É carnaval na Roma Antiga
Redação
Publicado em 16 de março de 2016 às 00:22 | Atualizado há 4 meses
Quero beber! Cantar asneiras
No esto brutal das bebedeiras
Que tudo emborca e faz em caco…
Evoé Baco!
Lá se me parte a alma levada
No torvelim da mascarada,
A gargalhar em douro assomo…
Evoé Momo!
Lacem-na toda, multicores,
As serpentinas dos amores,
Cobras de lívidos venenos…
Evoé Vênus!
Se perguntarem: Que mais queres,
além de versos e mulheres?
– Vinhos!… o vinho que é o meu fraco!…
Evoé Baco!
O alfange rútilo da lua,
Por degolar a nuca nua
Que me alucina e que não domo!…
Evoé Momo!
A Lira etérea, a grande Lira!…
Por que eu extático desfira
Em seu louvor versos obscenos,
Evoé Vênus”
Bacanal, Manuel Bandeira
O poema de Manuel Bandeira, poeta e crítico literário brasileiro, ilustra de maneira lírica os eventos que se davam durante o período festivo de Bacanal. O festival tem origem na Grécia Antiga, homenageando Dionísio, inventor mitológico do vinho. Chega à Roma Antiga vindo do sul da península itálica. Baco, o deus romano correspondente à Dionísio, além de inventor do vinho, era também o deus dos excessos (principalmente os sexuais), da natureza e da embriaguez. O Festival em sua homenagem era inicialmente realizado apenas por mulheres, as bacantes, num período de três dias, uma vez por ano. Estas eram reuniões secretas.
Posteriormente foi admitida a presença masculina na realização dos cultos e as comemorações passaram a ser realizadas cinco vezes por mês. A rápida propagação da festividade e sua realização em vias públicas chamaram a atenção do Senado, que em 186 a.C. promulgou um decreto proibindo a realização da festa, exceto em ocasiões especiais, aprovadas pelo Senado. O chamado foi promulgado porque os atos do Bacanal escandalizaram a população.
Segundo relatos de Tito Lívio, escritor itálico, autor da obra Desde a Fundação da Cidade, escrita poucas décadas antes do nascimento de Jesus, durante as comemorações eram praticadas todas as formas de crimes, além de excessos sexuais, vulgaridades das mais diversas, e inúmeras conspirações políticas. O decreto foi inscrito em placa de bronze e foi redescoberto no século XVII no sul da Itália. Hoje encontra-se no Museu de História da Arte em Viena. Quem descumprisse a ordem estava sujeito ao encarceramento e/ou à execuções. Segundo Tito, as execuções eram mais frequentes que as prisões. Contudo, as festas bacanais sobreviveram no sul da Itália, mesmo após o período de repressão.
Segundo consta, as sacerdotisas de Baco corriam pelas ruas à noite, seminuas, outras cobertas com pelos de felinos, cabelos soltos, empunhando tirsos (bastão de madeira envolvido em folhas de videira, no topo era fixado uma pinha. Segundo a mitologia o bastão era empunhado por Baco/Dionísio), enquanto gritavam “Evoi” Evoi!” (Evoé!), invocando seu deus. Flautas, tambores, címbalos e castanholas entoavam o coro das Menades, ou Furiosas, como eram chamadas as sacerdotisas bacantes, mulheres que realizavam o culto ao deus Baco, durante seus excessos e luxúrias. Hoje em dia o termo bacanal é associado frequentemente às orgias sexuais.
As origens do deus Baco
Dentro da mitologia greco-romana, Baco, que também é Dionísio, era filho de Sémele, uma mortal. Durante a gestação, Sémele pediu para o deus Júpiter mostrar-lhe a verdadeira face do pai de seu filho. A mulher, já no sexto mês de gestação, não suportando o que via, caiu por terra, morta, convertida em cinzas. Júpiter recolheu o feto, que terminou de ser gerado dentro da panturrilha do deus. Quando cresceu, Baco, já demonstrava interesse pela vinha, e aprendeu a extrair o suco das uvas. Porém foi acometido pela inveja de Juno, que o amaldiçoou a vagar pela Terra. Em dado momento, embriagado, Baco foi transportado por marinheiros à um barco. Quando acordou, pediu para que lhe deixassem na ilha de Naxos, de onde havia sido tirado inconscientemente. Enganado pelos marinheiros, mostrou sua verdadeira forma, fazendo crescer vinhas e surgir tigres por todo o barco, transformando os tripulantes em golfinhos e lançando-os ao mar. Acetes, um dos marinheiros, levou Baco de volta à terra firme e virou seu sacerdote.