Suposto beneficiário de R$ 6 mi, Ronan Maria Pinto é condenado por corrupção
Diário da Manhã
Publicado em 25 de novembro de 2015 às 02:15 | Atualizado há 9 anosSÃO PAULO – Apontado como beneficiário de R$ 6 milhões por supostamente ter chantageado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2004, o empresário Ronan Maria Pinto foi condenado nesta segunda-feira a 10 anos e quatro meses de prisão por ter participado de um esquema de corrupção no setor de transportes na prefeitura de Santo André entre 1999 e 2001. Esse mesmo esquema foi utilizado pelo Ministério Público de São Paulo (MP) como uma das justificativas para o assassinato do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, morto em 2002.
Além de Ronan, duas pessoas próximas a Celso Daniel foram condenadas a 15 anos e seis meses de prisão por corrupção neste mesmo processo, que corre na 1ª Vara Criminal de Santo André. Uma delas é o empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, acusado pelo MP de ser o mandante da morte do ex-prefeito petista. Também foi considerado culpado o ex-secretário de Santo André, Klinger Luiz de Oliveira Souza. Os três réus negaram participação no esquema de corrupção ao longo do processo. Eles poderão recorrer em liberdade da condenação.
A decisão da juíza Maria Lucinda da Costa afirma que Ronan, Klinger e Sombra montaram um esquema de corrupção para cobrar propina de empresários do setor de transportes da cidade. Um dos empresários que denunciou o esquema afirma ter tido que pagar R$ 2 milhões em dois anos. O denunciante afirmou que foi coagido a pagar R$ 40 mil por mês para não sofrer “severas restrições administrativas” relacionadas aos contratos que sua viação mantinha com a prefeitura.
Klinger e Sombra teriam usado de seus cargos na administração municipal para garantir que os mal pagadores fossem punidos, enquanto caberia a Ronan arrecadar os valores com os empresários. Afirma a denúncia que a prefeitura chegou a autorizar a criação de uma linha de ônibus, concedida a outra viação, sem licitação, apenas para concorrer com o empresário que deixou de pagar a mensalidade.
Ronan é dono de empresas do setor de transporte e coleta de lixo no ABC paulista, além do jornal “Diário do Grande ABC”. Ao se referir a Ronan, a juíza Maria Lucinda o descreve como “empresário bem sucedido, formador de opinião”, mas que transgrediu “regra básica de conduta”, mostrando “personalidade dissimulada”. Segundo ela, “são pessoas como Ronan que, não obstante devessem servir de exemplo e tivessem plena consciência do ilícito que praticavam, alimentam o pensamento coletivo que admite o ilícito como algo natural, o que faz desmoronar a imagem do Brasil como país sério.”
A juíza também encontrou semelhanças entre o crime de corrupção que analisou, ocorrido há 14 anos, e os esquemas que ainda existem no país: “Anote-se, mais, que o esquema de corrupção ora analisado era tão estruturado, que se ramificou. Encontrou no pensamento coletivo corrompido terreno fértil e se alastrou inclusive para a esfera federal”.
O nome de Ronan reapareceu no noticiário político nesta quarta-feira, após operação da Lava-Jato que levou à prisão o pecuarista José Carlos Bumlai. A investigação apura um empréstimo de R$ 12 milhões feito por Bumlai no banco Schaim em setembro de 2004, cujo destino ainda não ficou claro para a Polícia Federal. Enquanto alguns delatores dizem que o dinheiro seria utilizado para pagar dívidas do PT, há uma versão de que parte dele tenha sido destinado a Ronan.
Em setembro de 2012, o publicitário Marcos Valério, condenado a 40 anos de prisão no esquema mensalão, contou à Procuradoria-Geral da República (PGR) que o ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira o havia procurado em 2004 pedindo ajuda porque Lula e os ex-ministros José Dirceu e Gilberto Carvalho estavam sendo chantageados por Ronan. O empresário do ABC teria pedido R$ 6 milhões em uma reunião com Pereira e Valério para comprar um jornal. Segundo Valério, que tentava um acordo de delação premiada com a Justiça, Pereira disse que o valor havia sido obtido por Bumlai junto ao Schahim e repassado ao empresário.
Ronan nega qualquer envolvimento na narrativa apresentada por Valério. Em comunicado à imprensa enviado nesta terça-feira, Ronan afirmou que aguarda com “total tranquilidade as investigações que vêm sendo feitas no âmbito da Operação Lava Jato”. Diz ele: “Não conheço José Carlos Bumlai; não conheço Marcos Valério. Não tenho ou tive qualquer relação com esses fatos”.