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Goiânia de Attilio: a construção da capital sob uma nova ótica

Na década de 1930, no meio do cerrado brasileiro, nascia uma cidade planejada por Pedro Ludovico Teixeira com a intenção de transferir a então capital, a Cidade de Goiás, para a futura Goiânia.

A idealização era trazer mais recursos para o Centro-Oeste e enriquecer o estado, já que na época somente o litoral brasileiro detinha as riquezas nacionais.

O arquiteto Attilio Corrêa Lima foi responável pelo projeto urbanístico da nova capital. Ele trouxe consigo o estilo Art Déco, que estava associado ao luxo e à modernidade, além de ter se inspirado jardins no modelo das cidades-jardins do urbanismo francês para definir a estrutura de Goiânia.

A cidade foi inicialmente projetada para 50 mil habitantes, mas em poucos anos o crescimento foi maior que o esperado e o que era para ser uma pacata cidade, hoje é uma das 10 maiores metrópoles do país, ultrapassando os 1,5 milhão de habitantes em seus limites urbanos.

As primeiras avenidas da cidade convergem na praça central, formando ali o que futuramente viria a ser o maior acervo Art Déco do Brasil. É um lugar que, se visto de cima, mais parece com o manto de Nossa Senhora.

O centro de Goiânia tem como ponto de partida a Praça Cívica, onde se encontra grande parte desse acervo Art Déco, como o Museu da Imagem e Som, Palácio das Esmeraldas, Museu Zoroastro Artiaga e o Coreto.

Na Avenida Goiás, ainda perto da Praça Cívica, encontra-se o Grande Hotel, o primeiro hotel de Goiânia, inaugurado em 1938, o Goiânia Palace Hotel, e descendo alguns quilômetros depara-se com a Estação Ferroviária, lugar que foi o portal da cidade por muitos anos.

Sem falar no Teatro Goiânia, a Torre do Relógio, o Lago das Rosas que por tanto tempo foi um local de diversão e entretenimento para a população da capital.

A região central da cidade é um exemplo perfeito de planejamento e estética que foi bem pensado e executado, abrindo espaço à modernidade e um novo conceito de cidade-jardim, uma capital no centro do Brasil com toques franceses.

Todo esse charme ainda é presente na cidade graças ao empenho de arquitetos, museólogos, historiadores e entidades que trabalham em conjunto para que a história iniciada por Attilio Corrêa Lima se faça presente em meio às modernas edificações que, com o tempo, vem roubando a cena.

Resgatando a memória

Entre esses profissionais que lutam pela preservação cultural da capital, está a arquiteta e urbanista Anamaria Diniz, que traz em seu e-book "Goiânia de Attilio Corrêa Lima: ideal estético e realidade política", novas facetas sobre o processo de criação da nova capital.

Anamaria Diniz. (Foto: Matheus Pains)

A autora afirma que “o livro traz aprofundamento na trajetória profissional do urbanista e documenta a conclusão e a entrega do trabalho de idealização da ‘nova capital’ que, ao longo dos últimos 80 anos, continua sendo desvirtuada”.

Para Anamaria, é importante que a história seja vista com mais cuidado, visto que a cidade planejada mostrava-se sem lógica urbana, na qual várias áreas verdes foram loteadas e dois grandes bairros foram redesenhados.

O lançamento do e-book acontece nesta quinta-feira, 29, às 19h no canal NegaLilu no YouTube e no Facebook. O preço promocional é de R$ 25 e US$ 10. O e-book está disponível em português e inglês.

O Diário da Manhã entrevistou Anamaria para saber os motivos pelos quais ela se interessou para estudar todo esse processo de construção da nossa capital, confira.

O que te motivou a estudar o processo urbanístico de Attilio Corrêa Lima em Goiânia?

A maior motivação para pesquisar os planos urbanísticos de Attilio Corrêa Lima para Goiânia foi compreender a cidade dita planejada que no entanto mostrava-se sem lógica urbana. Recém chegada na capital há 30 anos, a tragédia diária era encontrar os endereços. Eu questionava os moradores e ninguém sabia responder porque a cidade "planejada" tem suas ruas e avenidas enumeradas, mas sem uma sequência lógica. Esse foi o ponto de partida compreender o espaço urbano de Goiânia e seu planejamento.

Você afirma que ao longo dos últimos 80 anos, a história da idealização da entrega da nova capital foi desvirtuada. Quais motivos te levam a afirmar isso?

Os projetos urbanísticos para a nova capital de Goiás, Goiânia, bem como os projetos arquitetônicos dos principais edifícios foram elaborados pelo arquiteto e urbanista Attilio Corrêa Lima. Infelizmente, logo no início da implantação da cidade, nas aberturas de ruas e quadras, por interesses especulativos de um grupo ligado ao interventor Pedro Ludovico Teixeira, o plano foi desvirtuado. Várias áreas verdes foram loteadas, o Setor Sul e Oeste foram redesenhados. A concepção original do plano urbanístico, no qual o núcleo pioneiro era emoldurado por parques lineares não foi implantado. O Parque Botafogo e Parque Campim Puba praticamente sumiram ao longo dos últimos anos. Attilio idealizou uma cidade industrial. Ele acreditava que pela posição geográfica da nova capital, Goiânia seria uma metrópole industrial. Pensando assim projetou lotes próximo à estação ferroviária para as indústrias e também um bairro operário.

Qual a importância de Attilio para a memória de Goiânia?

Goiânia é a primeira capital planejada no início do século XX idealizado pelo primeiro urbanista brasileiro de formação acadêmica, recém chegado de Paris, onde estudou Urbanismo em uma das escolas mais tradicionais, o Instituto de Urbanismo da Universidade de Paris - Sorbonne. Goiânia foi um canteiro experimental da nova técnica do concreto armado, utilizado em grande escala para a construção dos primeiros edifícios modernos. É bastante relevante lembrar que Attilio trouxe além de concepções projetuais inovadoras, também introduziu técnicas construtivas ainda desconhecidas no Brasil.

De que maneira ele modernizou Goiás em termos arquitetônicos?

Trazendo as técnicas inovadoras de construção. Quanto às formas arquitetônicas das edificações, infelizmente elas foram alteradas e não seguiram os projetos originais. Attilio dominava a forma e a técnica da Nova Arquitetura, a Arquitetura Moderna e essa foi sua intenção para Goiânia. O isolamento do sítio escolhido para implantar a cidade e as dificuldades de mão de obra e materiais, de certa forma, impediram a concretização desse ideário.

Agora você lança um e-book trazendo todo esse trabalho sobre a arquitetura e o legado cultural deixado por Attilio em Goiânia. Como se deu o processo de criação de um e-book acadêmico, já que é algo que tem pouco apelo nas editoras e Goiás?

Essa publicação é uma revisão e reescrita da minha dissertação de mestrado, artigos e parte do meu doutoramento. Há também algumas descobertas novas, já que revisitar um texto sempre se tem a oportunidade de amadurecer hipóteses e aprofundar reflexões. O processo de editoração foi elaborado pela jornalista e escritora Larissa Mundim e sua equipe da NegaLilu Editora. Foram impecáveis nas revisões e sugestões. A reescrita trás o texto mais próximo de todos os leitores, pois tiramos o formato acadêmico, democratizando as informações.

Você acredita que através desse e-book, mais pessoas terão acesso ao material e ter a oportunidade de olhar mais de perto o processo de criação da nova capital a partir de uma nova perspectiva?

Com certeza, sim. A ideia do projeto foi exatamente essa: dar acesso mais amplo a diversos leitores de diferentes áreas de estudos e interesses. Idealizamos a publicação no ano passado no meio da pandemia. Acertamos no formato e-book, democratizando o acesso a obra por meio de plataformas editoriais. Acredito que os leitores irão se surpreender não só pela altíssima qualidade de editoração, como também pelas informações precisas da nossa história.

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