Cotidiano

Verdades e mentiras sobre depressão e suicídio

Diário da Manhã

Publicado em 22 de setembro de 2018 às 02:48 | Atualizado há 7 anos

  •  Apesar dos altos índices, a depressão ainda é uma doença estigmatizada pela população, segundo psiquiatra

 

Os paradigmas envolvendo a depressão e o risco de suicídio são muitos e, por isso, o assunto ganhou um mês de conscientização para ser ampla­mente discutido pela população, o Setembro Amarelo. O Ministério da Saúde divulgou, nesta quinta-feira, 20, novos dados sobre tentativas e óbitos por suicídio no País. Os números apontam que entre 2006 e 2017, foram registradas 106.374 mortes por suicídio no Brasil, sen­do que a taxa chegou a 5,8 por 100 mil habitantes em 2016, com a no­tificação de 11.433 óbitos por essa causa. O Brasil é o oitavo país em número absoluto de suicídios

Segundo o psiquiatra e professor do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina, José Al­berto, o suicídio, em quase 100% dos casos, está associado a uma doença mental, como a depressão. Pare ele, apesar dos altos índices de casos, a depressão ainda é estigmatizada pela população, que, desconhece, por exemplo, que a enfermidade pode apresentar uma forma resis­tente, quando não responde a pelo menos dois tipos de tratamento.

Para o Ministério da Saúde, a depressão e o suicídio é uma ques­tão de saúde pública que tem se agravado no país, principalmente porque há ainda um grande pre­conceito das pessoas. “Conversar sobre como agir nessas situações é fundamental para quebrar os mi­tos que existem hoje. A sociedade precisa estar orientada em rela­ção as modalidades de tratamen­to para que as pessoas possam ter o cuidado de acordo com a neces­sidade clínica”, explica o Coorde­nador de Saúde Mental do Minis­tério da Saúde, Quirino Cordeiro.

MENTIRAS

Muitos acreditam que a pessoa com depressão pode melhorar ape­nas com a força de vontade, o que é um mito. Conforme o psiquiatra, é possível atingir a remissão dos sin­tomas da depressão. “Para isso, é es­sencial que a pessoa que apresen­te o distúrbio procure o apoio de um profissional de saúde para fa­zer uma avaliação individualizada, começando imediatamente o trata­mento, após o diagnóstico”, orienta.

Conforme o especialista ou­tra mentira muito comum é so­bre o tratamento da depressão e da pessoa em risco de suicídio. Há quem afirma que são os mes­mos, o que é falso. O diagnóstico final da pessoa deprimida e tam­bém o risco de suicídio exige uma investigação criteriosa por parte dos profissionais de saúde, para, então, ser definido qual o proto­colo ideal em cada caso.

“O tratamento da depressão pode ser realizado com a utiliza­ção de medicamentos, psicotera­pia ou a combinação dos dois. En­tre os tipos de terapias atuais no mercado estão os antidepressivos, ansiolíticos e antipsicóticos. Espe­cificamente para o suicídio, o lítio possui evidências na prevenção em longo prazo, talvez por atuar sobre o estado de ânimo e redu­zir a impulsividade inerente a es­ses atos”, revela José Alberto.

Entretanto, ele explica, que uma parte dos pacientes com de­pressão pode não apresentar me­lhoras após o uso de pelo menos dois desses medicamentos. Nesse caso, passam a ser diagnosticados com depressão maior resistente ou depressão refratária.

Há ainda questionamentos so­bre falar ou não sobre o assunto, e que isso pode incentivar a pes­soa depressiva a cometer suicídio. Para o psiquiatra isso é totalmente uma farsa. Conversar com a pessoa que apresenta sinais de depressão pode abrir espaço para o paciente falar sobre o tema e servir como fer­ramenta de prevenção ao suicídio.

VERDADES

Já o psiquiatra garante que é ver­dade o tratamento contínuo tem impacto positivo na qualidade de vida do paciente. Conforme ele, a pessoa com depressão possui diver­sas opções de tratamento e os cui­dados adequados como uso de te­rapias médicas e acompanhamento psicológico que permite a retomada das atividades cotidianas e a remis­são completa dos sintomas.

E também é fato, de acordo com ele, que a depressão é uma das prin­cipais causas de suicídio. “Os trans­tornos do humor (depressão ou transtorno bipolar) são responsá­veis por aproximadamente 36% dos casos de suicídio. Além disso, os pa­cientes com a doença apresentam cinco vezes mais chances de come­ter o ato”, afirma o médico

José Alberto assegura que exis­tem diversos outros fatores de ris­co para o suicídio, entre eles: tenta­tivas prévias de cometê-lo, histórico familiar e genética, impulsividade, desesperança e sentimento de de­samparo, doenças clínicas não psi­quiátricas (doenças graves e sem cura, por exemplo), eventos ad­versos na infância e na adolescên­cia (como maus tratos e abusos se­xuais) e poucos vínculos sociais.

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