânia. No documento, a magistrada argumentava que o local, que comporta os presos do regime semiaberto, estava superlotado e, por isso, não era possível separar os detentos bloqueados dos regulares. Além disso, uma vistoria realizada em março de 2015 já apontava as péssimas condições do local.
Na ocasião, o TJGO considerou “precaríssima” as condições de instalação sanitária no local, com esgoto a céu aberto, “gambiarra em todos os alojamentos para funcionar os equipamentos elétricos tais como panela elétrica, mergulhão, TV, rádio” e outros, bem como vazamentos nas torneiras dos alojamentos. Dos 16 quesitos que compõem a avaliação da estrutura física da Colônia, nenhum deles foi classificado como “bom”, três foram considerados “regulares” e todo o resto “ruim”. Naquela vistoria também foi constatado que não havia médicos disponíveis, embora haja um posto de saúde na unidade.
Na inspeção realizada na última quarta-feira, 3, a pedido da presidente do Superior Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, o TJGO confirmou a permanência dos antigos problemas: acomodações precárias, falta de água, energia elétrica e demora nos processos de decisão dos benefícios dos detentos, que podem receber o direito de trabalhar, estudar e desenvolver outras atividades fora do presídio. No parecer, que foi encaminhado à ministra no último dia 3, o TJGO afirma que o ocorrido na última segunda-feira é resultado de várias situações, entre elas a falta de prevenção por parte da administração penitenciária. O Tribunal disse ainda que os cortes orçamentários dificultaram a atuação do órgão nos últimos anos.
Durante a visita, que contou com membros do Judiciário e da Segurança Pública, presos foram ouvidos sobre o ocorrido. Alguns não confirmaram a existência de facções criminosas, outros sim, mas sem nomeá-las. De acordo com os depoimentos, as alas B e C disputam o controle da cadeia. Eles contam também que o ataque começou com pedras, depois tiros e por fim a invasão. Os homens relatam que a maioria fugiu por medo de morrer. Segundo a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), boa parte dos fugitivos pretende voltar para cumprir a pena. Os presos também denunciam a demora para avaliação dos processos e a falta de assistência. Dois dos que deram depoimento durante a vistoria alegaram não possuir advogado nem receber assistência da defensoria pública.
O último relatório de inspeção, referente ao ano de 2015, contabilizou em Goiás 7.909 vagas e 15.905 presos, ou seja, praticamente o dobro de detentos em relação ao número de vagas. 95% dos presidiários são homens e 48% estão aguardando julgamento.
Ministra Cármen Lúcia visita Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia
A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministra Cármen Lúcia, faz, na próxima segunda-feira, 8, uma inspeção na Colônia Agroindustrial do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, onde nove detentos morreram e 14 ficaram feridos após uma rebelião no primeiro dia do ano. A ministra já tem uma programação de visitas a presídios em janeiro. Na semana que vem, ela tem agenda no Paraná e Acre, mas, devido à crise no presídio de Aparecida de Goiânia, Cármen Lúcia quer alterar os planos. O objetivo é inspecionar a condição dos presos e verificar presídios que estejam com superlotação.
Na tarde de ontem, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Sergipe convidou a ministra para fazer uma visita “urgente” ao Complexo Penitenciário Dr. Manoel Carvalho Neto, denominado Copencam, no município de São Cristóvão. O pedido também pode alterar a agenda da presidente do STF. O motim em Aparecida de Goiânia levou a ministra a determinar, na terça-feira, 2, que o Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) enviasse ao conselho, em 48 horas, relatório com informações sobre as condições do presídio.