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CULTURA

No quintal, com amigos

Walacy Neto,Especial para DMRevista

“Prezar pelo menor às vezes é melhor”. Acho que já ouvi essa frase sendo relacionada a quase tudo que existe. Artes, móveis, arquitetura, preço etc. O conciso tem essa particularidade de deixar tudo mais simples, ou seja, mais real aos olhos, sabe? Há quem tenha essa tendência para os modelos curtos como, por exemplo, os haikaístas (escritores de poemas curtos, de até três versos), os diretores de curtas-metragens, os artistas minimalistas do final do século vinte e outros, muitos outros. Pra quem é desses, a proposta da Fósforo Cultural pra essa edição do Vaca Amarela cai bem. Os Drops do Festival, ou seja, apresentações de duas ou três bandas em uma noite, uma quinta-feira.

Trata-se de uma opção interessante frente à ideia que os festivais pregam: vários shows e em dias seguidos. Esta é a segunda edição do Drops que ocorre na Diablo Pub, a partir das 21h. A primeira edição teve o show do músico pernambucano Di Melo, que foi bem caloroso. Nesta de hoje, se apresentam o Francisco El Hombre, da cidade de Campinas, em São Paulo, e a banda goiana, daqui mesmo, o Carne Doce. Esta é a terceira vez que o Francisco El Hombre aparece na capital do Estado de Goiás. A diferença principal seria o interesse do público, que cresceu após a última apresentação da banda no Festival Bananada, em maio deste ano. A performance rendeu suspiros e emoções, além de uma calorosa aceitação de nós, goianos, em relação a esse pessoal.

“Querendo ou não, acho que houve uma preparação para a apresentação no Bananada, isso pelas conversas. Cada show é especial. Não dá pra subir no palco sem firmar esse compromisso de se dar ao máximo. A gente sabia que o Bananada era um palco importante. Teve muita coisa bonita desde aquele dia que a gente viveu, com certeza a repercussão do festival foi muito importante”, afirma o baixista do Francisco El Hombre, Rafael Gomes. Na época, a banda também se apresentou no Evoé Café com Livros de uma maneira intimista e quase que não programada. A apresentação também foi contagiante, mas em um nível diferente devido a essa proximidade de palco e público, algo que ficou ali quase que extinto.

“Tentamos sempre nos familiarizar com o local onde estamos. Na primeira vez que a gente veio como banda, entendemos que era um espaço que deveria ser construído. Não que a gente tenha um grande público aqui, mas são duas vezes em espaços que foram essenciais pra gente. O convite pra esse Drops, por exemplo, veio logo após a nossa apresentação no Festival Bananada”, diz. Rafael é daqui também, de Goiás, e por isso tem um apreço grande pelos músicos e todo o cenário musical de Goiânia. “Quando eles (Carne Doce) vão pra Campinas, eles estão com a gente e quando a gente vem pra cá é o mesmo. É meio que tocar com os amigos no quintal de casa”.

Rafael aponta uma relação que existe entre as bandas, coisa que a gente vê em diversos outros movimentos musicais e artísticos. “Tem uma coisa que a gente frisa muito, que são bandas que se juntam pela mensagem. Acho que a gente faz um trabalho porque tem certa motivação: subir no palco e passar algo para o público. O sorriso da Salma também consegue passar isso às pessoas.” Durante entrevista na última passagem do Francisco El Hombre em Goiânia, a banda afirmou, efusivamente, que tem grande apreço pelo som que o pessoal do Carne Doce consegue fazer.

De novidade, o Francisco El Hombre tem um novo clipe gravado. “Na verdade, a gente gravou ‘Minha Casa’, que é uma das faixas do nosso último disco. O clipe deve sair na primeira quinzena do mês de setembro. Nele a gente traz nossas perspectivas de um jeito mais forte, mais direto: questionando esses valores de família tradicional que está sendo bastante debatido e a gente precisava se posicionar. Igual uma música dos amigos e parceiros de turnê, o Dr. Hank, que diz: o amor impera. O amor deve falar mais alto”, diz. O novo disco da banda deve sair no comecinho de 2016 e é bastante esperado, acreditem.

Na estrada

A banda geralmente está em viagem pelas cidades do Brasil e algumas da América Latina. Acompanhando a página do Facebook da banda, vemos que eles passaram por cidades como São Paulo, Campinas, Porto Alegre, Caxias do Sul, São José do Rio Preto, Piracicaba, Sorocaba, Uberlândia e outras. Em uma dessas viagens, os membros foram assaltados e a ocorrência mobilizou boa parte dos músicos brasileiros. Os músicos foram assaltados em Mendoza, na Argentina. Os documentos, o dinheiro, instrumentos e até mesmo as roupas foram roubadas, o que impossibilitou o grupo de retornar ao País. Pelo Facebook eles divulgaram uma nota pedindo ajuda aos fãs e cancelando a turnê.

Um jornal local chamado Los Andes divulgou que quatro bandidos armados pararam a banda quando guardava os instrumentos. Eles estavam em direção ao Chile, onde realizariam uma turnê. Na época, boa parte dos CD’s que a banda levava – boa parte do sustento da banda vinha da venda – foram 400 discos, um baixo, dois violões, uma guitarra, uma percussão, roupas, dois celulares e duas câmeras. Até hoje nenhum suspeito foi preso pelo crime.

Carne Doce

A banda Carne Doce, por aqui, quase que dispensa apresentação assim, no papel. Mesmo evitando criar uma espécie de pódio, é difícil não dizer que a formação talvez seja uma das melhores novidades que vemos nessa terrinha (terrinha chamada Brasil, nesse caso). Recentemente, eles lançaram o álbum homônimo pela internet e assim agradaram boa parte dos interessados em ritmos novos. Perguntada sobre o que passou do lançamento até agora, a vocalista Salma diz que antes o pensamento era outro. “A gente tinha outra expectativa. O que a gente coloca na banda, vai mudando com o tempo e com as apresentações. E vai tudo junto. A gente teve que aprender a reagir e acho que isso foi muito positivo”.

Ambos os entrevistados falaram dessa relação entre Francisco El Hombre e Carne Doce, que encontro além do contato pessoal destes. Seria a energia das apresentações, ou seja: o sorriso e energia de Salma; a profundidade e a sensibilidade do Francisco El Hombre. “A gente tenta ir por outro lado, usamos temas mais negativos. Algo de tocar nas feridas, expor, rasgar. É algo que a gente tem de diferença. Mas ambos levam em consideração essa energia boa durante o show”, diz. “A gente tem amigos em comum, que acabou virando uma banda meio amiga. Mas eu acho que tenho mais a ver com o som. É quase beira o religioso, não no lado negativo, mas da comunhão. É até algo meio ritualístico. Acho que é mais profundo pra eles do que pra gente”, conclui.

Em Goiânia, Carne Doce se sente em casa, é verdade. A quantidade de público sempre demonstra isso, bem como a animação e a energia boa, essa citada por Salma. “Aqui estão nossos amigos, a gente se sente bem mais confortável. As pessoas cantam nossas letras, algo que é bem mais íntimo e confortante. Nos dias de Festival do Vaca Amarela é um palco que talvez crie um pouco dessa distância daí tem que ralar, mas no Diablo vai ser só felicidade, só alegria”. Assim como Francisco El Hombre, que viaja bastante em suas apresentações, o Carne Doce também tem andado. “A gente fez alguns shows em São Paulo, nessa última Virada Cultural. No Rio de Janeiro também, o que foi muito interessante porque a gente não sabia que tinha público lá e o pessoal cantava as letras e foi muito animado. Depois do Vaca Amarela a gente está indo pra São Paulo tocar em um dos Showscase do Bananada, no dia 25 de setembro. Também pretendemos começar uma turnê pelo Nordeste brasileiro”, diz Salma.

Fora de casa

“Quando a gente vai tocar no eixo Rio-São Paulo sentimos meio que essa pressão de ser do interior. A gente tem às vezes que surpreender. Daí rola meio que um preconceito, pequeno mais rola, uma pressão pra ter que surpreender: tem que ser um show foda. Mesmo quando a gente toca pra um público meio diversificado, a gente vê que o pessoal é bem aberto pro nosso trabalho. A dificuldade é mais logística do que a de fazer o show acontecer”, aponta.

Com o álbum ainda fresco na cabeça de todo mundo, o Carne Doce deve lançar no ano que vem o próximo disco. Até lá, Salma afirma que ela e os outros integrantes da banda devem lançar alguns clipes de músicas do primeiro álbum. Para quem for no show, tanto hoje na Diablo quanto no Centro Cultural Oscar Niemyer, Salma diz que tem uma surpresa: duas músicas novas.

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