Venezuela censura ‘La Reina del Sur’ por considerar ‘narconovela’
Redação DM
Publicado em 10 de novembro de 2015 às 04:05 | Atualizado há 10 anosCARACAS — A Comissão Nacional de Telecomunicações da Venezuela decidiu tirar a novela “La Reina del Sur” do ar depois de apenas três dias. Considerada a produção mais cara da emissora americana Telemundo, a série dramática que já foi exibida e bem recebida no México e na Espanha foi suspensa porque seu gênero pode ser considerado “narco novela”.
Um comunicado oficial do órgão exigiu que a Direct TV interrompesse a transmissão por considerar que “ao fazer uma análise do formato e conteúdo da série citada, se estabeleceu que ela pode se enquadrar dentro do subgênero conhecido como ‘narconovela’, concluindo-se que promove um conjunto de antivalores”.
A história de Teresa Mendoza, maior traficante da história do México, é uma adaptação do romance homônimo de Arturo Pérez-Reverte e ofusca uma realidade nacional que coloca a Venezuela como o segundo país mais perigoso do mundo em violência urbana, com quase 25 mil homicídios por ano.
Somente este ano, a Grande Caracas registrou 125 assassinatos. No dia 31 de outubro, um guarda nacional foi morto enquanto comprava carne no mercado. No dia seguinte, um detetive da polícia foi assassinado enquanto comia com sua família em um restaurante. Para Alberto Barrera Tyszka, escritor, roteirista e recente vencedor do Prêmio Tusquets pela obra “Pátria ou Morte”, a censura não faz sentido.
— Em um país onde há milhões de armas ilegais e os delinquentes lançam granadas contra a polícia, a “Reina del Sur” é como Bambi — resume.
Outros intelectuais e defensores da liberdade de expressão também protestaram contra a decisão. Para o escritor Ibsen Martínez, o veto é apenas mais um dos absurdos do governo de Nicolás Maduro.
— Os chavistas parecem crer de boa fé que, da mesma forma que “somos o que comemos”, nós nos conduzimos socialmente a partir do que vemos na televisão. Sendo assim, pouquíssimos aqui estranharam que Maduro colocasse a culpa de 200 mil mortes violentas nas últimas três décadas nos videogames de combate — conclui.