Cotidiano

Velhinhos de quatro patas

Redação DM

Publicado em 12 de março de 2017 às 13:41 | Atualizado há 7 meses

Para um cão, você não precisa de carrões, de grandes casas ou roupas de marca. Símbolos de status não significavam nada para ele. Um pedaço de madeira já está ótimo. Um cachorro não se importa se você é rico ou pobre, inteligente ou idiota, esperto ou burro. Um cão não julga os outros por sua cor, credo ou classe, mas por quem são por dentro. Dê seu coração a ele, e ele lhe dará o dele. Até aqui esse é o texto final do filme “Marley & Eu”. Mesmo aqueles mais durões se emocionam com a história do cachorro que se tornou membro da família e morre de velhice. Morrer faz parte do ciclo da vida. Para qualquer ser vivo.

Eles latem, soltam pelos, rasgam a sacola de lixo, fazem xixi em lugares impróprios, mas possuem a capacidade de transformar um dia triste em alegre, pois suas lambidas e felicidade declarada a cada balanço do rabo possuem poderes transformadores. Mas, infelizmente, são seres que morrem. E não podemos evitar. No entanto, podemos prolongar a vida dos amigos caninos com determinados cuidados.

Segundo o veterinário José Carlos, que atua na área há 28 anos, os cães que conseguem chegar à velhice precisam de cuidados extras. Para o “médico” dos animais, os sintomas dos cachorros idosos são semelhantes ao dos humanos: pelos brancos, dentes e ossos frágeis.

José Carlos diz que uma alimentação balanceada com ração e vacinas em dia colaboram para a longevidade do animal e afirma que os restos de comida como forma de alimentação não é ideal. “Osso de galinha, arroz e todos os restos da refeição eram oferecidos aos cachorros, mas esse é um paradigma que foi rompido. O correto é que desde pequeno o cachorro seja acostumado a comer ração de acordo com a faixa etária”, explica.

 

 

 

Existem inúmeros questionamentos referentes ao tempo de vida dos cães, um deles diz que animais sem raça, os famosos vira-latas, vivem mais. E José Carlos afirma que cachorros que são descendentes de raças múltiplas possuem maior resistência que os de raça pura. “Os cachorros que nascem a partir de diferentes raças adquirem um pouco mais de resistência, mas os cuidados são fatores que prevalecem na hora de garantir maior tempo de vida”, diz o veterinário.

Ano passado, na Austrália, morreu o cachorro mais velho do mundo. Maggie tinha 30 anos.  O Guiness Book reconhece Bluey, raça boiadeiro australiano, que morreu em 1939 aos 29 anos.  Logo, a longevidade da raça, não raro, é superada pela qualidade de vida oferecida ao animal.

 

O veterinário José Carlos revela que o cão mais velho que frequentou sua clínica tinha 20 anos. E alerta que a idade máxima do animal é relativa. “A alimentação é fator importante, as vacinas também, mas o tratamento dado ao animal e o amor prevalecem”, explica o veterinário. No entanto, as raças pequenas, normalmente, vivem mais que as maiores: “Já é provado cientificamente que animais de porte menor vivem mais e os maiores vivem no máximo 16 anos. Mas claro que possuem raças pequenas que são mais propensas a doenças o que diminui o tempo de vida”.

 

Aos 17 anos, Dino e o filho “homem” da família

Catarata nos olhos, audição perdida, dentes caindo e dificuldade para se locomover. Essa é a atual situação do Dino, um pinscher de 17 anos que é parte da família da administradora Greciely de Oliveira, 27. A família não o considera como um mero bicho de estimação, mas um ente querido que enche os olhos de lágrimas de todos ao contarem suas peripécias de juventude e sobre sua velhice.

Dino chegou com um mês de idade na casa da família Oliveira. O pai de Greciely, José Nunes, deu de presente o animal nas comemorações de 10 anos. As regras impostas como dormir do lado de fora e fazer xixi no jornal foram abandonadas quando a administradora, então criança, ficou com dó de deixar o pequeno cachorro na área da casa. “Ele era tão pequeno. Não tive coragem de deixá-lo do lado de fora. Coloquei-o no quarto de costura da minha mãe”, diz a “irmã” Greciely.

O pai da administradora nunca aceitou o cachorro dormir dentro de casa. Então, com um ano de idade, Dino foi colocado para dormir do lado de fora. Mas, acostumado no quarto de costura, Dino saía da sua cama, corria até a janela de José Nunes e chorava na madrugada. Após ficar dois dias sem comer e preocupar toda a família, Dino foi colocado para dentro. E em definitivo.

Por mais que o pai de Greciely tentasse ser rígido com o cachorro, Dino o cativou. “Eu chegava do meu trabalho e ele não saía de perto de mim. Era só abrir a porta do carro que ele pulava para dentro e eu tinha que dar uma volta com ele. Qualquer pessoa que fosse me cumprimentar dentro de casa, Dino já começava latir e ameaçava morder”, lembra José Nunes.

Dino coleciona travessuras: rasgava as sacolas de lixo, sapatos, chinelas e fazia xixi em todos os cantos da casa. Segundo Greciely, o portão da casa foi trocado cinco vezes. “Ele fazia tanto xixi no portão que enferrujava e virava um buraco”, conta. A mãe de Greciely, Maria Saldanha, diz que o cachorro se tornou o filho caçula e com todas as manhas possíveis. “Como ele não comia direito quando era pequeno acostumamos a dar na boca e sentar perto dele até comer tudo. Até hoje, para ele comer, alguém da família tem que ficar próximo”, explica.

CARNE DE COELHO

Solteiro, Dino nunca teve uma namorada. E após retirar um tumor benigno nas costas, o cão foi castrado. Ele fez sua primeira limpeza nos dentes, aos 14 anos. Depois da cirurgia, Dino deu uma alergia que custou caro à família. “A nutricionista indicou uma alimentação com carne de coelho. Na época era R$ 50 o quilo e ele comia um por semana, além de rações especiais e shampoos específicos”, detalha Greciely.

Envelhecer não é fácil nem para os humanos nem para os cães. As mudanças acontecem e adaptar-se as novas ações é necessário. Dino já não sai correndo para o portão quando a campainha toca, pois não tem mais audição. E o fato dele não ouvir faz com que ele lata menos. Sua locomoção mais frágil não permite pular no sofá. A queda dos dentes exige uma ração mais mole e as mordidas fazem parte do passado. As trombadas nos móveis são frequentes por causa da catarata.

Giselly Saldanha, irmã de Greciely, todos os dias liga para saber do cachorro. Ela diz que é rotina perguntar se todos estão bem – inclusive o Dino. “Como ele está mais frágil devido à idade, fico preocupada. Ele tem uma importância inexplicável para nossa família”, diz. Giselly lembra que em todas as viagens que faziam Dino era levado. “Nunca deixamos ele em casa ou com alguém quando viajávamos. Ele sempre amou andar de carro e se comportava muito bem. Agora, infelizmente, a veterinária orientou não levá-lo mais por causa da baixa imunidade devido à idade”, explica.

A família espera que Dino viva por muitos anos. E quer, acima de tudo, que este tempo de vida seja aproveitado ao máximo, com muito amor, carinho, conforto, saúde e bem estar. “Nós fazemos de tudo para que ele sofra menos com os problemas da velhice. Afinal, todos nós iremos envelhecer e precisaremos de cuidados. Nós gastamos muito com ele, mas o amamos demais. Eu nem me lembro das coisas da vida sem o Dino. São 17 anos cuidando do meu filho de quatro patas”, relata Grecy.

 

 

 

[box title=”Os 16 anos de Bob”]

Sem raça conhecida, Bob foi salvo das ruas por Maria Ferreira, na época uma idosa. Conhecida no Setor João Braz, em Goiânia, por seu amor e cuidado com os animais, Maria faleceu há oito anos e Bob ficou sob os cuidados do seu esposo, Sebastião Bispo, 83.

Encontrado com feridas no canto da praça próximo de onde mora, Bob foi curado com remédios naturais feitos por Maria e acostumou a comer os restos da comida dos donos misturado com ração. Nunca viu ração na vida. “Maria sempre gostou de animais. Cuidávamos de galinhas, cachorros e gatos. Lembro que Bob estava muito bravo no dia que Maria pegou ele. Mas depois que ela cuidou dele passando erva ‘santa Maria’, o cachorro só queria ficar com ela e ai de quem se aproximasse”, lembra Sebastião.

Sem luxo, Bob dorme em cima de um tapete que fica abaixo da mesa da área de Sebastião. Segundo ele, Bob ficou triste depois que Maria morreu. “Ele sempre ficava perto da Maria. Ela deixava fazer o que quisesse”, conta. Oriundos da zona rural, Sebastião não deixa Bob frequentar veterinários e pet-shops, mas duas vezes por dia Sebastião coloca comida e água para o Bob. “Acho absurdo as pessoas deixarem os bichinhos passarem fome e sede. Todos precisam de cuidados, inclusive os animais”, diz.

Apesar de Maria e Sebastião terem sido proprietários de outros cachorros, Bob é o único vivo. É mais quieto, não late muito e carinhosamente é chamado pelos familiares de “Negão”. “Ele sempre foi um cachorro mais quieto. Acredito que sofreu muito antes de pegarmos ele. Mas meus netos e bisnetos sempre fazem festa com ele, mesmo a contragosto”, diz Sebastião.

Segundo Sebastião, Bob é a resposta que cuidado e amor transformam não só a vida de pessoas como também de animais. “Bob poderia estar morto há tempos, mas o zelo da Maria com ele fez com que se curasse e ficasse bem. Agora, todos cuidam dele. Somos os dois velhinhos aqui de casa”, explica.

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