Cotidiano

Vem gente! Vem gente!

Redação DM

Publicado em 9 de janeiro de 2016 às 20:37 | Atualizado há 4 meses

Para as crianças, o ano de 2001 foi marcado por vários acontecimentos bizarros. Naquele ano, a programação matinal de desenhos animados (cujo “horário nobre” exibia o anime Dragon Ball Z) foi interrompida duas vezes: uma em virtude dos ataques aéreos ao World Trade Center em Nova Iorque e outra em razão do seqüestro do comunicador Silvio Santos, que foi feito refém em sua própria casa. Não bastassem todas essas lembranças despejadas no imaginário infantil em tão pouco tempo, aquele era também o ano em que o cenário fantástico do programa da apresentadora Xuxa Meneghel, até então considerada a rainha dos baixinhos, foi consumido pelas chamas.

No dia 11 de janeiro de 2001, as gravações do programa Xuxa Park, no estúdio F do Projac, no Rio de Janeiro, tiveram de ser interrompidas. No final da gravação, quando a apresentadora-cantora entoava a canção ‘Ilariê’, um incêndio causado por curto-circuito mostrou-se visível. Uma aeronave feita de plástico altamente inflamável, um símbolo do programa, foi rapidamente consumida pelas chamas. Quase todo o cenário era construído de material de fácil combustão, o que fez com que o pânico tomasse conta do ambiente, que abrigava cerca de 300 pessoas na hora do incêndio.

Foi ao som dos gritos “Vem gente! Vem gente!” da apresentadora, assim que se deu conta do perigo da situação, que muitas pessoas começaram a correr de medo. Ao todo se feriram cerca de 30 pessoas. Testemunhas afirmam que o pai de uma criança teria sofrido um enfarto devido ao stress da situação. Algumas crianças tiveram danos bem sérios, como a menina Thamires Velleja, que ficou com mais de 30% do corpo queimado. Marcus Vinicius Ventura também foi outra criança bastante ferida. Todo o longo tratamento dos que tiveram danos foi (e ainda é) pago pela Rede Globo.

Vítimas

O estudante Marcus Vinicius, hoje com 20 anos, deu declarações à imprensa dizendo-se decepcionado com Xuxa, que tinha prometido ser sua segunda mãe, quando na época, bem debilitado devido ao incêndio, tinha apenas 5 anos.

Na época, ela falou para a minha mãe que estava muito comovida com a nossa situação, pois morávamos no Morro da Formiga, e que seria uma segunda mãe para mim depois do acidente. Mas isso não aconteceu. Uma vez, ela foi me visitar no hospital, mas eu estava sedado. Na outra vez, ainda no hospital, eu estava acordado, ela me deu um kit com brinquedos. Logo depois, ela me ligou. Depois, nunca mais. Não tenho nenhum rancor, mas ela falou uma coisa e não cumpriu”, lamenta o estudante.

Quinze anos depois, Marcus relembra como foi todo seu processo de readaptação à sociedade após o trágico incêndio que marcou pra sempre sua vida. “As cicatrizes ficam para o resto da vida. Faço tratamento de reconstrução capilar, cirurgias até hoje. Já foram 33 cirurgias e uma neste ano. Também precisei de tratamento psicológico quando estava na escola”. Ele relembra ainda que era vítima de piadas dos colegas de classe. “Sofri vários tipos de bullying. Mas aprendi a conviver com isso. Nem era por causa das queimaduras, as pessoas zoavam porque eu usava uma malha que cobria o rosto todo. Só deixava a boca, o olho e o nariz para fora”.

Apesar de o Jornal Nacional ter exibido a única filmagem que restou do incêndio no programa Xuxa Park e da grande repercussão midiática da ocorrência em 2001, Marcus reclama do esquecimento do caso, e da pouca divulgação da situação das vítimas hoje. “Não sei se é descaso ou se não gostam de falar sobre esse assunto. Eu não fico chateado. Só acho que é bom as pessoas saberem o que aconteceu na vida das pessoas que sofreram aquele acidente. Nunca fizeram isso, nunca foram atrás para saber como estão essas famílias”.

Crianças mais feridas brincavam na roda gigante na hora do incêndio


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