Cotidiano

Racismo em concurso

Diário da Manhã

Publicado em 18 de janeiro de 2018 às 02:44 | Atualizado há 7 anos

Os mais de 580 concurseiros que concorrem a uma das cinco vagas para fiscal de postura do municí­pio de Morrinhos, em prova reali­zada no último domingo (14), se perguntam, perplexos, as razões da organização de um concurso, após perguntar “Qual a origem do racis­mo?” e apresentar opções de respos­tas como: “Negro parado é suspeito, correndo é ladrão, voando é urubu” e “Negro só tem de gente os dentes”.

“Me senti humilhado por ser o único negro em sala, algumas pes­soas olhavam para mim quan­do chegavam na questão rindo ou abaixavam a cabeça desaprovan­do aquilo”, desabafa um candida­to. Outro candidato ainda mais preocupado com a colocação de­sumana, a qual se sentiu inserido, entrou com processo contra a em­presa responsável pelo concurso e contra a Prefeitura de Morrinhos.

Mas essa não foi a única barreira que ele teve que enfrentar, ao procu­rar a Justiça o candidato afirma ter encontrado dificuldade para fazer a denúncia. “Foi muito difícil denun­ciar, você chega num órgão público e as pessoas acham isso normal. O Ministério Público da minha cida­de me disse que não viu crime al­gum nisso”, lamentou.

Em outro trecho do depoimen­to, divulgado pela imprensa, o can­didato fala de seus sentimentos mais íntimos. “Me senti realmen­te num estado vexatório, você es­tar sentado em uma sala fazendo um concurso com outras pessoas e uma pergunta desconexa e fora do contexto, me senti insultado e decidi tomar providências”.

Com intenção de provocar um debate supostamente “contra o ra­cismo” o representante da empresa, responsável pelo concurso, apresen­tou um discurso em que diz que a questão não teve intuito de ser ofen­siva, mas sim de provocar uma dis­cussão sobre o tema. “A ideia que a banca teve ao colocar esta questão foi de que isto chamava a discussão do preconceito, da origem do pre­conceito. Eu quero defender com toda nossa garra, com toda nossa força, que jamais teve o intuito de ofender ninguém”, garante Apolô­nio Nunes de Oliveira.

A prefeitura de Morrinhos afir­mou não compactuar com nenhu­ma forma de discriminação, seja di­reta ou indireta. A mesma ressaltou lamentar o ocorrido e se solidariza com as vítimas de racismo explí­cito, evidenciados com o conteú­do pejorativo das alternativas das questão de nº10 da prova de conhe­cimentos gerais, e afirmaram en­tender que se mostraram inoportu­nas, infelizes e inconvenientes.

De acordo com o delegado res­ponsável pelo caso, Fabiano Jaco­melis, tanto os responsáveis pela prova quanto da prefeitura de Mor­rinhos serão intimados para prestar esclarecimento. “As pessoas podem ser inserida na lei de racismo e res­ponder pelas penas existentes na legislação”, afirmou. [Reportagem escrita com ajuda de informações levantadas pelo portal Curta Mais]

 

NOTA DE ESCLARECIMENTO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE MORRINHOS

“A Prefeitura Municipal de Morrinhos, por meio da Comissão Organizadora do Concurso Público 01/2017, vem a público esclarecer que não elaborou a prova que contém a polêmica questão nº 10. Prova aplicada no dia 14 de janeiro último, de conhecimentos gerais sobre: “Qual a origem do racismo?”. A administração do certame Público 01/2017, está sob responsabilidade da Empresa Privada: CONSULPAM – Consultoria Público-Privada, a quem coube a formulação das questões e aplicação das provas.

Importante também registrar ainda que os agentes públicos municipais não poderiam ter conhecimento prévio do conteúdo da prova, até por questão de lisura e segurança do concurso, motivo pelo qual não houve como analisar previamente a polêmica assertiva, antes que se tornasse pública.

Inobstante isso, o Município de Morrinhos, através da prefeitura vem lamentar o ocorrido e se solidarizar com as pessoas que se sentiram ofendidas com o conteúdo pejorativo das alternativas à questão de nº10 da prova de conhecimentos gerais, e entendemos que se mostraram inoportunas, infelizes e inconvenientes.

A prefeitura de Morrinhos não compactua com nenhuma forma de discriminação, seja direta e indireta, por motivos de cor, raça, gênero, preferência sexual etc. Procuramos sim, promover concretamente políticas públicas de combate aos abusos e ao racismo.

A prefeitura de Morrinhos irá diligenciar junto à banca do concurso, visando tomar providências para que medidas sejam tomadas imediatamente em relação ao tema contido na questão nº 10, da prova do concurso público 01/2017”.


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