Tocando na rua
Diário da Manhã
Publicado em 27 de outubro de 2015 às 01:31 | Atualizado há 4 mesesNo movimentado cruzamento da Rua 3 com a avenida Anhanguera, em frente ao Banana Shopping, um grupo de músicos disputa espaço. São dez trompistas da orquestra jovem do instituto Basileu França, que fazem da rua um palco. Eles pedem contribuição aos motoristas para realizar uma viagem para o Encontro Brasileiro de Trompistas, que vai acontecer na Bahia em setembro de 2016.
Assim que o sinal fecha, o professor do grupo, Filipe Rocha, 28, dá o sinal para os músicos ocuparem a faixa de pedestre. “Um, dois, três”, começam a tocar a introdução de The final countdow, da banda Europe. O repertório vai de Tonico e Tinoco a trilha sonora do filme Piratas do Caribe, sempre músicas populares para conquistar o público.
Uma menina fica responsável por recolher o dinheiro entre os automóveis, um cartaz explica “Ajude um aluno a conquistar seu instrumento” e panfletos detalham o projeto dos músicos. Conforme o tempo do sinal vermelho se esgota, os trompistas caminham na direção dos carros para que todos ouçam.
Filipe explica que além da viagem, é preciso comprar novos instrumentos e garantir a manutenção dos antigos. “O que estava ao meu alcance eu consegui fazer do meu próprio bolso, mas agora não são só um, dois, três alunos, são mais de 15”, conta. A maioria dos jovens músicos começaram em bandas marciais da escola e suas famílias não tem condição financeira para arcar com os custos dos instrumentos.
Em oito apresentações foi arrecadado R$ 1050, que será convertido em bocais. O preço médio de um bocal de trompa é R$ 300.
Os músicos
A estudante Andressa Soares, 17, ganhou uma trompa prateada de um morador de São Paulo, que se interessou pela causa. Ela começou a tocar na banda marcial de seu colégio, no conjunto habitacional Madre Germana, até que conheceu Filipe em um concurso de bandas. Seus pais apoiam sua escolha de seguir a carreira musical. “Se é isso que eu quero, eles vão me apoiar”, diz.
Larissa Pereira, 16, também começou no Madre Germana, aos 13 anos, quando se interessou pela música ao assistir o desfile de comemoração do aniversário do bairro. Ela se lembra da primeira vez que tocou para um público, um dueto em um recital. “O que me motiva são esses momentos que a gente tem. É muito marcante, a emoção é muito grande”.
Apesar do sonho, os pais de Larissa se preocupam com a questão financeira. “Vai chegando uma hora que eles vão cansando, né? Muito tempo tocando e não consegue nada. Aí não arruma um emprego para trabalhar. Mas a gente está lutando para conseguir”, diz.
Luíz Miguel, 18, está mais confiante desde que passou na Orquestra Sinfônica, onde toca hoje em dia. “Eu estudava e não via resultado, comecei a desanimar”, relembra a época em que quase desistiu da música. “Mas meu professor me ajudou e me incentivou”. Ele é filho de músico, seu pai toca trombone e foi o primeiro a incentivá-lo a entrar para a área, aos 12 anos. Miguel é um dos músicos que vai viajar para o encontro de trompistas em 2016. “Estamos bem ansiosos. Tem um tempo ainda para lá, mas estamos trabalhando a todo vapor”.
Saiba Mais
Interessado em ajudar o grupo? Professor Filipe Rocha: (62) 8265-7866