Cultura

100 capas de livros de autores goianos

Redação DM

Publicado em 25 de junho de 2016 às 03:06 | Atualizado há 5 meses

  •  Editada pela Kelps, obra será lançada nesta quinta-feira, 20h, em Goiânia

  •  Pesquisa durou três anos e jornalista chegou a catalogar até 800 obras

  •  Capa mais antiga é de Leodegária de Jesus. Mais nova, de Cássia Fernandes

O jornalista e escritor Iuri Rincón Godinho lança, na quinta-feira, 30 de junho, às 20h, na Casa de Cultura Altamiro de Moura Pacheco, o livro 100 Grandes Capa de Livros Goianos, editora Kelps. O autor catalogou imagens de capas de obras desde o ano de 1928. Artistas goianos como Siron Franco lapidaram registros históricos, aponta. Capistas, como Tainá Correia, produziram traços e cores singulares, informa ao Diário da Manhã. Designer, formado pelo Senac, infografista de O Popular, Eric Damasceno, ex-Diário da Manhã, de apenas 26 anos de idade, também entrou para a galeria dos notáveis com ‘O Menino que a Ditadura Matou – Luta Armada, VAR-Palmares e o desespero de uma mãe’ [2005], RD Movimento.

 

DM – Co­mo sur­gi­ram a ideia e a con­cep­ção do li­vro que se­rá pu­bli­ca­do nes­ta quin­ta-fei­ra?

Iu­ri Rin­cón Go­di­nho – Du­ran­te três anos pen­sei em um li­vro que mos­tras­se as ca­pas mais sig­ni­fi­ca­ti­vas da li­te­ra­tu­ra fei­ta em Go­i­ás ou pro­du­zi­da em ou­tros Es­ta­dos mas sob a ori­en­ta­ção dos au­to­res lo­ca­is. Sem­pre que via as ma­ra­vi­lho­sas edi­ções im­por­ta­das da Tas­chen, com ca­pas de dis­co de vi­nil, por exem­plo, acen­dia uma lu­zi­nha de que se­ria pos­sí­vel fa­zer o mes­mo por aqui. Pe­di so­cor­ro a dois gran­des co­le­ci­o­na­do­res de li­vros, Lu­iz de Aqui­no Al­ves Ne­to, da Aca­de­mia Go­i­a­na de Le­tras, e Adal­ber­to de Quei­roz. Gas­ta­mos um bom tem­po dis­cu­tin­do le­tras, for­mas, ilus­tra­ções e ten­tan­do im­pe­dir que a im­por­tân­cia dos li­vros e au­to­res sub­jul­gas­sem o ob­je­to de es­tu­do: as ca­pas. Com pa­ci­ên­cia eles atu­ra­ram meus pe­di­dos mais ma­lu­cos de edi­ções es­go­ta­das e ra­ras. Vas­cu­lha­ram es­cri­to­res e ar­tis­tas plás­ti­cos. Tra­ba­lha­mos com cer­ca de 800 tí­tu­los pa­ra che­gar­mos aos 100. Mes­mo as­sim al­guns fi­ca­ram de fo­ra mas que me­re­ci­am es­tar aqui, ca­so da pri­mei­ra edi­ção de O Pei­xe­nau­ta, de Yê­da Schmaltz, e Uma Som­bra no Fun­do do Rio, de Eli Bra­si­li­en­se. Por mais que ten­tás­se­mos e pro­cu­rás­se­mos, não en­con­tra­mos ne­nhu­ma ca­pa de am­bos com qua­li­da­de de im­pres­são.

 

DM – Co­mo era fei­ta a pro­du­ção de ca­pa em Go­i­ás? Quan­do ela co­me­çou?

Iu­ri Rin­cón Go­di­nho – Até o iní­cio da cons­tru­ção de Go­i­â­nia, em 1933, o que ha­via si­do im­pres­so in­ter­na­men­te da la­vra dos go­i­a­nos se re­su­mia na to­ta­li­da­de a li­vre­tos que os pro­pri­e­tá­rios de jor­nais fa­zi­am por con­ta pró­pria sem­pre sem vi­sar lu­cro. Nos anos 40, quan­do o en­tão pre­fei­to da no­va ca­pi­tal, Ve­ne­ran­do de Frei­tas Bor­ges, cri­ou a Bol­sa de Pu­bli­ca­ções Hu­go de Car­va­lho Ra­mos, man­da­va pa­ra fo­ra os ori­gi­nais que só en­tão vi­ra­vam exem­pla­res e vol­ta­vam a Go­i­ás. Não se tem no­tí­cia de ne­nhu­ma obra pu­bli­ca­da pe­la pri­mei­ra grá­fi­ca de Go­i­â­nia, a In­gra, de Ger­ma­no Ro­riz, que, co­mo to­dos na épo­ca, vi­via de pe­que­nos pan­fle­tos, car­tões de vi­si­tas, car­ta­zes e jor­nais – es­tes os ser­vi­ços pre­fe­ri­dos e mais ren­tá­veis pa­ra qual­quer em­pre­sa do se­tor.

 

DM – Is­so mu­dou quan­do?

Iu­ri Rin­cón Go­di­nho – Es­se ce­ná­rio só mu­da­ria em 1968, quan­do os ir­mãos Taylor e Jo­sé Ori­en­te fun­da­ram a Edi­to­ra Ori­en­te e se apro­xi­ma­ram da clas­se li­te­rá­ria. A em­pre­sa fun­cio­na­va co­mo uma edi­to­ra de ver­da­de, fa­ci­li­tan­do a im­pres­são com pre­ços di­fe­ren­ci­a­dos, am­plos pra­zos de pa­ga­men­tos e às ve­zes até apos­tan­do no au­tor e pa­tro­ci­nan­do par­te da edi­ção. Pe­la pri­mei­ra vez, os es­cri­to­res po­di­am acom­pa­nhar de per­to a con­fec­ção de seus tí­tu­los. Não pre­ci­sa­vam mais ir a Rio ou São Pau­lo e nem es­pe­rar o en­ve­lo­pe do cor­reio com os ori­gi­nais ou os exem­pla­res im­pres­sos. Foi uma mi­nir­re­vo­lu­ção na área. En­tre­tan­to, os pro­ble­mas pes­so­ais dos ir­mãos ali­a­dos à sem­pre ins­tá­vel eco­no­mia na­ci­o­nal e a qua­se men­di­cân­cia em que vi­ve a li­te­ra­tu­ra go­i­a­na, fi­ze­ram com que a edi­to­ra fe­chas­se su­as por­tas em 1981. Mas os au­to­res ha­vi­am des­co­ber­to que po­di­am sim­ples­men­te en­co­men­dar seus li­vros em ou­tras grá­fi­cas, des­de que ti­ves­sem um mí­ni­mo de co­nhe­ci­men­to dos com­pli­ca­dos e de­mo­ra­dos pro­ces­sos de pré-im­pres­são da épo­ca, se com­pa­ra­dos aos pa­drões do sé­cu­lo XXI. Em­pre­sas co­mo O Po­pu­lar, Lí­der, Ban­dei­ran­te, Úni­ca e Uni­graf su­pri­ram por um bre­ve pe­rí­o­do to­da a pro­du­ção de li­vros go­i­a­nos. Idem a Cul­tu­ra Go­i­a­na, li­ga­da à li­vra­ria do mes­mo no­me, de Pau­lo Araú­jo. Ao mes­mo tem­po co­me­çam a apa­re­cer os pri­mei­ros vo­lu­mes das edi­to­ras uni­ver­si­tá­rias li­ga­das à Uni­ver­si­da­de Fe­de­ral de Go­i­ás e à Uni­ver­si­da­de Ca­tó­li­ca – em 2016, PUC Go­i­ás.

DM – Co­mo é es­se mer­ca­do ho­je?

Iu­ri Rin­cón Go­di­nho – Em 1985, sur­ge a Grá­fi­ca Kelps – em 2016 Edi­to­ra Kelps -, a mais lon­ge­va e bem-su­ce­di­da edi­to­ra go­i­a­na, com mi­lha­res de li­vros es­cri­tos, edi­ta­dos e im­pres­sos em Go­i­ás. Com o pas­sar do tem­po e em es­pe­ci­al a apro­xi­ma­ção nos anos 90 com a Uni­ão Bra­si­lei­ra de Es­cri­to­res-se­ção Go­i­ás, vi­rou re­fe­rên­cia e cres­ceu ao pon­to de cri­ar a pri­mei­ra dis­tri­bu­i­do­ra de su­ces­so no Es­ta­do. A Kelps foi tam­bém a pri­mei­ra a tra­ba­lhar a edi­ção in­te­gral, des­de o acer­to com o au­tor até a dis­tri­bui­ção fi­nal no sem­pre com­pli­ca­do mer­ca­do de li­vra­ri­as. Os anos 90 do sé­cu­lo XX po­dem ser con­si­de­ra­dos aque­les em que o mer­ca­do de con­fec­ção de li­vros lo­ca­is se fir­ma de ma­nei­ra de­fi­ni­ti­va e no­vos players en­tram no pro­ces­so, ca­sos da AB Edi­to­ra e da Con­ta­to Co­mu­ni­ca­ção, fun­da­da em 1986, e que atua na edi­ção de li­vros his­tó­ri­cos. O mer­ca­do de im­pres­são não cres­ce em ter­mos de edi­to­ras no sé­cu­lo XXI, em par­te por­que os au­to­res apren­de­ram que qual­quer grá­fi­ca po­de edi­tar um li­vro cor­re­to. Mes­mo as­sim bons no­mes sur­gem, co­mo a Ne­ga Li­lu, que tra­ba­lha com for­mas e for­ma­tos di­fe­ren­ci­a­dos e cri­a­ti­vos.

 

DM – Qual a ca­pa mais an­ti­ga?

Iu­ri Rin­cón Go­di­nho – A pri­mei­ra ca­pa do li­vro é um es­pan­to. Pu­bli­ca­da em 1928, Or­chi­de­as usa três co­res quan­do o pa­drão da in­dús­tria grá­fi­ca era ape­nas o pre­to. Mes­mo que Le­o­de­gá­ria de Je­sus não ti­ves­se na­da a ver com a ca­pa e a ti­ves­se vis­to pron­ta já se­ria inu­si­ta­do. Tal­vez o seu ver­de de fun­do se­ja ape­nas a cor do pa­pel, mas in­dis­cu­ti­vel­men­te ela foi im­pres­sa na ti­po­gra­fia, pri­mei­ro o pre­to, de­pois o ro­sa e, por ci­ma de tu­do, o no­me em bran­co. As­sim, fo­ram uti­li­za­dos no mí­ni­mo três cli­chês uma ma­triz gra­va­da em pla­ca me­tá­li­ca e des­ti­na­da à im­pres­são de ima­gens e tex­tos. Eram ca­rís­si­mos na épo­ca e de­no­ta um cui­da­do ex­tre­mo na im­pres­são.

 Literatura 2

DM – Qual a ca­pa mais re­cen­te?

Iu­ri Rin­cón Go­di­nho – É Al­mo­fa­riz do Tem­po, de Cás­sia Fer­nan­des, que tem uma ca­pa po­ro­sa, on­de fo­ram li­te­ral­men­te mar­te­la­dos tem­pe­ros, fa­zen­do com que ca­da exem­plar se­ja úni­co. Ho­je dá pa­ra se fa­zer de tu­do em ter­mos de ca­pas. Os li­vros pas­sa­ram a in­cor­po­rar ou­tras mí­di­as. Sur­gi­ram co­res es­pe­ci­ais, cor­tes di­fe­ren­ci­a­dos, apli­ca­ções de ver­niz (Im­pres­são Es­pe­ci­al, de Ci­ça Car­vel­lo), al­to e bai­xo re­le­vo e até ca­pas com chei­ros.

 

DM – Do pon­to de vis­ta plás­ti­co, as três mais es­pe­ta­cu­la­res?

Iu­ri Rin­cón Go­di­nho – Gos­to das ca­pas dos anos 60 e 70, que in­cor­po­ra­ram o con­cre­tis­mo. Ar­te de Ar­mar, de Gil­ber­to Men­don­ça Te­les, on­de um que­bra­ca­be­ças em pre­to que nun­ca se en­cai­xa é apli­ca­do so­bre um pro­sai­co fun­do bran­co. É um ca­so em que o tí­tu­lo es­ta­be­le­ce o ca­sa­men­to per­fei­to com a ilus­tra­ção, am­bos fal­sos e ilu­só­rios, ar­mar ao in­vés de amar e as pe­ças de que­bra­ca­be­ças im­pos­sí­vel de ser mon­ta­do. A re­de­mo­cra­ti­za­ção do pa­ís per­mi­tiu que nos anos 80 uma no­va lin­gua­gem vi­es­se se jun­tar às ca­pas: a dos qua­dri­nhos. Dois li­vros de Bra­si­gó­is Fe­lí­cio re­pre­sen­tam bem es­sa mu­dan­ça (Es­cri­to no Mu­ro e A Mar­ca de Caim), com ima­gens que re­me­tem às ti­ri­nhas de jor­nais fei­tos por bra­si­lei­ros no pe­rí­o­do. Ape­nas um So­nho, de An­tô­nio Bap­tis­ta, é ou­tro que usa um de­se­nho ex­tre­ma­men­te bem fei­to e co­lo­ri­do, hi­per­re­a­lis­ta e com um uso so­ber­bo do azul, mes­mo em um am­bi­en­te de céu no­tur­no. Cha­ci­na de Loi­ras, do des­co­nhe­ci­do e ge­ni­al Sér­gio Sam­paio, é um pre­cur­sor, jun­to com as ca­pas dos li­vros de Bra­si­gó­is, do que em 2016 se cha­ma de ar­te ur­ba­na.

 

DM – Que ar­tis­tas plás­ti­cas pro­du­zi­ram be­las ima­gens pa­ra a his­tó­ria nos li­vros?

Iu­ri Rin­cón Go­di­nho – Até os anos 60 o ar­tis­ta plás­ti­co DJ Oli­vei­ra (1932-2005) era o so­nho de con­su­mo pa­ra quem de­se­ja­va fa­zer uma be­la ca­pa. Seu tra­ço con­ci­so e cheio de re­tas com­bi­na­va com os anos 50 e 60, tem­po de con­cre­tis­mo e ino­va­ção. A par­tir dos anos 70, Si­ron Fran­co (1947) se tor­na oni­pre­sen­te nas ca­pas e não há um gran­de au­tor de Go­i­ás que não te­nha so­nha­do em pe­dir um de­se­nho de­le pa­ra ilus­trar a obra. Al­guns con­se­gui­ram, ca­sos de Mi­guel Jor­ge, Wil­li­am Agel de Me­lo, Ma­ria Aba­dia e Ga­bri­el Nas­cen­te. A es­ca­la­da de Si­ron co­mo ilus­tra­dor de lu­xo co­in­ci­de com a a 12ª Bi­e­nal Na­ci­o­nal de São Pau­lo, em 1974, quan­do foi pre­mi­a­do co­mo o me­lhor pin­tor do ano. Até ho­je, em 2016, ele con­ti­nua ati­vo, de­se­ja­do e pro­va­vel­men­te se­ja o ar­tis­ta com mais ca­pas de li­vros na his­tó­ria de Go­i­ás. O rei­no das ca­pas as­si­na­das con­ti­nua sen­do em 2016 dos ar­tis­tas plás­ti­cos. Ale­xan­dre Li­ah (1960) traz as re­fe­rên­cias da fa­mí­lia ucra­nia­na em tra­ços e co­res for­tes, ar­re­don­da­das, qua­se im­pres­sio­nis­ta. Go­mes de Sou­za (1957), mes­tre em Cul­tu­ra Vi­su­al pe­la Uni­ver­si­da­de Fe­de­ral de Go­i­ás, ti­nha um bom trân­si­to com os ar­tis­tas nos anos 80 e 90 e é tam­bém au­tor de li­vros.  Dek (1955) e Ro­os (1947) são tam­bém bas­tan­te pro­cu­ra­dos pa­ra ca­pis­ta. Amaury Me­ne­zes (1930), que cur­sou a se­gun­da tur­ma Es­co­la Go­i­a­na de Be­las Ar­tes da Uni­ver­si­da­de Ca­tó­li­ca de Go­i­ás (em 2016 PUC-GO) tam­bém é re­qui­si­ta­do, ten­do ilus­tra­do mais de 100 li­vros de uma vez pa­ra a co­le­ção Pro­sa e Ver­so, da Pre­fei­tu­ra de Go­i­â­nia. Tai­ná Cor­reia…

 

DM – Qual a edi­to­ra, nú­me­ro de pá­gi­nas e ti­ra­gem do li­vro?

Iu­ri Rin­cón Go­di­nho – O li­vro sai pe­la Edi­to­ra Kelps, tem 148 pá­gi­nas, to­do co­lo­ri­do e sai com uma ti­ra­gem de 1.500 exem­pla­res.

 

DM – Pro­je­to de no­vo li­vro?

Iu­ri Rin­cón Go­di­nho – Es­tou es­cre­ven­do a con­ti­nua­ção do meu li­vro “A Cons­tru­ção”, que con­tou a his­tó­ria da ci­da­de de 1932, quan­do se co­me­çou a fa­lar mais se­ri­a­men­te na ideia da mu­dan­ça da ca­pi­tal, até 1942, quan­do a ca­pi­tal es­tá con­so­li­da­da e aqui se pro­mo­ve o Ba­tis­mo Cul­tu­ral. Es­se no­vo li­vro, que que­ro lan­çar ain­da es­te ano, é so­bre os anos 40, de 1943 a 1950, e fa­la prin­ci­pal­men­te so­bre co­mo a Se­gun­da Guer­ra Mun­di­al mu­dou a ro­ti­na de Go­i­â­nia. Vai se cha­mar “Go­i­â­nia em Guer­ra”.

 

Lançamento

Data: Quinta-feira, 30 de junho

Horário: 20h

Local:  Casa de Cultura Altamiro de Moura Pacheco

Título: 100 Grandes Capas de Livros Goianos

Autor: Iuri Rincón Godinho

Preço: 50,00

 

PERFIL

Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás, em 1985. Fundador da Contato Comunicacação (1986), onde edita mais de 40 jornais e revistas. Ex-presidente da União Brasileira de Escritores – Goiás. Fundador do Goiânia Convention & Visitors Bureau de Goiânia. Membro das academias Goiana, Goianiense e Espírita de Letras, além do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás. Curador de exposições e do Museu da Medicina de Goiás.

 


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