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CULTURA

A escassez da água e o aumento no risco de epidemias

Edson Sidião Especial para  Diário da Manhã

A água é um dos recursos naturais mais abundantes na natureza, mas a água doce, necessária nas atividades diárias do homem, não chega a 1% do total existente no planeta. O Brasil concentra 12% deste recurso em seu território, localizado no Aquífero Guarani, atualmente considerado o maior reservatório natural de água subterrânea da Terra, com 1,2 milhão de quilômetros quadrados. Porém, mesmo com esta riqueza, não estamos livres da escassez e das deficiências na qualidade desse bem, como temos percebido nos últimos meses. Infelizmente, devido o consumo desenfreado e pela degradação ambiental decorrente do crescimento populacional, agrícola e industrial, enfrentamos uma crise hídrica há muito tempo não vista e que, tardiamente, ganhou atenção das autoridades públicas.
Os problemas das doenças transmissíveis devido ao consumo de fontes insalubres também merecem a devida atenção. Dados da Organização Mundial de Saúde revelam que 3,4 milhões de pessoas, principalmente crianças, morrem anualmente de doenças relacionadas à escassez e qualidade da água. Estima-se que melhoria da qualidade da água pode reduzir a incidência de doenças gastrointestinais de origem infecto-parasitária em 26% e a mortalidade em 65%. Este grupo de doenças encontra-se entre as cinco principais causas de óbito nos indivíduos de um a quatro anos de idade no mundo. No Brasil, esta preocupação motivou o Ministério da Saúde a emitir a Portaria n° 1469 de 29/12/2000 que estabelece procedimentos e responsabilidades com relação ao controle da qualidade e padrão para consumo humano.
Dentre as inúmeras parasitoses caracterizadas doenças diarreicas, estão a Giardíase, Verminoses intestinais e a Criptosporidiose causada pelo protozoário do genêro Cryptosporidium sp. No estado de Goiás, pelas características climáticas e hídricas do cerrado e de sua forte tendência econômica pela agropecuária, propicia mais facilmente a dispersão desta doença. De 1984 a 2000, 76 surtos epidêmicos de transmissão hídrica foram associados ao Cryptosporidium sp. em países como EUA, Inglaterra, Irlanda do Norte, Canadá, Japão, Itália, Nova Zelândia e Austrália. Nestes casos, foram atingidas cerca de 481.026 pessoas, destes 59,2% estavam relacionados à água de beber e 40,7% relacionada ao uso de piscinas ou banhos em lagos e açudes. Entretanto, as razões mais frequentes de contaminação se devem às falhas operacionais dos sistemas de tratamento e ao contato da água com o esgoto ou acidente fecal. Resumidamente, ineficiências no sistema de saneamento básico que poderiam ser facilmente evitadas se tomadas as devidas medidas.
Por aqui, as pesquisas sobre a presença destes protozoários são relativamente recentes, mas suficientemente sérias para nos alertar sobre a água que consumimos em diversos municípios, incluindo Goiânia. Dentre as fontes de contaminação, destacam-se a contaminação cruzada de água de poço ou encanada por água de esgoto, falha nos procedimentos operacionais do filtro de areia, contaminação de águas superficiais por esterco, e influências de efluentes industriais e agrícolas. Diante desse quadro, é de suma importância que se aumentem os investimentos para estudos e ações que enquadram na resposta à demanda de consumo no país. Temos plena capacidade de atingir este objetivo, basta a vontade do setor público e privado, e um espírito comum de cidadania, para garantir a saúde de toda a população, especialmente das futuras gerações.

(Edson Sidião é gerente acadêmico da Faculdade Estácio de Goiás e doutor em Medicina Tropical)

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