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“Gostava mesmo é de ir para o interior”

Um dos maiores ícones da música brasileira no Século XX, Inezita Barroso foi também uma grande defensora da cultura caipira, comandando por mais de 30 anos o programa televisivo ‘Viola minha viola’, realizando grandes encontros da música sertaneja. Inezita morreu aos 90 anos em 2015, deixando mais de 80 trabalhos gravados em seus mais de 50 anos de carreira. Sua voz potente e precisa também já passeou por outros estilos, como a MPB. A importância de Inezita diante da preservação das raízes brasileiras no campo rendeu-lhe o título de doutora honoris causa em folclore e arte digital pela Universidade de Lisboa.

Durante toda sua vida, Inezita manteve em seu espírito a necessidade de contato com o campo. Na biografia ‘Inezita Barroso – Com a espada e a viola na mão’, de Valdemar Jorge Inezita conta que foi criada próxima à saída para Campinas, e mesmo na grande São Paulo, percebia no ar os ventos do interior “Essa proximidade das saídas que iam para o interior talvez ajudasse a trazer o vento puro do campo que batia na minha janela, e com ele os primeiros acordes de viola, e as letras de uma canção melancólica de alguém com saudades do lugar onde nasceu, misturados ao trotar dos cavalos, e o cheiro do forno a lenha esquentando o feijão”.

Vida e obra


A artista conta no livro que durante a infância passava todas as suas férias na fazenda, e que o encontro no campo com seus mais de 60 primos o momento mais esperado do ano. Naquela época ela já quebrava paradigmas. “As meninas eram dondocas. Na educação da época não podiam pisar na terra, fazer um monte de coisas que era permitido só aos meninos. Eu gostava era de ficar com eles, e olha com meu vozeirão, que já era forte quando criança, eu mandava em todos”. A voz grave de Inezita marcou época na música brasileira dos anos 50, dando vida a trabalhos imortais como ‘Vamos falar de Brasil’ (1958) e ‘Canto da saudade’ (1959), onde apresentava a cultura caipira em meio a instrumentos de orquestra.

Na época em que o rádio era o principal veículo dos meios de comunicação, Inezita foi inúmeras vezes a vencedora do Prêmio Roquette Pinto (que tem esse nome em homenagem ao fundador da primeira emissora de rádio do país). Inezita ganhou tanto que tiveram que não pode mais concorrer. “Ganhei ao todo seis prêmios Roquette Pinto de 1954 a 1959. Depois do sexto pelas regras da premiação não se podia ganhar mais. Em 1960 recebi um definitivo, e entrei para a galeria dos hors concours, não poderia concorrer mais”, conta. A cantora foi pioneira em várias coisas, e teve que enfrentar o preconceito daqueles que não viam espaço para a mulher no meio artístico.


Viola, minha viola


Inezita Barroso foi convidada a apresentar o um programa sobre música sertaneja na TV Cultura no início dos anos 1980, pois Nonô Basílio, que apresentava o programa, pretendia voltar para Minas Gerais fugindo da cidade grande. No início, ela apresentava o ‘Viola, minha viola’, ao lado de Moraes Sarmento. Foi Nydia Licia quem convidou a cantora para comandar a atração. No inicio Inezita não imaginava o que poderia fazer na TV. Mas Nydia insistiu, pois precisava de um substituto para Nonô Basílio, e para ela tinha que ser mulher. “Dois homens na apresentação ficam meio sem graça”, ela disse à Inezita.

O programa de auditório era apresentado em um teatro, e desde o início não sobrava espaço para quem queria. “O ‘Viola’ foi um sucesso de público e de audiência desde o primeiro programa. Sempre lotou e sempre tem gente chiando dizendo que não conseguiu entrar porque a capacidade do teatro é de 200 pessoas”. O sucesso do programa fez com que ele se movesse para quase 100 cidades em meados dos anos 1980. “O palco do Viola era levado inteiro para as cidades paulistas de caminhão. Chegava no sábado e era montado pelos maquinistas durante a tarde e a madrugada”.

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