Home / Cultura

CULTURA

O que cabe num livro?

por Walacy Neto

Dentro de um livro cabem mundos inteiros. Sherlock Holmes e todos os mistérios por ele resolvidos couberam dentro de um livro. As peregrinações de Jesus Cristo, os ensinamentos deixados por ele e toda a base para diversas religiões globais estão em um livro, a Bíblia. Torna-se fácil, com estes exemplos, perceber a importância que tal objeto tem no mundo atual. Mundo de tlabets e telas planas onde poucos têm a paciência de folhear algumas páginas. O livro parece estar se tornando enfadonho, carcomido pelas novas tecnologias que nos aproximam demais da realidade. Mas este ainda figura dentro do quadro de maiores feitos da raça humana. Mesmo simplório para nós modernos, o livro é de grande importância para o desenvolvimento do homem na terra.

O material de criação do livro é a escrita. O surgimento desta é anterior à criação do livro, sendo que as primeiras “folhas” eram tabuletas de argila ou pedras. No dicionário a escrita é apresentada como “pôr, dizer ou comunicar por escritor; encher de letras; compor, redigir; representar o pensamento por meio de caracteres de um sistema de escrita”. Mas como disse, a escrita é o antes. De acordo com um artigo publicado no portal de estudos “passeiweb”, o surgimento da escrita se deu de forma independente em três regiões do mundo. “Ela surge pela primeira vez entre os sumérios, a cerca de 3000 a.C. na Mesopotâmia. Posteriormente, em torno de 1500 a.C. há o surgimento da escrita na China e a cerca de 300 a.C. na Mesoamérica”. No Brasil a escrita surgiu no ano de 1500 depois de Cristo.

 A escrita é a materialização do pensamento em códigos, ou seja, em palavras. Estas alinhadas uma do lado da outra formam a frase, da frase forma-se o parágrafo, do parágrafo um capítulo e de vários capítulos lado a lado surge um livro.

Na época em que os países europeus começaram a desbravar os mares e “descobrir” novas terras, a escrita foi de extrema importância para esses registros históricos. Para alguns povos, os que viviam nas terras encontradas pelos europeus, os registros não favorecem sua cultura. As imposições tanto religiosas quanto culturais acabaram nos livros de história e atos que deveriam ser considerados de forma ruim, acabam enaltecidos até os dias atuais. Não saber da história de seu povo é de certa forma cruel e influi diretamente no conhecimento passado dentro das salas de aula. Outro exemplo que dá pra tirar da cartola sobre a importância do livro na sociedade.

Livro velho

Um sebo é um espaço quase lúdico. Possível cenário para tramas sentimentais, encontros românticos e descobertas de novos mundos. O livro usado tem toda uma relação extra-história, algo que vai além do que está escrito ali. Existe um contato entre o antigo dono e o dono atual, como se ambos dividissem aquela mesma sensação ao passar as páginas. Mazinho Rosa, que é poeta e amante das páginas amarelas, entende bem esse sentimento. “O livro usado é como um portal imaginário. Existe uma certa energia transmitida dos leitores anteriores para o atual. Tem uma gratidão entre o ex-dono e o atual proprietário, por ter mantido aquele tesouro conservado até chegar em suas mão”, afirma. Como uma máquina de sonhos compartilhados, o cheirinho de livro usado significa muito mais para o escritor. “Quando se compra um livro usado você ganha os sonhos dos que já leram e mantém este vivo”, conclui.

A livreira e editora, Izaura Franco, trabalha dentro dos livros já faz um tempo. Ela diz que “além do custo, algumas edições de determinados livros você só acha usado”. Atualmente, Izaura administra uma livraria no centro de Goiânia, na rua 4, que é conhecida pela quantidade de sebos. “A procura por livro usado é muito alta, mas a maioria das pessoas vai atrás das edições mais recentes. Vejo que quando um leitor pretende entender as diferenças entre uma edição e outra é que se vai em busca de edições mais antigas”, diz. Questionada sobre o sumiço do livro em meio a novos modelos de leitura Izaura disse que o livro não está fora de moda. “Ele vai conviver tranquilamente em meio às novas tecnologias. Se você considerar o leitor digital, que ainda está em formação, é possível notar que ele não deixa uma em busca da outra. Acredito que os modelos digitais vão auxiliar na formação acadêmica, pois as publicações mudam com muita frequencia e o estudante tem que gastar comprando sempre um livro novo, o que é caro. Nesses casos é muito inteligente colocar esse produto no formato digital”, diz.

Literatura Móvel

Na cidade de São Paulo, onde a cultura tem expressões mais variadas, a biblioteca vai até o leitor. O projeto foi criado pelo poeta Jonas Worcman e é também uma parte do Museu da Pessoa. Primeiro: o Museu da Pessoa é um arquivo de relatos reais de pessoas para pessoas, ou seja, de vivências variadas gravadas e guardadas para quem se interesse. Segundo: a Komblibioteca é a forma que Jonas encontrou para coletar os depoimentos de pessoas que participavam dos saraus da cidade de São Paulo. Unindo o útil ao agradável, foi válido colocar uma quantidade boa de livros e assim criar uma biblioteca itinerante dentro da kombi.

O projeto vai além da coleta de depoimentos e tem permitido que diversas pessoas tenham um maior contato com a literatura. A kombi vai até às escolas da capital de São Paulo, mostra os livros e os poetas Jonas Worcman e Binho, organizador do Sarau do Binho, desenvolvem ações ligadas a literatura (declamação, sarau e oficinas). Quase como aquele clichê que é ditado sobre Maomé não ir a montanha. Nesse caso, a montanha de livros vai até o povo.

Santo Remédio

Dentro de um livro cabem mundos escondidos e é possível se embreiar no meio das fantasias contidas ali. O livro é além de tudo uma rota de escape da realidade dura. Uma forma de se gastar o tempo sem se preocupar com tantas detalhes como o horário no relógio, a conta na geladeira ou um problema de saúde preocupante. O Hospital Alberto Rassi (HGG), em Goiânia, lançou um projeto na última terça-feira para incentivar os pacientes a praticar o hábito da leitura. A intenção também é tentar minimizar os efeitos da hospitalização, ou seja, permitir que o pacienta se sinta um pouco melhor frente às situações vividas dentro deste ambiente. De acordo com a diretora de Serviços Multidisciplinares, Rogéria Cassiano, o projeto é inédito no Estado de Goiás. “É um projeto que contribui terapeuticamente para minimizar os sentimentos de isolamento, agitação, medo e angústia, decorrentes dos longos períodos de internação, e que fragilizam o paciente física e emocionalmente”, afirma.

As obras literárias de diversos gêneros - crônicas, romances, ficção, dirigidas ao público infantil e adulto, são provindas de doação, sendo a primeira remessa de livros recebida da Biblioteca Pio Vargas. O acervo é composto atualmente por 270 itens, entre livros, gibis e revistas. Para que o acesso seja democrático, nas segundas, quartas e sextas-feiras, os pacientes em tratamento na Clínica Médica e Diálise serão beneficiados com o projeto, e nas terças e quintas-feiras, será a vez dos pacientes da Clínica Cirúrgica e Centro de Terapia Intensiva – CTI. “A distribuição dos livros e o acompanhamento do projeto será do Serviço de Terapia Ocupacional, mas claro que vamos contar também com o apoio de toda a equipe multiprofissional do hospital”, ressalta a diretora Rogéria.

Para a terapeuta ocupacional, Michel Vaz, a leitura proporcionará incontáveis benefícios para os pacientes e cuidadores da unidade hospitalar. Ela esclarece que a leitura, mesmo para pessoas que não estão hospitalizadas, melhora as relações interpessoais, vocabulário, proporcionando também benefícios culturais e mais conhecimento. “O projeto se encaixa muito bem no perfil dos pacientes do HGG, que são de longa permanência. Na minha vida profissional, eu ainda não tinha conhecimento de um projeto assim. Nós esperamos proporcionar aos pacientes mais espontaneidade, motivação pessoal, interação social, tirar a ociosidade, melhorar os aspectos cognitivos, além de incentivar a leitura também”, completou Michele.

Leia também:

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias