Um bosque ameaçado
Diário da Manhã
Publicado em 13 de novembro de 2016 às 01:17 | Atualizado há 4 mesesUm dos pontos turísticos de Goiânia, o Bosque dos Buritis, no Setor Oeste, está à mercê do abandono. É raro ver alguém da prefeitura trabalhando no local, que há alguns anos vem sofrendo com a degradação da vegetação e seus espaços.
O local, que recebe visitas de amantes da natureza, estudantes e famílias nos fins de semana, está ameaçado pelo desmatamento e descuido.
O vice-presidente da Associação dos Protetores do Bosque dos Buritis (APBB), José Carlos Marqui, afirma que o parque sofre grave ameaça de desmatamento e não recebe arborização e atenção especial do poder público. “Já perdemos 30 árvores só este ano, sendo que só esta semana cinco árvores caíram. É preciso reflorestar o bosque, que está esquecido pelos órgãos municipais”, critica.
A paisagem do interior do bosque é composta por grande massas arbóreas espalhadas por toda área entremeadas por clareias onde estão instalados os lagos e onde foram construídas as edificações. Mas, segundo o vice-presidente da APBB, Jóse Carlos Marqui, o bosque há seis anos não recebe nenhum tipo de intervenção. “É necessário verificar qual espécie de árvore precisa replantar. O último reflorestamento do bosque foi realizado em 2008, de lá para cá nada mais foi feito”, salienta.
Reflorestamento em falta
Com o objetivo de promover a recuperação das áreas alteradas pelas atividades humanas, proteger nascentes do córrego Buritis, recuperar e preservar o ambiente, no que diz respeito ao solo, vegetação e água, além de facilitar e promover a inserção da cultura, projetos artísticos, recreação e turismo, a presidente da APBB, Maria Abadia Silva, admite que a associação já fez várias interferências para proteger o bosque e que nos últimos anos a vegetação da área vem sofrendo drasticamente. “O bosque é o coração da cidade. Mas falta manutenção, zelo, limpeza, reflorestamento e segurança. Temos a pior situação do momento”, pontua.
Em 2008, tendo como base o Plano de Manejo, o Bosque dos Buritis passou por uma última intervenção proposta gestão municipal. Era propósito reaver a área, salvaguardando os aspectos originais e integrando variadas atividades culturais e integradas ao meio ambiente. Com o passar do tempo, o bosque foi perdendo suas características primordiais.
A característica do Bosque dos Buritis está na visão romântica do parque enquanto “natureza intocada”, uma vez que proporciona espaço coletivo de natureza e cultura ao mesmo tempo. Além da arborização, o bosque possui na área interna o Centro Livre de Artes, onde são oferecidos cursos de música, dança e artes. Também funciona no espaço o Museu de Artes de Goiânia (MAC), que mantém exposições temporárias de fotografia, desenho, literatura, pintura e escultura.
O bosque possuía uma área de 40 hectares, restando hoje apenas 12 hectares. De acordo com o plano de manejo do Parque a descaracterização da área iniciou-se com a ocupação da cidade, quando ocorreram doações de áreas pelo governo estadual. O parque, então, teve uma redução de 70% para dar lugar aos colégios Externato São José e Dom Bosco, Tribunal de Justiça, Assembleia Legislativa, comércios e outros empreendimentos.
De acordo com o diretor do MAC, Antônio da Mata, é preciso recuperar as tradições originais do bosque que estão de definhando. “É preciso verificar as espécies de árvores que o bosque vem perdendo ao longo dos anos e fazer o reflorestamento. O bosque está perdendo a sua originalidade e isso é lamentável”, pontua.
De modo geral, o bosque precisa de uma requalificação arquitetônica e adequações ambientais com o intuito de revalorização do ponto turístico da cidade, a recomposição florística e paisagística, a reforma dos caminhos internos, das trilhas interpretativas e dos serviços de segurança e monitoramento. “Em 1994, o Decreto n° 2.109 de 13 de setembro efetivou o tombamento do Bosque dos Buritis com o intuito de preservá-lo, impedindo novos desmatamentos, evitando que empreendimentos fossem construídos, etc. O local foi quase todo desmatado e hoje possui uma densa vegetação ameaçada”, afirma o vice-presidente da APBB, José Carlos Marqui.
No decorrer dos anos, a vegetação vem sofrendo modificações com perdas consideráveis de seu território original, pela degradação do espaço verdade e eliminação de espécies vegetais existentes e animais silvestres. Essas interferências, segundo a presidente da APBB, Maria Abadia Silva, indicam o descaso do poder público e da população da região quanto às funções potenciais do local, bem como a falta de tratamento paisagístico, zelo e vigilância que poderiam oferecer ao goianiense um parque indescritível.
Insegurança
A ausência de segurança na área interna do bosque também é prejudicial. A população teme a onda de crimes que vem sendo registrada com muita frequência no espaço verde. Antônio da Mata afirma que desde 2014 o Bosque dos Buritis não conta com a vigilância da Guarda Civil Metropolitana. “Tiraram os guardas civis do bosque para colocá-los nas ruas, cuidando da população, com função de polícia. Enquanto isso, patrimônios públicos estão à mercê da bandidagem. O que a gente vê pelo bosque são assaltos, assédios, drogas e outras coisas ilícitas”, salienta.
Por conta dos constantes registros de assaltos e assédios no parque, a diretora do Centro Livre de Artes, Débora Cordeiro, afirma que turmas com aulas à noite estão sendo fechadas. “Estamos cancelando os cursos a noite por conta da insegurança no bosque. Na última semana, bandidos serraram as grandes de uma das salas e roubaram um computador. O Centro Livre de Artes foi idealizado para funcionar a noite, mas com a falta da guarda civil metropolitana aqui dentro está difícil”.