Cotidiano

Região norte cheira mal

Redação

Publicado em 24 de outubro de 2015 às 00:14 | Atualizado há 4 meses

 

A região Norte de Goiânia luta contra o odor podre que toma conta de inúmeros bairros desde que foi instalada no local uma grande multinacional da produção de alimentos. E a cada protesto, a certeza de que nem poder público nem iniciativa privada pretendem resolver a situação.

A manifestação contra a fedorentina, que aconteceu ontem, 23/10, às 9h30, contou com a presença de moradores, membros da União Estadual dos Estudantes (UEG), professores da Universidade Federal de Goiás (UFG) e presidentes de organizações não governamentais ambientalistas. Os protestantes colocaram máscaras, nariz de palhaço e promoveram  apitaço contra o forte odor. Com as altas temperaturas, o problema ambiental tem agravado a situação dos moradores, que se envergonham de receber até mesmo visitas em suas casas.

O problema é recorrente, pois desde 2008 o mau cheiro tem incomodado a comunidade. Neste mesmo ano, a Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA) multou em R$ 10 milhões a fábrica de molhos de tomate e maionese, que na época pertencia a Unilever.

Equipes de fiscalização e monitoramento  constataram que a empresa estaria operando acima de sua capacidade, e, por isso, o sistema de tratamento de efluentes não seria suficiente para dar conta de todos os resíduos gerados.

Sete anos depois, o forte odor exalado pela indústria Cargill (grupo que assumiu a produção pós-Unilever) continua impedindo os cidadãos de se alimentarem e dormirem, pois a inalação resulta em náuseas, dores de cabeça e outros problemas de saúde. “Além de ninguém suportar esse cheiro horrível, não tenho nem coragem de chamar amigos para vir aqui em casa, é constrangedor”, afirma Túlio Silva, morador do bairro Bom Jesus.

Há quatro anos, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) também multou a Cargill em R$ 5 milhões pelas mesmas irregularidades constatadas pela Amma e Câmara Municipal de Goiânia. Na época, o vereador Djalma Araújo (Rede) promoveu audiência pública para buscar os responsáveis pelo problema e a solução por parte das autoridades. No entanto, nada foi feito para coibir a ação danosa da empresa tanto contra o meio ambiente quanto contra a saúde pública.

São mais de 30 bairros atingidos, em um raio de cinco quilômetros. O jogo de empurra começa quando se constata que não só o complexo de indústria da Cargill é um ponto de poluição, mas a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) também. “Já tem tantos anos que as autoridades falam que vão resolver o problema e nada acontece. Já cansei de ter que fechar a casa inteira para ter que fazer comida e tomar remédios por causa do mau cheiro. Acredito que a ETE também colabora pra piorar a situação, pois quando o vento está no sentido contrário à ela piora tudo”, declara Edmar Sousa.

Para agravar ainda mais o problema, a questão ambiental não foi levada em consideração na instalação da megaindústria. A construção da empresa está a poucas centenas de metros do Rio Meia Ponte e em meio a uma área verde ainda abundante. “É um absurdo o poder econômico não respeitar a natureza. Parece que em vez de progredirmos estamos retrocedendo. A empresa leva poluição e fedor para onde deveria haver assepsia e zelo com o solo e com os recursos hídricos”, afirma Goiano Sidney, da ONG Ways.

O vereador Djalma Araújo juntamente com o vereador Paulo Magalhães (SDD) promoverão na próxima quinta-feira, 29/10, na Câmara Municipal de Goiânia, audiência pública para discutir o mau cheiro. Serão convidados para compor à mesa representantes da empresa Cargill, Ministério Público (MP), Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA), Delegacia do Meio Ambiente (DEMA) e presidentes das ONG´s ambientalistas.

Segundo o vereador Djalma, a população não pode ficar à mercê dos poderosos industriais. “Já requeri imediatas e enérgicas providências no que se refere à fiscalização e autuação da empresa Cargill. E também já protocolei representação no Ministério Público”.

Em resposta ao protesto, a empresa Cargill informou que marcará reunião com os representantes do movimento no início da próxima semana.


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