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Siron na telona

Uma coisa é certa: Siron Franco, 72, é um patrimônio das artes plásticas. E tal reconhecimento não é à toa. Dono de um estilo singular, sua pintura foi comparada por críticos à produção artística do pintor inglês Francis Bacon (1909-1992). Bom, o que chama atenção no trabalho do goiano são as superfícies de alta sensualidade, traços distintivos e tantas outras deformações, estilo presente nas “Fábulas do Horror”, de 1975, “Semelhantes”, 1980, e “Peles”, lançado quatro anos depois.

Nascido em 1947 na cidade de Goiás, Siron mudou-se para Goiânia na década de 1950, onde estudara pintura com D.J Oliveira (1932-2005) e Cleber Gouvêa (1942-2000). Em 1960 foi aluno ouvinte na Escola de Belas Artes da Universidade Católica de Goiânia, atual Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). Entre 1969 e 1971, já morando em São Paulo, o pintor passa a frequentar os ateliês de Bernardo Cid (1925-1982) e Walter Levy (1905-1995).

Na capital paulista, Siron passa a fazer parte do grupo que faz a exposição do Surrealismo e Arte Fantástica, na Galeria Seta. Em 1975, com o prêmio viagem ao exterior, o artista morou em várias capitais europeias. Quatro anos depois, dá o pontapé inicial no Projeto Ver-A-Cidade, realizando interferências em Goiânia. Nos anos de 1980, resolveu enveredar para outros lados e comandou a direção de arte para documentários de televisão como “Xingu”, de Washington Novaes.

Claro que uma trajetória tão rica no mundo das artes plásticas não poderia passar despercebida em outra arte: o cinema. Com roteiro e direção assinados por André Guerreiro Lopes e Rodrigo Campos, o documentário “Siron – Tempo Sobre Tela” será exibido hoje na Reserva Cultural, às 19h40, como parte da programação da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo – um dos maiores eventos do audiovisual. O filme ainda não tem data prevista para estrear no circuito comercial.

Em entrevista ao Diário da Manhã, Siron Franco contou que o longa-metragem é sobre sua trajetória, “mas também não é”. Siron revela que a espinha dorsal do filme começou no ano 2000, quando o artista morava em Londres. “17 anos depois eles apareceram, pois tinham ganhado incentivo da Agência Nacional do Cinema (Ancine)”, diz o artista. Em um primeiro momento, o longa ia se chamar “Camaleão”, porém os idealizadores optaram por “Siron – Tempo Sobre Tela”. “Mudaram todo o percurso do filme”. Siron, é claro, adorou o nome.

Mergulho

Siron Franco relata que André Guerreiro Lopes e Rodrigo Campos fizeram um mergulho em seu acervo de fitas VHS. “Você vai vendo o tempo passar e eu trabalhando”, conta. Segundo o artista plástico, o longa-metragem “Siron – Tempo Sobre Tela” virou uma investigação realizada por “dois artistas sobre um artista”. “Eu estava com medo – não por duvidar do talento deles -, e sim por me ver. Ainda estou construindo a minha obra. Não acho que fiz nada grandioso”, afirma.

Questionado por este repórter sobre o que achou do filme, Siron disse que a obra possui vários aspectos interessantes e que lhe chamaram a atenção. “Gostei como eles juntaram o material e montaram o longa”, responde, acrescentando: “O filme é uma lição de persistência para mim. Além disso, gostei bastante da estética do documentário. Fazer arte no Brasil é resistência, pois estamos passando por um atraso civilizatório. Nem o mais louco ficcionista ia imaginar algo assim”.

Apesar dos desencantos da política, o artista plástico demonstra uma visão otimista de mundo e acredita que é preciso dar voz aos jovens. “Esses governos frustraram muitas gerações e a juventude não aceita mais o papo desses caras, de pessoas da minha geração que ficaram velhos”, comenta ele, que ganhou projeção internacional na década de 1970 ao faturar o prêmio XII Bienal Internacional de São Paulo, em 1973, de melhor pintor.

De vocação crítica, sua obra coloca o espectador para refletir sobre o cotidiano, com o objetivo de mostrar os perigosos que o cercam e de destacar a necessidade de buscar a consciência dos valores humanos, da cidadania e da ética. Isso, por exemplo, pode ser constatado na série “Césio”, de 1987. “A série de desenhos executados a guache sobre o suporte preto do papel, registra de uma maneira simples e despretensiosa, com gesto enérgico e linha firme, ao modo de esboços realizados na trincheira, personagens e acontecimentos envolvidos no acidente radioativo”, escreve.

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