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Lágrimas a Henry Sobel

Texto: Renato Dias

Infográfico: Elson Souto

Edição: Marcus Vinícius Beck

Morta a sangue frio, desarmada, solitária, em 20 de agosto de 1971, em um edifício, na Praia de Pituba, Salvador, Bahia, a ‘Terra de Todos os Santos’. O seu corpo acabou exumado. A perícia realizada em 22 de setembro de 2003. O laudo oficial emitido em 16 de maio do turbulento ano de 2005. O documento desmentiu a versão oficial. Da ditadura civil e militar. De um suposto suicídio. A investigação científica permitiu que os seus restos mortais fossem enterrados longe da ‘ala dos suicidas’, no Cemitério Israelita de Butantã, em São Paulo, capital. É a trágica história de Iara Iavelberg. Militante com passagens pela Vanguarda Popular Revolucionária, a VPR. Além da VAR - Palmares, a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares. A revolucionária que cursara Psicologia, era cult, gauche e de rara beleza estética & plástica, uma mulher além do seu tempo, morreu no MR-8. Mulher do capitão da guerrilha, Carlos Lamarca, homem abatido faminto, esquálido, sedento, no sertão da Bahia, em 17 de setembro do mesmo ano. A celebração religiosa de seu enterro foi ministrada pelo rabino emérito Henry Sobel.

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Lágrimas a Henry Sobel

Haroldo Reimmer, ex-reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG), lembra importância do líder religioso para a luta contra a ditadura
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Lágrimas a Henry Sobel

Filósofo Railton Nascimento diz que rabino "Henry Sobel entra para a história"

Nascido no ano de 1944, em Portugal, filho de pai belga e mãe polonesa, ambos judeus, em fuga do nazismo, de Adolf Hitler, que executava a ‘Solução Final’, sob a segunda guerra mundial, conflito que devastou a Europa, de agosto de 1939 a agosto de 1945,  Henry Sobel  radicou-se nos Estados Unidos das Américas. Ele resolveu transferir-se para o Brasil, em 1970. Anos de Chumbo e de Ouro. Da ditadura civil e militar, instalada após o golpe de Estado civil e militar que depôs o presidente da República, João Belchior Marques Goulart. Um homem nacional-estatista. Em sua versão trabalhista. Operação insuflada pelos EUA, deflagrada pelas Forças Armadas – Exército, Marinha e Aeronáutica –, com o aval do Congresso Nacional, que havia sido eleito em 1962 financiado com dólares da CIA, repassados ao IPES e ao IBAD, coordenados por Golbery do Couto e Silva, ratificado pela Corte Suprema do País. Não custa lembrar: com o suporte dos grandes conglomerados de comunicação – TV, rádios, jornalões e revistas dos barões da comunicação –, da CNBB, OAB, ABI e até das classes médias fascistas e católicas.  

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Lágrimas a Henry Sobel

Fernando Santos, sociólogo com doutorado pela UFG, avalia importância do legado de Sobel
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Lágrimas a Henry Sobel

Para o teólogo e jornalista Ton Alves, Sobel deu uma guinada na luta contra a ditadura

Jornalista, fotógrafo, funcionário da TV Cultura, judeu iugoslavo,Vladimir Herzog, com a queda da célula do Partido Comunista Brasileiro [PCB], legenda da foice e do martelo, fundada em 25 de março de 1922, em Niterói, por nove operários, é intimado a depor no Dops [Delegacia de Ordem Política e Social do Estado de São Paulo]. No dia 24 de outubro de 1975. O presidente da República, à época, Ernesto Geisel. Governador do Estado de São Paulo, Paulo Egydio. Secretário de Cultura, José Mindlin. Paulo Markun já estava preso. Na cadeia. Submetido a torturas. Inomináveis. Vladimir Herzog informou aos agentes da repressão política e militar que compareceria ao órgão da ditadura civil e militar. No dia seguinte: 25 de outubro. O que ocorreu. Torturado, morreu horas depois. O Exército divulgou uma nota oficial. Suicídio. Mentira! Clarice Herzog caiu em prantos. O filho Ivo Herzog observava as lágrimas da mãe. Elis Regina cantou. “Choram Marias e Clarices”, letra de João Bosco e Aldir Blanc. Tempos Sombrios. Egan Colby, em memorando à CIA, diz que a ordem do Palácio do Planalto era matar:  ‘subversivos’.

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Lágrimas a Henry Sobel

Frederico Victor de Oliveira comenta a importância de Henry Sobel

Inconformados, vozes da sociedade civil ainda amordaçada resolvem dar um ‘Basta!’. Presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, Audálio Dantas denunciou o crime. Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo de São Paulo; o reverendo presbiteriano Jaime Wright, irmão do desaparecido político, ex – Ação Popular Marxista Leninista, dissidência da Ação Popular, incorporada pelo PC do B, em 1972, Paulo Wright; e o rabino emérito Henry Sobel, da Congregação Israelita Paulista [CIP], não aceitaram  a desculpa esfarrapada dos homens de farda verde-oliva e coturno preto da caserna. Os três celebraram um culto ecumênico. Na Catedral da Sé. Para oito mil pessoas consternadas.  A repressão fechou o cerco. O rabino determinou que Vladimir Herzog não fosse sepultado na ala dos suicidas. Contra setores conservadores do Judaísmo, no Brasil. Um gesto de desobediência civil. De respeito à consciência cidadã. Com múltiplos ritos judaicos, o ex – diretor da TV Cultura foi enterrado no Cemitério Israelita do Butantã. A ditadura civil e militar demorou mais 10 anos para acabar.

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Lágrimas a Henry Sobel

Oliveira lembra críticas do rabino ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva
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Lágrimas a Henry Sobel

"É uma personagem emblemático", diz Carlos Ugo Santander, diretamente Peru

Depoimentos

Um rabino que entrará para a História dos torturados à época da ditadura civil e militar, diz o ex – reitor da UEG Haroldo Reimmer. Além da destruição de reputações em onda no País, explica o professor. Uma biografia respeitável, decreta o pesquisador das religiões e da Filosofia. Trata-se de um defensor incansável da democracia, da cidadania e dos direitos humanos, observa o filósofo Railton Nascimento, presidente do Sinpro e da CTB. Não temia as ameaças da ditadura, explica o sindicalista. Doutor da UFG, Fernando Santos lembra que Henry Sobel, progressista, com o diálogo aberto aos múltiplos credos, ecumênico, contestou a versão das Forças Armadas sobre a morte de Vladimir Herzog. Tom Alves, jornalista, teólogo e pesquisador, conta que o personagem deu uma guinada na luta contra a ditadura civil e militar, era um amigo de Dom Paulo Evaristo Arns e do reverendo presbiteriano Jaime Wright, e recusou-se a sepultar Vladimir Herzog na ala dos suicidas. Um defensor da vida, o classifica. Jornalista, historiador, especialista em Geopolítica, Frederico Victor de Oliveira o vê como um ícone do Judaísmo no Brasil. Uma voz corajosa a denunciar os abusos e violações dos direitos humanos, como por exemplo, na morte de Vladimir Herzog, em 1975, insiste o ‘periodista’. Doutor da UFG, Carlos Ugo Santander revela que Henry Sobel é um personagem emblemático, protagonista sob o autoritarismo no Brasil, que atacou, em um clima repressivo, as mentiras e a ausência das liberdades no Brasil e na América Latina. O advogado Cristiano Rodrigues, anistiado político, relata, com exclusividade, que ele marcou a sua posição na História do Brasil

- Descanse em paz, Henry Sobel!

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Anistiado político, o advogado Cristiano Rodrigues rememora legado de Sobel
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De São Paulo, o jornalista Eduardo Reina disseca luta do rabino pela democracia
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Atuante no meio cultural goiano, o cantor Xexéu é taxativo: Sobel é um líder bastante conhecido pela sua luta

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