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CULTURA

O silêncio é crime

Lembro a aula inaugural do curso de Jornalismo iniciado na Faculdade Cambury, depois transferida à Universidade Católica de Goiás. Isso foi em 2004. Tinha mais de 60 alunos na sala, cada qual com um sonho secreto. Todos eram jovens; a média de idade talvez nem chegasse a 20 anos. Eu, com mais de 50 e jeito de o avô da turma. A maioria entrara na faculdade de Jornalismo para fazer televisão. Poucos queriam o impresso. Outros, em número menor, o rádio. Só dezoito alunos chegaram ao oitavo período do curso. Mas, o coração da maior parte estava indeciso quanto ao futuro.

Eu, jornalista tardio, trabalhava na revista Automóveis & Cia. Resolvera seguir no Jornalismo tendo como exemplo o Batista Custódio. Com a verve dele e a palavra doce, leniente, de Jávier Godinho, cujos textos se transformam em borboletas de luz a clarear a magnífica floresta dos homens. Escrever no mesmo espaço do jornal em que escreve Jávier Godinho é um privilégio. Não aprendi a escrever igual a eles, mas recebi as suas boas palavras. Batista Custódio é a fonte e o ideal do bom jornalismo. Às vezes duro, outras vezes ameno, generoso; hábil poeta na construção de metáforas lendárias. Seus textos são antológicos. Os melhores, criados desde o jornal Cinco de Março, estão guardados como tesouros da imprensa goiana.

Batista usa a palavra com a precisão de um esgrimista, mas tem no coração uma canção de amor. Quando usa a navalha ou a pluma em seus textos Batista Custódio é supremo. Absoluto na arte de colocar o coração no teclado da sua máquina de escrever. Dialético, conclusivo, Batista é o eterno renovo do jornalismo brasileiro. Para o Diário da Manhã o silêncio é um crime. Por isso, o jornal ouve o barulho de artigos ecléticos dos colaboradores do OpiniãoPública.

Volto ao tema inicial porque o Batista não precisa dessa bajulação. Recebo do DMRevista tabletes de açúcar refinado a adoçar minha crônica semanal. E ela vem incensada com o ideal jornalístico que deve se expressar em linguagem simples e direta. Um bom modelo do primor de texto é o de Rogério Borges, do jornal O Popular, também escritor talentoso. Na literatura , Guimarães Rosa e o meu poeta preferido, Fernando Pessoa.

No oitavo período do curso de Jornalismo, mesmo interessado no impresso, já fazia o programa Raízes Jornalismo Cultural, na TV, nascido, lá pelo sexto período, no estúdio de TV da então Universidade Católica, hoje PUC-GO. Segui os passos dos professores Márcio Venício e Bernardete Coelho, jornalistas da TV Anhanguera que tentaram me ensinar um pouco sobre televisão. Se mais não aprendi é porque sou meio burro para aprender as coisas. O tempo passa, a vida é curta, estreita como é o caminho do homem.

Ao contrário das ruas largas de Goiânia que, muitas vezes, levam ao desvio da pureza de uma criança. Bela, jovem, irreverente, nossa cidade tem a força de muitas cidades imbricadas uma na outra. Guarda em suas ruas e avenidas um pouco da pujança de São Paulo, a beleza de Brasília e a jovialidade de Palmas. Goiânia é tentadora nas curvas salientes do seu traçado original.

Nesse fim deste outono, o céu se abre azul com pontinhas de sol brilhante nas ruas, nas praças, nos bosques, nos prédios e na alma das pessoas.

As flores derrubadas pelo vento cantam à luz da manhã celebrando o mês das festas juninas que chega no lombo das incertezas da vida

(Doracino Naves, jornalista, diretor e apresentador do programa Raízes Jornalismo Cultural, www.raizesjornalismocultural.net, escreve aos sábados no DMRevista)

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