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CULTURA

Resistência na telona

Vamos e venhamos: não foi à toa que o documentário “Espero a Tua (Re) Volta”, da cineasta paulistana Eliza Capai, recebeu diversos prêmios em festivais de cinema do Brasil e do exterior.

Lançado no circuito comercial há três semanas, o longa-metragem trata das manifestações puxadas pelos estudantes secundaristas de São Paulo, entre 2015 e 2018, e repressão da Polícia Militar (PM). Era um tempo politicamente conturbado, com o impeachment de Dilma Rousseff e a ascensão da direita.

Escorado por imagens de manifestações cedidas pelo fotógrafo e videomaker Caio Castor, o filme observa as minas, manos e tantos outros personagens que foram indispensáveis na luta contra o conservadorismo e em defesa da educação pública.

Três estudantes são os narradores: Marcela Jesus, Nayara Souza e Lucas “Konka”. “Espero a Tua (Re) Volta” é o equilíbrio entre a necessidade de empoderar, refletir e resistir em tempos de instabilidade que paira sob diversos setores da sociedade.

Com o objetivo de manter vivo o legado deixado pelo movimento estudantil, o ponto de cultura A Casa Vidro, que fica localizado na 1ª Avenida, no Setor Leste Universitário, exibe neste sábado (21), às 17h, o filme “Espero a Tua (Re) Volta”.

Alvo de violência policial durante protesto da Greve Geral em abril de 2017, o estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (UFG), Mateus Ferreira da Silva, 34, afirma que a exibição do documentário possui relevante papel pedagógico.

Segundo ele, que foi candidato a deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores (PT) nas eleições do ano passado, o registro de Eliza Capai tem importante papel de preservar a memória para que “a gente não esqueça as nossas lutas e nossas conquistas”.

Em entrevista ao Diário da Manhã, o produtor cultural Eduardo Carli de Moraes, 35, diz que a sociedade precisa conhecer e valorizar as mobilizações sociais que rolam na atualidade e que rolaram no passado recente. “O filme retrata com empatia e entusiasmo o ativismo destes jovens em prol de um ensino público de qualidade”, reflete Carli, acrescentando: “Escolas e universidades sob ocupação estudantil foram transformadas em laboratórios de outros mundos possíveis.”

Na sequência haverá debate com a presença do estudante Mateus Ferreira da Silva, da historiadora Juliana Marra e da Militante do Levante Popular da Juventude, Helen Clara. Também serão projetos os curtas-metragens “Seja Realista, Exija o Impossível”, de Isadora Malveira e “Tsunami da Balbúrdia”, dirigido por Eduardo Carli de Moraes.

“O sistema político partidário e a democracia liberal são eficientes em excluir as vozes subalternas que falam, mas não são ouvidas. E como às vezes somos confrontados por pequenas utopias no tempo e espaço, como foram as ocupações, um lugar de exercício da solidariedade e que obrigou as elites ouvirem e marcou a vida desses jovens”, analisa Mateus Ferreira, completando: “A crise de representação é inerente aos sistemas políticos partidários e isso vale para todas os grupos que não se veem representados”.

Contexto

Entre 2015 e 2018, o cenário político pelo qual o Brasil passava não era nada animador. Politicamente, o País assistia todos os dias no horário nobre a queda na popularidade da então presidente Dilma Rousseff (PT), que levou a destituição dela do Palácio do Planalto.

Forças reacionárias cresciam no tabuleiro e um ex-capitão do Exército chamado Jair Bolsonaro começou ter visibilidade por conta de sua retórica saudosista dos anos de chumbo da ditadura.

Quando a crise se acentuou, os estudantes saíram às ruas e ocuparam escolas como uma maneira de protestar em defesa do ensino público. Além disso, “Espero a Tua (Re) Volta” acompanha as lutas estudantis desde as marchas de 2013 até a vitória do presidente Bolsonaro.

Com palavras de ordem “o governo pode esperar tudo de nós, menos silêncio”, o filme mostra como foi os períodos de intensa e utópica mobilização estudantil.

Além disso, “Espero a Tua (Re) Volta” foca em apresentar ao espectador as manifestações do passado recente do movimento estudantil brasileiro. A narrativa do longa flui de maneira fácil e conta com consistente aparato histórico e que agrega ao olhar da realização do documentário gravações feitos por outros cineastas independentes.

Seria oportuno destacar as colaborações de Caio Castor, gravadas entre 2015 e 2016, e Henrique Cartazo, do Jornalistas Livres.

Serviço

‘Espero Tua (Re) Volta’

Data: sábado (21)

Horário: às 17h

Onde: A Casa de Vidro

Endereço: 1ª Avenida, 974, St. Universitário, Goiânia

Entrada Franca

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