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Cinema político de Ken Loach

Um dos maiores documentadores da classe operária britânica, Ken Loach carrega nas costas o peso de ter contribuído com fases importantes das grandes mudanças que ocorreram no cinema no início da década de 1960. Filho da classe trabalhadora, nasceu na cidade de Nuneaton, na região central do Reino Unido, em 1936. Começou produzindo documentários para a emissora BBC. A influência da televisão é uma das características marcantes no estilo de produção de cinema do diretor. O engajamento político do diretor vem se espalhando pelo mundo, e influenciando novos nomes, como Mike Leigh e Steve McQueen.

A vertente documentarial “free cinema”, que continha imagens realizadas sem preparação prévia, à revelia dos acontecimentos, que ganhou expressividade na Inglaterra com nomes como Lindsay Anderson (Se….) e Tony Richardson (A solidão de uma corrida sem fim), possibilitou a ascensão do cinema político-social britânico, com filmes como Kes (1969), que narra as angústias de um pré-adolescente que encontra refúgio das dificuldades da vida na amizade com um falcão. Ken Loach já recebeu várias condecorações durante sua carreira, o que inclui 11 prêmios do festival de Cannes, e 8 do festival de Berlim.

Ideais

Apesar de considerar a possibilidade de mudança social através cinema, Ken Loach não despreza o potencial multi-significativo da arte. Em entrevista ao portal de notícias espanhol 20 minutos, ele faz uma breve definição de como enxerga a sétima arte. “O filme, como a literatura, pintura e teatro, pode ser muitas coisas ao mesmo tempo: amor, paixão, drama e entretenimento. Ele não tem de ser sinônimo de banalidade, mas pode fazer-nos vibrar e até mesmo mudar nossa vida. O cinema deve permitir saber mais sobre a condição humana, deve fazer-nos crescer e acordar, porque é um meio que tem muita força”.

O diretor ainda afirma que enxerga no cinema uma forma de expressão política ignorada pelos detentores do poder, através de retratos fictícios de muito do que se vê nas ruas e nos subúrbios. “No Reino Unido há um vácuo político muito importante. Os principais partidos defendem o livre comércio, o capitalismo ou ordens internacionais dos EUA, mas ninguém se preocupa com defender ou proteger o miserável ou o meio ambiente. De alguma forma temos de preencher esse vazio”. Colocar as classes menos favorecidas como protagonistas do cinema, segundo Loach, é uma forma de trazer a vida dessas pessoas para uma discussão e visibilidade mais fluente.

Questionado sobre a falta de alcance que tem o cinema político em comparação aos grandes sucessos comerciais de bilheteria do cinema, ele tem uma visão otimista, de que tudo tem seu espaço, e critica a postura da mídia, que oferece menos espaço a filmes que geram menos lucro e mais reflexão. “Eu tenho muitos amigos que pensam como eu. Outros diretores europeus, como os irmãos Dardenne, fazem grandes filmes na mesma linha. São os próprios meios de comunicação que transmitem a sensação de solidão: vem o Festival de Berlim, que engloba filmes de todos os tipos, e apenas falam sobre Madonna, Scorsese e os Rolling Stones!”

GERAÇÃO ATUAL

O diretor do premiado Ventos de Liberdade (2006), que narra a guerra político-social-religiosa da Irlanda, também define o que vem enxergando das novas gerações em relação à política e bem-estar social. “A geração atual herdou este mundo, de modo que, em primeira estância, é uma vítima. Mas os jovens de antes eram mais solidários. Atualmente todos os jovens já estão cientes de que estamos a caminhar para a destruição, mas não parecem querer fazer qualquer coisa”.

Cinema político brasileiro

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Alguns exemplos de cineastas brasileiros que envolvem estética cinematográfica e conflitos sociais podem ser visitados desde a fase embrionária do cinema nacional. Dentre os nomes mais famosos estão Rogério Sganzerla, com a estética do lixo no “cinema marginal”; Glauber Rocha, que mostra de forma poética a miséria do Nordeste e as incógnitas da corrupção; Carlos Raichenbach, famoso por misturar pornochanchada, surrealismo e questões sociais durante mais de três décadas de produção cinematográfica; entre outros.

Sem essa, Aranha! (1970)

Jorge Loredo, o famoso Zé Bonitinho, falecido recentemente, interpreta Aranha: um retrato da ignorância da burguesia brasileira. Como exige a genialidade de Sganzerla, que conduz suas produções na ironia e na sátira, a exploração de Jorge Loredo é cômica. Helena Ignez, atriz musa-símbolo do movimento, também da o ar da graça no filme, esgoelando com toda sua loucura e irreverência que “o Sistema Solar é um lixo!”. Outros bordões que definem esse clássico do cinema nacional vão de “O Brasil está fora da página”, a “Tô com dor de barriga! Tô com fome!”. Luiz Gonzaga também faz uma participação especial caótica no filme.

Terra em Transe (1967)

De uma maneira mais séria e dramática, o baiano Glauber Rocha entra na questão podre da política nacional criando um país fictício: República de Eldorado. Jardel Filho interpreta Paulo, jornalista idealista e poeta, que representa os intelectuais que apóiam a revolução social. Paulo Autran cria o maniqueísmo do filme, representando os tecnocratas anticomunistas e favoráveis ao domínio imperialista do capital americano. José Lewgoy é o político populista e Glauce Rocha uma sensível ativista política, que se envolve com Paulo. O filme reflete muito da fase política nacional de 1960 à 1966.

Alma Corsária (1993)

Carlos Reichenbach foi um dos poucos cineastas brasileiros que buscou recursos para continuar a produzir na maior crise do meio no País, após o período Collor. Alma Corsária e outros filmes do diretor muitas vezes são citados como pilares fundamentais da resistência cinematográfica no país em meio a uma produtividade quase zerada. Alma Corsária viaja em três décadas de história do país através de dois amigos poetas. Eles se conhecem desde a infância, e saem pelas ruas convidando inúmeras “pecinhas raras” para o lançamento de um livro intitulado Sentimento Ocidental.

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