Cotidiano

Spinner: febre entre crianças e adolescentes

Diário da Manhã

Publicado em 18 de junho de 2017 às 01:37 | Atualizado há 4 meses

  • Oferecido como terapêutico, vendedores dizem que ele pode ajudar a aliviar o estresse e reduzir o TDAH. Será mesmo?

O brinquedo que caiu nas graças de crianças, jovens e adultos nas duas últimas semanas promete benefícios para a saúde, diminuir a ansiedade, o estresse, estresse pós traumático e até mesmo reduzir o déficit de atenção. A ideia é que a distração de rolar o Spinner ajuda a ocupar partes do cérebro que estariam distraídas com outros pensamentos, o que ajuda a se concentrar ou liberar energia de alguma forma, ou que ele funcione como um ritual, um ato que as pessoas repetem para se acalmar.

Custa a partir de R$ 8 e você pode encontrá-los em diversas lojinhas por aí. É verdade que é o brinquedo do momento, tem um custo muito baixo e uma simplicidade de dominá-lo. Além de poder ser feito de maneira caseira, é facilmente encontrado. Lojas como a Amazon ou Aliexpress esgotam rapidamente os estoques.

Trata-se de um apetrecho de plástico, com alguns rolamentos ligados ao brinquedo, e que podem ficar girando nos dedos por cerca de 2 a 4 minutos. São vendidos, normalmente, spinners de 3 pontas, mas há outras opções como o de 2 ou 4 pontas. Modelos coloridos, lisos, com estampas e os mais modernos chegam a possuir leds que acendem quando são girados.

A primeira patente para o brinquedo foi criada em 1993 pela engenheira Catherine Hetting. No projeto inicial, a engenheira – que sofria de uma doença que enfraquece os músculos – desejava criar um brinquedo que ela pudesse utilizar com a filha. Em outras palavras, o brinquedo original foi criado para ser divertido e não relaxante.

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Apesar de muitos sites e vendedores assumirem que o brinquedo é terapéutico, vendê-lo como uma alternativa terapêutica é fraude. “É preciso pesquisar muito mais. É muito preocupante a tendência da sociedade de vender qualquer coisa como terapêutica sem evidências científicas”, argumenta a psiquiatra infantil Beatriz Martinez.

Em entrevista ao jornal “El País”, o neuropsicólogo Álvaro Bilbao explicou como o brinquedo pode ajudar. “Conseguir fazer com que uma criança com déficit de atenção se concentre em algo que se move é simples, mas não produtivo porque não tem repercussão no longo prazo. O spinner não regula o sistema atencional, que é o que realmente se precisa trabalhar nesses casos”, argumenta Álvaro Bilbao, neuropsicólogo e autor do livro “O Cérebro da Criança explicado aos Pais”.

Segundo o especialista, o que realmente vem a funcionar no caso de crianças com TDAH é trabalhar o autocontrole. “A conquista é conseguir que a criança se concentre sozinha, sem ajuda de um dispositivo hipnótico. Uma boa forma de incentivar isso em um caso de déficit de atenção é estimulá-la para que aguente o máximo possível tranquila e concentrada, fazendo a lição de casa, por exemplo, sem a ajuda de nenhum impulso externo, e que vá superando sua marca pessoal.”

A patente original do brinquedo foi abandonada em 2005 quando a criadora, Catherine Hetting, foi questionada pelos direitos autorais após deixar de renovar o pagamento. Ou seja, as empresas podem vender o brinquedo sem dar nada a ela. Mesmo décadas depois de sua invenção, milhares deles são vendidos todos os dias. No entanto, Hettinger, que agora poderia ser milionária, não vive torturada por sua má sorte. “Pelo contrário. Estou muito emocionada por ver que algo que criei tem tanto sucesso. Minha principal motivação nunca foi ganhar dinheiro com os spinners”, declarou a norte-americana ao The Guardian.

Além da simplicidade e das promessas e possibilidades de ser um brinquedo terapêutico, os hand spinners tem um fator ainda maior para ter se popularizado tanto. Aprender e também seguir hábitos de grupos é bastante útil para animais sociais. Afinal, os humanos incorporam tradições e hábitos mesmo quando eles não têm um motivo claro. Conformidade social é o nome dado para esse seguimento das tendências, a imitação é simplesmente para fazer parte de um grupo social.

Laura, estudante de 13 anos, conta que há um mês todos os seus colegas na escola têm o dispositivo, apesar de não ser permitido brincar com os spinners durante a aula: “Só podemos usá-los no recreio. É divertido porque é muito fácil de usar. Todo mundo pode fazer com que se mexam. Girar o spinner relaxa”.


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