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Morre Toni Morrison, primeira negra a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura; conheça suas obras

A escritora Toni Morrison, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura em 1993, morreu aos 88 anos na última segunda-feira (5/8). A norte-americana entrou para a história ao se tornar a primeira afro-americana a ganhar o Nobel.

Nascida no estado de Ohio, a autora ficou conhecida por obras que descrevem os obstáculos políticos e sociais enfrentados pela comunidade negra ao longo da história americana, com foco em personagens femininas.

Em uma estética singular, sua narrativa mistura vozes de homens, mulheres, crianças e até fantasmas em camadas de polifonia. Mito, magia e superstição estão interligados com verdades cotidianas, uma técnica que levou suas obras a serem comparadas ao realismo fantástico de Gabriel Garcia Marquez.

"Não devemos ter medo de olhar para o passado porque só assim sabemos quem somos”, diz Toni Morrison

A escritora com seu sucesso de crítica e de público já esteve nas listas de mais vendidos do jornal The New York Times. Comprometida com a luta contra a discriminação racial, ela foi a primeira afro-americana a receber o Nobel.

Ressalta-se também que, a academia sueca responsável pelo prêmio baseou sua decisão em conceder-lhe o prêmio no fato de que "com sua arte narrativa impregnada de força visionária e poesia, ela oferece uma pintura viva de um aspecto essencial da realidade americana".

Morrison marcou a história da literatura não apenas por ter sido a primeira mulher negra a receber o Prêmio Nobel, mas também pelo Prêmio Nacional da Crítica pelo romance Song of Solomon (1977), o Pulitzer por Amada (1987), pelo sucesso de público e crítica com Jazz (1992) e ao tornar-se membro da Academia Americana de Artes e Letras e do National Arts Council.

Nesse sentido, os romances de Morrison são considerados um relato da história sociopolítica de sua raça que está entrelaçada com a de seu país: a dos negros escravizados, a dos afro-americanos e a das influências recíprocas entre eles e o resto da sociedade. “O que eu faço é remover os curativos para que a cicatriz seja vista, a realidade. Não devemos ter medo de olhar para o passado porque só assim sabemos quem somos”, sustenta a autora.

Conheça seus principais trabalhos:

O Olho Mais Azul (1970)

Este livro marca a estreia de Toni Morrison como romancista, que conta a história de Pecola Breedlove, menina negra que sonha ter olhos azuis. Ela é filha de Cholly e Pauline Breedlove, e também sofre opressão dentro de casa pelo pai e pela mãe, que prefere dedicar seu amor à família branca para a qual trabalha. Na escola, a jovem é ridicularizada até pelas outras crianças negras, pois é quem tem a pele mais escura.

Além disso, ela vive em uma época em que o modelo de beleza é o da atriz branca Shirley Temple. Então, todas as noites, a pequena Pecola reza para ter olhos azuis para ser aceita socialmente. Um dia, seu pai bebe demais, agride a mãe na frente de Pecola e coloca fogo na casa da família. O serviço social instala temporariamente a menina na casa da família MacTeer.

Segundo a Companhia das Letras, Toni Morrison escreveu este livro entre 1962 e 1965, com uma íntima correspondência com a biografia da autora. Como ela mesma afirma no posfácio desta edição, escrito em 1993, o livro é uma tentativa de dramatizar a opressão que o preconceito racial pode causar em uma criança negra do sexo feminino.

Sula (1973)

A obra rendeu indicação ao National Book Award, e conta a história de Nel Wright e Sula Peace, que se conhecem quando crianças na pequena cidade de Medallion, Ohio. As duas amigas parecem completamente opostas, mas juntas escondem um terrível segredo.

Ademais, Sula é especialmente importante pela maneira como vai contra as estruturas sociais, em que aborda principalmente a complexidade das mulheres como seres multidimensionais com relações familiares igualmente complexas. As primeiras personagens femininas introduzidas são quatro gerações de mulheres da família de Nel.

Toni Morrison já teve suas obras comparadas ao realismo fantástico de Gabriel Garcia Marquez.

Amada (1987)

O livro ganhou o Pulitzer de 1988: em 2006, foi eleito pelo The New York Times a obra de ficção mais importante dos últimos 25 anos nos Estados Unidos. Foi feita uma adaptação cinematográfica, em 1998, com Oprah Winfrey no papel principal.
A obra é baseada em uma história real, ambientada em 1873, quando os Estados Unidos estavam lidando com a escravidão recém-abolida e suas consequências.

Na narrativa, a ex-escrava Sethe foge da fazenda em que era mantida cativa com os filhos para refugiar-se na casa da sogra em Cincinatti. No caminho, ela dá à luz um bebê, a menina Denver, que vai acompanhá-la ao longo da história. O livro é considerado um clássico contemporâneo e faz um retrato ao mesmo tempo lírico e cruel da condição do negro no fim do século 19 nos Estados Unidos.

Paraíso (1993)

Paraíso é o primeiro romance que Toni Morrison publicou depois de ter recebido o Nobel de Literatura, e faz um apelo à liberdade enquanto fala sobre ódio e intolerância. A história se passa em Ruby, uma cidedazinha de 360 habitantes no Oeste dos Estados Unidos, com muitas regras em que é fundamental ter o sangue cem por cento negro e ser temente a Deus.

"Não ouse cometer adultério, nem deitar-se com mulheres impuras, de pele mais clara que a sua. Acima de tudo, não se aproxime do convento, antro de perdição que acolhe mulheres como Gigi, uma sem-destino meio bandida, cansada de viver nas ruas, ou Pallas, dezesseis anos de pura insensatez, medo e vergonha. É preciso destruí-las: por causa delas há crianças nascendo defeituosas em Ruby", diz a descrição da editora Companhia das Letras.

A literatura de Toni Morrison estrutura um dos braços que fomentam a discussão acerca da autoria feminina. Para uma maior familiarização com a temática confira também nossa lista de três poetas que produzem literatura em língua portuguesa na atualidade.

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