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Todo mundo odeia anticoncepcional

O que antes era símbolo de emancipação feminina, o que representava para nós uma maior liberdade sexual e sobre as decisões acerca do próprio corpo, hoje, décadas depois das campanhas governamentais pró-uso da pílula anticoncepcional e depois de muito ouvirmos Odair José implorar musicalmente para sua amada parar de tomar a pílula, os efeitos deste pequeno avanço medicinal começam a ser sentidos, em alguns casos, de forma bem dolorida.

Não é raro encontrarmos depoimentos na internet de mulheres relatando seus dramas após o uso de pílulas anticoncepcionais. Desde náuseas, dores de cabeça, até problemas mais graves, como é o caso de Geovana Moura, que encontrava-se internada na Huapa, com trombose, em decorrência do uso da pílula anticoncepcional. Geovana conta que, após oito meses de uso da pílula, passou a sentir dores na barriga e na perna. Depois de consultar o terceiro médico, vieram os exames e o diagnóstico. A jovem passou nove dias internada, e as dores só amenizaram no quarto dia.

“Os médicos disseram que eu tive sorte de ter vindo assim que as dores começaram, pois eu poderia ter sofrido uma embolia pulmonar”, afirma. Segundo a paciente, ela está impedida de fazer uso de contraceptivos hormonais, e fará tratamento de seis meses a um ano, usando anticoagulantes contra a trombose. Através de Geovana, tive também o conhecimento de uma página no Facebook, intitulada “Um veneno chamado anticoncepcional”, que reúne mais de 63 mil seguidores, além de fóruns de discussão acerca do assunto, depoimentos de mulheres que foram vitimadas pelo uso de pílula, além da ajuda mútua oferecida pelos membros.

Natália Marques, Ana Paula Alcânfor, Kadija Kalassa, Ana Carla Zelo, Geovana Arruda, Bruna Garcês, Priscylla Alves, Maíra Jaime, Iana Nascimento, Danúbia Rodrigues, Ana Simiema, Marina Araújo e Natália Jaquinta são mulheres com idade entre 20 e 30 anos, e todas já fizeram uso de pílulas hormonais contraceptivas. Além do ponto em comum entre elas e outros milhões de mulheres pelo mundo, muitas relatam dores, desconfortos, alterações de humor, alteração na estrutura da pele e cabelo, o que fez algumas delas interromperem o uso do medicamento, e buscarem formas alternativas de contracepção. Entre as alternativas encontradas por elas, estão a convencional camisinha, além de métodos contraceptivos de longa ação, como os implantes subcutâneos, DIU e SIU, liberador de levonorgestrel. Entenda mais sobre estes métodos, e como cada um influencia ou influenciou na vida destas jovens.

O que dizem essas mulheres?


“Eu comecei a tomar anticoncepcional quando eu tinha 14 anos. Na época me fez muito bem, porque eu era um bomba de hormônio e passava mal antes da menstruação descer todo mês, até desmaiar eu desmaiava. Eu emagreci bastante e as cólicas melhoraram, usei ele por uns três anos. Mas depois ficou complicado. Eu descobri que a quantidade de hormônios no remédio contribuía com a minha depressão e todos os remédios que eu tomava pra isso cortavam o efeito do anticoncepcional... Ninguém fala sobre isso, sabe? E eu pilhava né, porque quando a minha mãe engravidou de mim ela estava tomando anticoncepcional. Fora que eu tomava roacutan, que também cortava o efeito do anticoncepcional. A menstruação começou a ficar desregulada e eu fiquei 2 meses sem menstruar. Continuei usando, porque o médico não quis trocar, e  aí começou a me fazer mal: dor de cabeça, sangrava no meio do ciclo, engordei”.

“O primeiro que tomei foi o Diane 35. Me dava náuseas, muita espinha. Depois tomei o Selene e foi ótimo pra minha pele. Depois fiquei 2 anos sem tomar e descobri que tinha cisto no ovário policístico e o médico me prescreveu o Lumi para fazer o tratamento e funcionou, ele é ótimo pra pele, cabelo e tomo há uns 3 anos. Porém, ele custa em média de 38 a 45 reais".

“Não engordei, minha pele melhorou horrores, mas... tenho mudanças de humor repentinas quando estou menstruada. Pode ser a chamada TPM, mas se intensificou mais quando comecei a tomar AC”

“Quando eu entrei na puberdade comecei a tomar 'pra regular' e nunca parei. Percebi com o tempo que as minhas alterações de humor poderiam ser por causa do remédio e resolvi parar pra testar. Minha menstruação hoje é muito mais regulada, sangro menos, sinto menos dores, e minha TPM está bem mais suave. E como eu tenho tendência à depressão, por enquanto não quero voltar a tomar. Mas parei na doida, sem recomendação médica.  Não aconselho e acho que isso é muito pessoal. E no momento eu  não estou usando nenhum método contraceptivo, só camisinha mesmo".

O que são LARCs?


Os LARCs são Contraceptivos Reversíveis de Longa Duração (Long Acting Reversible Contraception), característicos pelo bloqueio da fertilidade e a facilidade no uso diário. Ao contrário das pílulas anticoncepcionais, os LARCs não requerem cuidados cotidianos, nem exigem da paciente um compromisso com o mesmo. Sendo uma vez introduzido na paciente, o LARC age desde o princípio, só perdendo a eficácia após sua remoção.

Existem três métodos contraceptivos conhecidos no Brasil: o implante subcutâneo; o dispositivo intrauterino (DIU) de cobre; e o sistema intrauterino (SIU), uma espécie de DIU hormonal, liberador de levonorgestrel. Ambos podem ser realizados através de procedimento simples, no próprio consultório médico. Segundo a ginecologista Cristina Guazzelli, professora da Escola Paulista de Medicina (UniFesp), a Organização Mundial da Saúde considera os LARCs o mais eficaz método contraceptivo, justamente pela facilidade de manuseio. Quando a paciente esquece de se medicar, ou toma a pílula de forma irregular, pode contribuir na queda da eficácia da pílula.

A Dra. Cristina Guazzelli afirma que não existem métodos contraceptivos 100% eficazes, porém, ressalta que as taxas de fertilidade durante uso de LARC são muito baixas. Uma gravidez para cada 125 mulheres, com uso de DIU de cobre, durante um ano de uso; uma gravidez para cada 500 pacientes durante um ano de uso do SIU liberador de levonorgestrel; e uma gravidez para cada duas mil pacientes que utilizaram implante subcutâneo no último ano. Já com camisinha, a taxa de fertilidade sobe para 18 a 21%, e da pílula hormonal a taxa é de 9%. Vale ressaltar que o uso de preservativo (camisinha feminina/masculina) é recomendado não apenas contra a gravidez, mas também na prevenção de doenças, sendo o único método eficaz na luta contra DSTs.

Os contraceptivos de longa ação, na visão de pacientes


“Em agosto de 2012 coloquei o DIU (válido por 5 anos) por indicação do meu namorado, fui até o consultório com muitas dúvidas e medo de perfurar o útero como as pessoas sempre diziam, mas o médico, bastante profissiona,l me perguntou o porquê de ter escolhido aquele método e me mostrou todos os outros. A minha escolha foi devido ao fato de não mais menstruar. Coloquei no centro cirúrgico mesmo, e menos de 30 minutos já tinha saído do consultório, mas com muita dor. O primeiro mês foi terrível, senti cólica todos os dias, cólicas fortíssimas o mês todo, escurecia minha visão de tanta dor, até que se passou o primeiro e meu corpo se acostumou com aquele ‘corpo estranho’. E depois foi uma maravilha, nada de cólica, não menstruava, às vezes sangrava um pouquinho, bem pouquinho, um Carfree era suficiente pra segurar o dia todo e só vinha a cada 3 ou 4 meses. Só vi vantagem, ele é quase 100% seguro. Hoje, com 4 anos usando o DIU sinto um pouco de cólica sim, mas o fluxo continua o mesmo (quase nada).Super indico!”

“Há cerca de 1 ano e meio meu ginecologista me recomendou o uso o anel vaginal. Ele é um anel de silicone transparente que libera pequenas quantidades de hormônio impedindo a ovulação. É perfeito, pois não tenho enjoos e não interferiu em nada a minha pele e nem no meu  peso. Tem os efeitos colaterais menores se comparado aos outros métodos. Além de ser cômodo, pois só se troca uma vez por mês. Não troco por nenhum outro".

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