Cultura

As lembranças de Chico Taboca, o lobisomem

Diário da Manhã

Publicado em 4 de fevereiro de 2017 às 01:33 | Atualizado há 4 meses

Chico Taboca era um retirante baiano cheio de prosa, que mudou-se para Inhumas (GO) na década de 1940 e lá permaneceu até sua morte, em 1987. No município goiano, ficou conhecido como um contador de histórias nato. Até tinha o traquejo de se envolver nas narrativas que construía. Vivia dizendo aos vizinhos que virava lobisomem, por exemplo. Se era verdade ou não, ninguém pode dizer, mas esta imaginação o imortalizou, é fato. E hoje, suas invencionices, se confundem com a própria história da cidade onde morou e podem ser conferidas no novo livro do escritor Gleidson de Oliveira Moreira “Chico Taboca…O Lobisomem” (Ed. Kelps).

A publicação é destinada ao público infanto juvenil e traz ilustrações de Rafael Martins, que podem até ser coloridas pelas crianças–e adultos. A intenção do escritor, que também é professor e historiador, vai além de entreter e de envolver as crianças no mundo literário–o que é tão difícil nos dias de hoje, diga-se de passagem.

Gleidson guarda nas 17 páginas de “Chico Taboca… O Lobisomem” uma forma de valorizar a memória folclórica de um personagem real e querido na cidade. “Pretendo utilizar a obra como material didático e ressaltar a memória social das crianças, pois Chico Taboca contribuiu para um novo olhar sobre o fazer história. Esta cultura imaterial ajuda na compreensão antropológica de como os migrantes nordestinos ajudaram a pensar a identidade goiana”, explica o escritor Gleidson.

Também pensando nisso, o livro, além da antiga história do homem que vira lobo, traz outras invencionices de Chico, que foram contadas por seus próprios vizinhos. Uma delas é a de que Chico era um caçador de onças forte e corajoso. “Trata-se de uma história genuína e inédita contada na versão de Chico Taboca”, completa o escritor.

Exemplo

O compromisso com a educação infantil por meio da literatura, para Gleidson começou há alguns anos foi e o acompanhou em sua graduação, mestrado e carreira profissional. No entanto, se intensificou quando escreveu o primeiro livro infantil, lançado em 2015, intitulado “Inhuma, A Ave Encantada”. A obra conta a história, também de forma lúdica, de Inhumas, a cidade em o escritor vilaboense mora e cresceu.

Porém, é preciso dizer que o dom da narrativa para este autor aflorou ainda mais cedo. Pois, ele conta, que por ser filho de professora, e ver desde muito criança a mãe lendo, o fez aprender a contar e inventar histórias antes mesmo de aprender a ler. “Acredito muito na pedagogia do exemplo. Me tornei um leitor pelo contato que tive com minha mãe. Acho que a criança de hoje deve ter um estímulo para literatura”, reflete.

Micro no macro

A paixão pelo mundo criativo das letras, ele uniu à curiosidade de um historiador ávido, que busca antes de tudo as origens da cidade em que vive e seus peculiares moradores.

“Quando entrei na academia me interessei pelas histórias do interior, as chamadas municipalidades, coisa que a academia valoriza pouco, a história macro era mais importante. Daí tive contato com pessoas, idosos, histórias de vida que fizeram apaixonar pelo macro, no micro”, analisa o autor, que no mestrado ampliou a pesquisa, quando estudou a influência da imigração italiana em Goiás, tendo como base uma família moradora de Inhumas, os Balestras.

E na conversa e observação cotidiana de membros da cultura popular, que Gleidson–que antes de “Chico Taboca… O Lobisomem” e “Inhuma, A Ave Encantada”–havia lançado sete livros acadêmicos, encontrou a forma de se tornar um educador moderno, que faz a diferença. “Gosto de falar dos personagens anônimos, aqueles que vivem excluídos e que tem muitas, e muitas histórias. Chico Taboca, por exemplo, é uma referência para se pensar na construção da memória social”, reflete o escritor.


Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia

últimas
notícias