Professores estressados
Diário da Manhã
Publicado em 20 de dezembro de 2017 às 01:19 | Atualizado há 4 meses
Em uma pesquisa sobre estresse realizada com docentes do ensino superior, em Goiânia, o professor e pesquisador Maurício Valadão, membro do International Stress Management Association (ISMA-BR), identificou que 74,5% dos professores de ensino superior se encontram em níveis elevados de estresse.
De acordo com ele, são vários os fatores capazes de provocar o estresse. No caso dos docentes, ele constatou, a instabilidade constante na carga horária semestral, o excesso de trabalho acumulado, a cobrança por ser um profissional multitarefas e a eterna insegurança ao final de cada semestre em não saber se permanecerá empregado são alguns dos fatores mais relatados.
“Quanto mais a pessoa se expõe a estressores como estes, mais o nível de cortisol (hormônio responsável pelo estresse) aumenta. Esse resultado é bastante preocupante, pois as fontes de tensão excessiva interferem no estado psico-fisiológico do profissional, desenvolvendo nervosismo e oscilação de humor, que ocasionam queda de produtividade do docente”, explica.
O pesquisador acrescenta que em realidades como essa se os níveis elevados de cortisol continuarem, o estresse pode evoluir para a exaustão e para o desenvolvimento da síndrome de Burnout – um esgotamento físico e mental que pode levar à depressão, dependência química e até ao suicídio. “As instituições ainda não se deram conta de que quanto maior o investimento para evitar o estresse, menos faltas, afastamentos, doenças e demissões ocorrerão entre os professores”, avalia.
Doutorando em psicologia Maurício Valadão expõe que esta nova configuração em curso, excesso de trabalho e cobrança por profissional multitarefas, acaba gerando professores com altos níveis de estresse. “De fato, não há como ocultar ou negar o fato de que o estresse é um problema na nossa sociedade e que impacta a saúde dos trabalhadores. O INSS relatou recentemente que até 2030 as doenças de transtorno psicológico serão as primeiras no ranking de afastamentos e auxílios doença”, revela.
Para a professora e especialista em gestão educacional Marlene Moura não é de hoje que os professores universitários sofrem com a vulnerabilidade da área. “Com tantas instituições no mercado, cursos de graduação se transformaram em mercadoria e acabaram seguindo regras mercantis adotadas em outros segmentos. Isso exigiu que os professores se transformassem também em vendedores dentro e fora de sala de aula. Além disso, os alunos também sofrem consequências, pois tudo acaba virando uma questão de briga por preço, deixando a qualidade em segundo plano”, adverte.
A especialista aponta que para sobreviver hoje os professores têm que se reinventar. Para tal se matriculam em cursos de teatro, coach, contratam consultores de imagem, assessores de imprensa e alguns até partem para as mídias sociais e se tornam youtubers; tudo para atender às novas exigências do mercado, principalmente dos alunos, reitores e diretores das instituições de ensino superior.
“Hoje já não basta ser apenas professor, temos que ser atores, psicólogos, vendedores, enfim, temos que nos tornar verdadeiros mágicos se quisermos continuar empregados na instituição”, afirma a professora.
O pesquisador Maurício Valadão conclui observando que em outros termos, quando a demanda de trabalho é superior à capacidade dos docentes, e a instituição não oferece o suficiente para exercer um bom trabalho, o desgaste físico e mental gera uma diminuição da produtividade, gerando uma situação de total descontrole crônico para estes profissionais.
“O que nas minhas pesquisas eu sempre proponho é que as instituições criem ações preventivas. Neste sentido, todos ganham, já que na educação superior, as condições de trabalho dos docentes, as pressões sofridas, o atual contexto e as relações de emprego apontam para situações altamente estressantes”, encerra o especialista em estresse, Maurício Valadão.
As instituições ainda não se deram conta de que quanto maior o investimento para evitar o estresse, menos faltas, afastamentos, doenças e demissões ocorrerão entre os professores”
Pesquisador Maurício Valadão, do ISMA-BR