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Fotógrafa retrata mausoléu público de Goiânia em meio à crise do coronavírus

O fotógrafo Sebastião Salgado é um dos nossos maiores artistas das lentes, ô se não é: há cinco décadas ele dedica-se a documentar os horrores da humanidade. Nos anos de 1960, com endurecimento da ditadura civil e militar após o Ato Institucional Número (AI-5), Sebastião foi embora do País e ficou por mais de dez anos no exterior, deixando para trás um trabalho como economista. Nesta época, começou a retratar os resquícios das guerras e as mazelas da desigualdade, com seu o preto e branco puro que fazem a cabeça de diferentes gerações de fotógrafos, como é o caso da goiana Jake Vieira, 48.

Nascida em Goiânia em dezembro de 1971, a fotógrafa andou pelas ruas desertas da capital goianiense e clicou a paralisação provocada pelo novo coronavírus. As imagens de Jake foram tiradas de dentro do carro, mas em algumas ela precisou sair rapidamente do veículo, com máscara e todas as preocupações de higienização necessárias, para conseguir captar o mausoléu público da cidade. “Nas fotos mostrei as casas fechadas, portões com cadeados, ruas desertas. Uma Goiânia jamais vista. Refleti muito com tudo isso e desejei e desejo que tudo volte ao normal”, diz a artista.

Jake afirma que a exposição “ Vazio Recluso" tem como finalidade registrar esse momento de paralisação de comércios, bares, restaurantes, exposições, shows, espetáculos teatrais e lançamentos literários que acometeu Goiânia, e “que infelizmente entrará para a história”. “Tem também como intuito dividir o meu olhar com o público, dando oportunidade de uma exposição de arte sem sair de casa”, declara a fotógrafa, cuja exposição estará disponível para o público no Facebook e Instagram a partir das 8h desta quarta-feira (25), com mais de 100 imagens. A ideia do projeto, diz a fotógrafa, nasceu na quarentena.

“Não era para que eu saísse do confinamento, mas senti a necessidade de criar, registrar e eternizar esse momento tão diferente e incerto”, relata. Jake explica que tentou captar em seus cliques a pouca poesia que há na cidade no momento, “mas poesia”. Ela conta ainda que teve necessidade de compartilhar com a população um bom rolê para curtir na quarentena, já que não há tantas opções de lazer e cultura, “a não ser pela internet”. “Daí veio a ideia da exposição virtual. Fotografei a cidade deserta, por ser essa a realidade de hoje e dos próximos dias/meses, como em um filme de ficção”.

A fotógrafa revela também que se sente na obrigação de registrar momentos importantes e, por isso, montou a exposição “ Vazio Recluso”. “Pela responsabilidade e cumplicidade com o público”, setencia. Segundo ela, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, vem surpreendendo a população nos últimos dias por conta das medidas para evitar a disseminação do novo coronavírus. “Surpreendeu muito e positivamente quando tomou  atitudes a favor de conter esse vírus tão cruel”, diz. E arremata: “ganhou pontos quando não concordou com atitudes do atual presidente da República”, sacramenta.

De fato, iniciativas como a da fotógrafa Jake Vieira são um alento em tempos de quarentena. Ficamos com tédio, procuramos discos para ouvir, filmes para ver, livros para ler e... enjoamos como se fossemos uma criança que faz birra para se alimentar. E, quer queira, quer não queria, as alternativas são bem reduzidas: há poucas coisas que verdadeiramente valem a pena ser assistidas nas páginas da web, nas tevês, nos discos. Portanto, a exposição “Vazio Recluso” é a nossa cidade como ela é. E, embora esteja triste, sem vida, ainda há poesia. E o clique de Jake é isto: puro e poético, bem poético, eu diria. 

Serviço

Exposição ‘Retrato Vazio’

Quando: hoje

Horário: a partir das 8h

Onde: Facebook e Instagram

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