Cotidiano

Uma morte inexplicável

Diário da Manhã

Publicado em 25 de fevereiro de 2018 às 02:18 | Atualizado há 4 meses

  •  Polícia Civil de Goiás segue várias linhas de investigação e não descarta induzimento ao suicídio provocado por jogo eletrônico semelhante ao Baleia azul
  • Delegado supervisor pretende analisar inquéritos de suicídios que envolvem adolescentes na segunda-feira e buscar solução junto ao delegado-geral da Polícia Civil. Polícia goiana já constatou no ano passado que adolescentes foram molestados em jogos perversos

 

A morte do adolescente Ga­briel Carrijo Cunha Câ­mara, 13, na última quar­ta-feira, pegou de surpresa amigos e familiares. A principal suspeita é de que ele teria se jogado do prédio da avó, no setor Nova Suíça.

Aluno de uma escola de classe média/alta de Goiânia localizada no Jardim América, o adolescente teve um dia absolutamente normal em sua turma no dia em que morreu.

Gabriel completou 13 anos no dia 21 de janeiro, era bem relacio­nado com os amigos e adultos que o cercavam. Conforme relatos de colegas da unidade de ensino, ele jogou bola até mais tarde na última quarta-feira, 21. E mostrou o inte­resse típico de adolescentes em re­lação a aspectos como competitivi­dade e virilidade. Entrava na jogada e comemorava cada momento da partida. Gabriel cursava o sétimo ano “A” na tradicional escola.

Não apresentava quadro de de­pressão, segundo apurado com colegas de escola e vizinhos. O que se segue, entretanto, é um re­lato de violência invisível e psi­cológica que nas últimas 48 ho­ras têm atormentado familiares e amigos de escola, além de pais e mães de alunos da mesma faixa etária. Uma violência que pode ser real ou imaginária–e neste último caso, mediada por boatos.

Nos grupos de WhatsApp, cir­cula a informação de que Gabriel participava de um jogo (Brodin´s do PS4) online. E tal jogo seria o motivador do comportamento do adolescente. A reportagem apu­rou que o inquérito em aberto ava­lia de fato a gameficação da morte do garoto como um dos motivos, o que daria uma reviravolta no caso, descartando a aparente tese con­solidada de suicídio comum.

O DM conversou com dois pais de alunos da escola e o que se per­cebe é um desespero com o fato, re­latos de outros possíveis suicídios na Capital, envolvimento de ‘hac­kers’, induzimentos a suicídio e au­sência de dados concretos quanto às investigações iniciadas.

Os relatos dos pais trazem in­formações de fora da escola, refe­rentes a uma reunião realizada por Cristiano Câmara, pai de Gabriel, na quinta-feira, logo após a morte do filho. Na reunião o pai admite a suspeita de que Gabriel tenha se envolvido com a prática deste jogo e que no dia seguinte teria ido em um velório de outro adolescente da capital para falar com seus pais.

No local, ele percebeu que o re­lato é semelhante ao de Gabriel. Ou seja, existe, sim, um jogo cuja evolução das etapas repete o que já vem sendo dito a respeito do jogo da baleia azul: o ‘gamer’ tem que se mutilar e matar.

No caso de Gabriel e de outro jo­vem que teria se enforcado, o ritual conta com a quebra do celular ou tablet. No dia seguinte ao suposto suicídio, os estudantes foram todos de preto e colocaram nos armários da unidade mensagens de amor ao colega. No mesmo dia, uma equipe de psicólogos entrou em sala e con­versou com as crianças e adoles­centes. Enquanto confortavam as crianças, eles recolhiam informa­ções sobre o estado emocional dos alunos e ajudavam na apuração.

A unidade de ensino é conside­rada uma das escolas mais caras da Capital. Não tem ensino médio. Concentra os melhores alunos que disputam poucos anos depois as principais vagas de universidades nacionais e estrangeiras. Os profes­sores são presentes nas salas e exis­te um período integral na unidade.

Mesmo com a vigilância é possí­vel escapar o humor de um dos alu­nos. Eles são como outros quaisquer e ainda na quinta-feira comenta­vam que “Gabriel comeu uma bar­ra de cereal antes de morrer”. A par­tir daí proliferaram outros boatos que podem dificultar a investigação. As linhas de investigação podem ir além do simples suicídio.

Um áudio inicial chamou aten­ção para o que pode estar acon­tecendo: “Meninas, mudando de assunto pra um assunto bem sé­rio…A gente recebeu um convite do Cristiano, que é pai do Gabriel, que suicidou na quarta-feira, pra fazer uma reunião aqui no condomínio às 19h porque tem um alerta muito importante para os pais. E pelo que eu tô escutando aqui tem a ver real­mente com os jogos eletrônicos. Entendeu? Parece que teve grupos e tudo mais que influencia. E não sei se vocês sabem ontem também suicidou outro menino. Está sendo velado hoje. Então vocês que são pais da maioria de menino…tem muita internet…pais que jamais so­nhavam com isso. Acho que fica o alerta. Se alguém tiver interesse, a reunião é às 19h. Me avisem que eu coloco o nome na portaria. Eu sei que hoje ainda mais é difícil, com essa chuva. Depois passo a infor­mação pra vocês.”

OUTRO CASO

Dentro da escola, na quin­ta e sexta-feira, os estudantes já relatavam que Gabriel era mais um de outros dois episódios que ocorreram nos últimos dias. “Eu não vi, mas meu amigo de sala disse que é uma onda. Ocorreu outro suicídio no prédio dele”, diz um dos adolescentes que estuda na escola de Gabriel.

Conforme os estudantes, a hipó­tese de depressão como motivadora da morte está descartada. Nenhum dos adolescentes que conheceram a vítima acredita na hipótese.

 

Supervisor da polícia pede pais mais presentes nas vidas dos filhos

O vereador e delegado Eduardo Prado orienta os pais a acompanha­rem de perto toda a movimentação dos filhos, principalmente crianças e adolescentes. Ele é delegado su­pervisor da Polícia Civil e pretende procurar amanhã o delegado-geral da Polícia Civil, André Fernandes, em busca de informações sobre a relação entre os episódios.

“De antemão, como tenho ex­periência neste relacionamento com as escolas, já que realizo pa­lestras, chamo atenção dos pais: acompanhem o que seus filhos es­tão fazendo na internet, dentro dos seus celulares. Tenham cuidado e atenção”, diz o delegado.

Prado acompanha o desenro­lar das investigações desde quin­ta-feira, quando também passou a receber informações de pais em seu aplicativo de comunicação. Para o delegado, é ainda cedo fe­char qualquer consideração dos casos, o que apenas o delegado responsável poderá fazer ao ter­minar o inquérito policial.

BALEIA AZUL

Em 2017, a delegada Paula Meotti, da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), concluiu inquérito policial em que admite existirem pelo menos três jovens de Goiânia vitimados pelo jogo Baleia Azul.

Uma das crianças e outra ado­lescente chegaram a fazer cortes no corpo motivadas pelas regras do jogo perverso. Na época, com idade entre 11 e 12 anos, as víti­mas chegaram a ouvir músicas determinadas e assistir filmes de terror estabelecidos pelos admi­nistradores da partida.

A delegada alerta para que os pais supervisionem os conteú­dos assistidos pelos filhos e pro­curem ajuda quando encontra­rem suspeitas de situações fora do comum.

 

 

Menino deu “adeus” em grupo de Whatsapp

Moradores afirmaram para a polícia que o adolescente Ga­briel Câmara era aparentemen­te normal e não apresentava ne­nhuma suspeita de que estivesse atormentado.

Conforme a Polícia Militar, du­rante a ocorrência, a tia de Gabriel recebeu uma mensagem dele no grupo de WhatsApp da família, em que o menino dava “adeus” para os parentes.

Gabriel saiu da escola a tarde e teria ido para o apartamento da avó, onde cortou a tela de prote­ção com tesoura. Em seguida, te­ria se jogado do 26° andar.

Em uma das imagens do gru­po de WhatsApp, Gabriel dá um “Tchau gente” às 13h42. Seguem Nathalia, André e outros integran­tes da turma com interrogações frente a mensagem.

Durante o enterro da criança, Gyovana Nascimento, a funcio­nária da casa dos avós do meni­no, retratou Gabriel: “Um menino super alegre, superativo, amigo de todo mundo e que não demons­trava nenhuma característica de depressão”.

Segundo foi apurado pela re­portagem do DM, não havia nin­guém no apartamento na hora da morte. Apesar dos avós esta­rem viajando para o Rio de Janei­ro, o menino tinha acesso às cha­ves do local.

Em nota de falecimento, a es­cola afirmou que as aulas de idio­ma de outros conhecidos centros de línguas da cidade, que ocorrem nas dependência, estavam adia­das e que a unidade está pronta para dar suporte emocional aos jovens. As aulas do integral e cen­tro ativo retornam apenas no iní­cio desta semana.

 

MENSAGEM QUE CIRCULA NOS GRUPOS DE WHATSAPP

“Meninas boa noite

Acabei de sair da reunião aqui no condomínio

Esses acontecimentos foram pesados demais e eu estou bem transtornada então me perdoem se ficar confuso

O pai do Gabriel contextua­lizou tudo à partir do fato (do suicidio)

Ele começou falando q o Ga­briel era uma criança perfeita bondosa amorosa e que todos (adultos e crianças) se davam muito bem com ele

Ele disse que o Gabriel não havia dado nenhuma pista de nada antes do fato, apenas que na véspera ele estava nervoso

O pai do Gabriel (Cristia­no) ficou sabendo dos outros casos de suicido dessa sema­na (outras duas crianças) e re­cebeu a ligação de um amigo para q fosse no velório de uma das crianças

Conversou com o pai dessa criança e percebeu um padrão comum nos dois casos com va­rias coincidências

O filho quebrou o celular e a outra criança um computador antes de tirarem a própria vida

As crianças participavam de um jogo online (ele disse que não sabia o nome mas havia um gru­po de Whattsapp relacionado a esse jogo chamado brodin do PS4 verdadeiro

As crianças postavam mensa­gens lá e algumas faziam men­ção a desafios e etapas a serem cumpridas

Haviam ainda algumas pos­tagens de outras redes (insta etc) que poderiam estar relacionadas

O fato é q há suspeitas de que essas crianças foram “estimula­das” a tomar essa atitude com possíveis ameaças online

O celular e computador es­tão nas mãos da polícia p con­duzirem a investigação

Ele alertou muito sobre peri­gos de jogos online e ficou no ar a suspeita de que pessoas perversas por trás desse jogos poderiam ter hackeado essas crianças p con­duzirem essas ameaças de for­ma mais eficaz e levarem essas crianças a fazer o que fizeram

Um hacker consegue inva­dir seu celular e seu computa­dor e te filmar ou te gravar por exemplo e isso pode ter aconte­cido de forma que essas crian­ças ficaram sendo “monitora­das” e ameaçadas

Pediu p rezássemos muito pela família dele e pediu p que ficás­semos muito atentos a redes so­ciais e jogos online”


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