Rei do Ecstasy explica costume dos usuários brasileiros
Redação DM
Publicado em 25 de janeiro de 2017 às 16:58 | Atualizado há 5 meses
O ex-traficante Gabriel Godoy, chamado por muitos no passado como o “rei do ecstasy”, lança livro no final do mês em que revela os bastidores do consumo da “droga do amor” nas festas e baladas pelo país. Considerado até então o maior traficante desta espécie de drogas no país, o que choca é sua proximidade com a vida de qualquer pessoa que encontramos nas ruas e jamais imaginamos que seja um criminoso. Godoy poderia ser seu amigo, filho, parente. Em nada lembra um traficante de cocaína das bocas cariocas. Seu trabalho era completamente diferente do sistema do narcotráfico das favelas.
Apesar desta aproximação com a vida da classe média, “Baladas Proibidas” (Ed. Record, 210 págs.) mostrará como o ex-traficante comandava a venda até mesmo dentro do presídio. Sua produção e distribuição passava pelo eixo Rio-São Paulo, Brasília, Goiânia e vários estados do Nordeste.
O ex-criminoso relata sua aproximação com as elites do país, quase sempre receptivas para a droga mais ‘juvenil’: “Estava vendo de perto a vida íntima daquelas pessoas que torravam dinheiro loucamente, sem se preocupar com o amanhã (…) A verdade é que, se não dependessem de mim para conseguir bala, aquela galera não me daria nem boa-noite — muito menos me chamaria para uma festa particular”.
Toda a história de Godoy foi relatada para o jornalista Bolívar Torres, que revela o que ocorre por dentro das raves e a chegada da “bala”, apelido da droga, nas periferias. Mesmo preso, dentro da penitenciária, Godoy comandava o tráfico da droga das elites.
Em um dos trechos da publicação, o ex-traficante relata como e quanto ganhava com o comércio de tóxico: “De dança em dança, de boca em boca, de olhar em olhar a notícia foi se espalhando e os playboys começaram a comprar. Só naquela noite vendi 150 balas numa média de 50 reais cada e ainda criei amizade com aquele grupo que estava ao meu lado. Curtimos a balada juntos e depois eles ainda me chamaram para um after fechado, na casa onde estavam hospedados”.
Em outro trecho, Gabriel Godoy relata o que pensava das “pessoas instruídas” que compravam a droga dele: “Achava incrível que pessoas tão instruídas não tivessem nenhuma informação sobre o que consumiam. Compravam drogas sem saber nada a respeito delas. Naqueles últimos meses, eu havia aprendido muita coisa sobre o produto que eu vendia, e respondi a todas as perguntas que eles me fizeram. As dúvidas eram básicas: como a droga é feita? Por que tem várias cores e nomes? Onde você pega? É perigoso? Eu não podia dizer tudo que eles queriam; não ia dar a receita, mas precisava pelo menos oferecer a eles uma amostra da história real”.
Em outro trecho do livro o autor retrata as espécies de compradores que encontrava, quase sempre endinheirados, e como eles encaravam ele: “(…) eu estava lá, como uma criança espiando adultos pela fechadura. Olhava ao redor e tentava não boiar com as perguntas que me faziam: ‘Já foi à Europa?’, ‘Já investiu na bolsa?’, ‘O que está achando da cotação do dólar?’ Falavam dos points badalados de Miami, dos melhores lugares para comprar uma mansão na praia, ou da Hyundai Tucson que uma das meninas havia acabado de ganhar do pai de aniversário de 18 anos. Eu ia respondendo do jeito que dava: ‘Europa eu pretendo ir em breve’, ‘Sem saco para a bolsa, prefiro investir em propriedades’, ‘Não gosto de dirigir’ — era assim, olho no olho, aprendendo na marra, colocando minhas opiniões, tentando não soar como um ignorante do interior. Minha escola era a da rua, e não sei se era a onda da bala ou a ilusão de estar assumindo outra vida, mas naquela noite tive certeza de que eles me respeitavam. Não me viam como um traficante qualquer, mas como um cara fácil de falar, um amigo que acompanharia o ritmo daquela galera”.