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Livro-reportagem sobre presença brasileira em Moçambique apresenta retrato geral das relações Brasil-África

Depois de passar seis meses em Moçambique em 2010, a jornalista Amanda Rossi retornou ao país três anos depois para conhecer as iniciativas brasileiras germinadas durante sua primeira visita. Na viagem para a cidade de Moatize, onde ocorria uma manifestação contra as reservas de carvão da Vale, ela teve algumas surpresas. O avião que a levaria da capital Maputo para Moatize era da Embraer, a Igreja Universal de Reino de Deus estava presente na cidade e entre os manifestantes havia ex-funcionários da Odebrecht. “O Brasil estava por todos os lados”, escreve a autora em Moçambique: O Brasil é aqui, que chega às livrarias em agosto pela editora Record.

Aos olhos da jornalista, Moçambique é o país mais interessante para mostrar a chegada do Brasil na África porque concentra as maiores investidas do país no continente. “Se quisermos ver como o Planalto apoiou negócios de empresas brasileiras, nada melhor do que observar a história do maior empreendimento do Brasil na África: a exploração de carvão da Vale. Moçambique é ainda o país africano que mais despertou o interesse do agronegócio brasileiro. Além disso, foi um dos países mais cobiçados pelo Brasil para apoiar a reforma do Conselho de Segurança da ONU”, explica Amanda, que se debruçou sobre centenas de correspondências do Itamaraty, documentos oficiais e extraoficiais para compor a obra.

Esmiuçando os detalhes das empreitadas e das empreiteiras brasileiras em Moçambique a partir do governo Lula, o livro traz à tona informações do intricado mosaico de negócios do Brasil no país e revela questões delicadas das relações das empresas com o governo brasileiro. O financiamento das viagens do ex-presidente para o continente africano é uma delas. Em entrevista exclusiva para a autora, o político afirma que nunca houve conflitos de interesses: “Não há conflito nem com empresa de construção, nem com banco, nem com empresa de automóvel. Eu viajo e faço palestra gratuita para sindicato, para comunidade base, para qualquer coisa”, declara Lula. O ex-presidente defende ainda que além das empreiteiras, empresas de açúcar e etanol, os bancos brasileiros também deveriam estar na África: “Se não for assim esses países vão ficar com os bancos dos países colonizadores”, completa.

Quando a escritora apresenta a voz dos moçambicanos, as opiniões a respeito da expansão brasileira na região são divergentes: “Uma parcela do povo moçambicano se decepcionou com a atuação brasileira. Especialmente quem já foi diretamente impactado pelos negócios do Brasil. Outros, no entanto, “tinham confiança de que ‘os irmãos brasileiros’ fariam diferente e apoiariam o povo moçambicano. Eu pressionei tudo que pude, mas nada parecia abalar a fé deles no Brasil”, conta.

Moçambique: o Brasil é aqui traz na íntegra as entrevistas da autora com o ex-presidente Lula, aclamado pelo povo local, e com o escritor moçambicano Mia Couto, que foi um dos combatentes na luta pela independência e é co-autor do hino nacional do país.  O livro revela as mais variadas nuances das relações que unem e separam os dois países.

Trecho:

“Poderia ser Itabira, a pequena cidade mineira onde a Vale foi criada para extrair ferro. Mas a rota bandeira moçambicana hasteada no prédio do governo e outra, pintada no tronco de um enorme baobá, não deixavam dúvida. Recordei a confidência do poeta itabirano, Carlos Drummond de Andrade: ‘Itabira é apenas uma fotografia na parede’. Eu havia retornado para Moçambique. A diferença era que agora o Brasil também ficava lá.”

Livro


MOÇAMBIQUE: O BRASIL É AQUI- Uma investigação sobre os negócios brasileiros na África

Amanda Rossi

405 páginas

R$ 50

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