Cultura

“E todo ser é uma agonia flamejante”

Diário da Manhã

Publicado em 8 de fevereiro de 2017 às 00:52 | Atualizado há 4 meses

O pintor e gravurista Franz Marc foi um dos expoentes do movimento expressionista alemão. Ajudou a fundar o jornal Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul), cujo nome representaria, mais tarde, um sinônimo do circulo de artistas que com ele colaboravam. O artista nasceu em Munique, no ano de 1880. Na época a cidade era capital do Reino da Bavária (na época a Alemanha não era um país unificado). Seu pai, Wilheim Marc, era um pintor profissional de paisagens, e sua mãe, Sophie, era dona de casa e calvinista tradicional. Em 1900, Marc começou seus estudos na Academia de Belas Artes de Munique, onde foi aluno de professores como Gabriel Von Hackl e Wilhelm Von Diez.

Durante meados da primeira década do século XX, passou algum tempo na França, particularmente em Paris, visitando museus da cidade e copiando várias pinturas, uma forma tradicional de estudo e desenvolvimento de técnicas dos artistas da época. Em Paris, Marc frequentou alguns círculos artísticos, encontrando muitos artistas, além da atriz Sarah Bernhardt, uma das divas do teatro e do início do cinema, que na época era conhecida como “a atriz mais famosa que o mundo já conheceu”. Nessa época, Franz Marc descobriu uma forte afinidade pela obra do pintor holandês Vincent Van Gogh. Em 1906, viajou com seu irmão mais velho por várias cidades da Grécia.

Alguns anos depois, em 1910, Marc desenvolveu uma grande amizade com o artista August Macke. Em 1910, pintou os quadros Nude with Cat e Grazing Horses, exibidos na Galeria Thannahauser, durante a segunda exposição da Nova Associação dos Artistas de Munique, visto como o primeiro grupo de artistas modernistas da Alemanha no século XX. O ano seguinte marcou a fundação do jornal Der Blaue Reiter,que tornou-se o centro de um círculo artístico que incluía, além de Marc, nomes como Wassily Kandinsky e outros que decidiram se desligar da Nova Assoviação dos Artistas de Munique. Marc exibiu vários de seus trabalhos durante a primeira exibição promovida pelos artistas do jornal entre 1911 e 1912.

O período entre dezembro de 1911 e janeiro de 1912 é considerado o ápice do movimento expressionista na Alemanha. A exposição organizada pelos artistas do Blaue Reiter percorreu mais quatro cidades: Berlin, Colônia, Hagen e Frankfurt. Em 1912, Marc conheceu Robert Delaunay, que através de suas cores de do método futurista tornou-se sua maior influência. Fascinado pelos movimentos de vanguarda (principalmente cubismo e futurismo), Marc criou obras que foram progressivamente adquirindo uma natureza abstrata. Ele pintou O tigre e Cervo vermelho em 1912; no ano seguinte, criou A torre de cavalos azuis, Raposas e Destino dos animais. Tais pinturas são parte do primeiro escalão de toda a sua obra.

 

Guerra

Com a deflagração da Primeira Guerra Mundial em 1914, Marc foi encaminhado para o Exército Alemão como membro da cavalaria. Em fevereiro de 1916, como consta em uma carta que enviou para sua esposa, ele foi transferido para a camuflagem. Sua técnica para esconder a artilharia da observação aérea era pintar capas de lona em estilho pontilhista. Ele pintou nove coberturas de lona em estilos variados “de Manet à Kandinsky”, suspeitando que o último seria o mais eficiente contra forças aéreas inimigas que estivessem voando acima dos 2000 metros.

Após uma mobilização das forças armadas, o governo alemão decidiu retirar os artistas notáveis do campo de batalha. Marc estava na lista, mas foi atingido na cabeça e morto instantaneamente por uma lasca de escudo durante a batalha de Verdum, em 1916, antes que as ordens de redesignação conseguissem alcançá-lo. Franc Marc tinha apenas 36 anos, e foi declarado morto no dia 4 de março de 1916. A data de hoje marca 137 anos de seu nascimento. Como homenagem, a casa de sua família em Munique foi condecorada com uma placa histórica. Em 1999 seu quadro A cachoeira foi vendido por 5,06 milhões de dólares para um colecionador. É considerado seu quadro mais caro.

Marc gostava de experimentar técnicas para desenvolver suas obras. Ele criou cerca de de 60 gravuras em xilografia e litografia. A maioria de seus trabalhos de sua fase mais conhecida incluem animais, geralmente situados na natureza. Seu trabalho é caracterizado por cores primarias brilhantes em retratos semi-cubistas de animais, fortemente marcados pela simplicidade e pela emotividade. Uma de suas pinturas mais conhecidas é Destino dos animais, que está exposto no Museu de Belas Artes de Basileia, na Suíça. Nas costas da tela, Marc deixou escrita a frase “E todo ser é uma agonia flamejante”. Durante a primeira Guerra, escreveu para sua esposa sobre a pintura: “É como uma premonição dessa guerra: horrível e devastador. Mal posso conceber que eu o tenha pintado”.

1


Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia

últimas
notícias