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CULTURA

Músicos silenciados

Não vivi os anos de ditadura militar no Brasil. Nasci algumas décadas após a extinção do regime e acreditei que estava livre para pensar, agir e debater com os governantes sobre o que era melhor para mim e os outros. Atualmente, manifestantes tomam às ruas insatisfeitos com a posição da presidente, Dilma Rousseff, e de sua legenda o Partido Trabalhista (PT). O sentimento de revolta é comum tendo em vista que o Brasil não anda tão bem das pernas, mas a solicitação desta camada da sociedade é o que preocupa: eles pedem a saída da presidente e também que seja implantada a ditadura militar.

Repito que não vivi os anos da ditadura militar, mas sei que os anos do regime foram duros para a maioria do povo brasileiro. Foi o momento em que a cultura esteve podada quase na raíz, onde às expressões artísticas eram consideradas como um algo criminoso e o simples ato de declarar sua insatisfação com o governo poderia resultar em tortura ou algo pior. Apesar disso alguns livros de história apresentam um olhar diferente e de alguma forma afirmam que a ditadura militar era encarada de forma positiva por um número de pessoas. De fato o país apresentou um crescimento econômico e militar durante os 21 anos do regime. Mas o valor pago pelo povo brasileiro por esse “avanço” é muito mais significativo.

Os meios ilegais utilizados pelos militares para controlar a massa incluíam tortura, sequestro, assassinato e ocultação de cadáver. Cerca de 475 pessoas simplesmente desapareceram do mapa e até os dias atuais (mais de cinquenta anos depois) muitos destes ainda continuam escondidos nas sombras desses dias escuros. Alguns músicos brasileiros entraram nessa discussão como voz da parcela marginalizada no Brasil. Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e outros tropicalistas marcaram a história do Brasil manifestando suas intensões nas músicas. A participação destes no movimento rendeu prisões e alguns foram “convidados” a se retirar do seu próprio país. Nesta mesma data no ano de 1968 Caetano Veloso e Gilberto Gil eram fichados pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) por criticar a ditadura durante shows. Logo após os dois seriam enviados para fora do Brasil.

Vários músicos foram censurados durante a ditadura militar e tiveram músicas (e até discos inteiros) com a venda e distribuição proibidas. Canções que são consideradas clássicas da música popular brasileira quase não chegaram aos nossos ouvidos por pedirem mudanças no regime e os direitos básicos do cidadão.

Apesar de Você - Chico Buarque


Chico tentou convencer a censura de que a canção, lançada em 1970, contava apenas a história de uma briga de casal. No início, a desculpa convenceu, mas, depois, ela foi proibida de tocar nas rádios.

Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores - Geraldo Vandré


A canção se transformou no verdadeira hino contra a Ditadura, após explodir no Festival de Música Brasileira de 1968, mas foi proibida por causa de seu conteúdo subversivo, que incentivava as pessoas à protestar. O autor, Geraldo Vandré, foi mandado para o exílio.

Tiro ao álvaro - Elis Regina e Adoniran Barbosa


De acordo com um documento oficial da época, a música foi vetada por "não ser de bom gosto". O fato de Adoniran não usar a norma culta da língua foi o bastante para os fiscais proibirem a belíssima canção.


Cálice - Chico Buarque


Os censores, na época, afirmaram ter entendido o duplo sentido dado à palavra "cálice" ("cale-se") pelos compositores.

Geleia Real - Gilberto Gil e Torquato Neto


A canção, que faz parte do inesquecível álbum "Tropicália ou Panis et Circenses", foi proibida por seu conteúdo que, segundo os censores, contestavam a política da época e retratavam, equivocadamente, a situação do Brasil durante a Ditadura.

Os Doze Pares da França - Toquinho e Belchior


Segundo os censores, a letra da música valorizava muito a França e deixava o Brasil em maus lençóis, como se o país fosse ruim, de segunda linha.

Deus e o Diabo - Caetano Veloso


Segundos os registros datados da época, a letra de Caetano feria e desrespeitava os cidadãos brasileiros e uma de suas mais famosas manifestações culturais, o Carnaval, com frases como: "o carnaval é invenção do diabo que Deus abençoou" e "não tenha medo, nego, nega, o carnaval chegou; mais cedo ou mais tarde acabo, de cabo a rabo, com essa transação de pavor".

Herói do Medo - Carlos Lyra


A música foi censurada por conter trechos como "odeio a mãe por ter parido", "com altivez eu dou e tomo", "o passatempo estéril dos covardes" e "para que eu me recussite em liberdade". O compositor se recusou a alterar a letra original e preferiu o exílio.

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