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Quasar tem história contada em livro que dialoga com a sofisticação artística da companhia

São 34 anos de história, 27 espetáculos, apresentações em mais 27 países, um bocado de espectadores brasileiros e outro punhado espalhados pelo mundo. A Quasar Cia de Dança, como mostra a frieza dos números, tornou-se referência à cultura goiana e, sem nenhum tipo de exagero, construiu uma história que dá livro. E não é mesmo que deu? A obra “Quasar Cia de Dança – 34 Anos”, que será lançada nesta quarta-feira, 29, no hall do Teatro Goiânia, às 19h30, teve coordenação editorial dos professores Maria das Graças Monteiro Castro e André Barcellos Carlos de Souza, da UFG.

Nas páginas, ilustradas a partir de fotos que se casam aos textos, os fundadores da Quasar, Vera Bicalho e Henrique Rodovalho, preservam o sentimento de orgulho quando criaram em terras goianas uma companhia que jamais se cansou de receber aplausos, comover plateias e proporcionar reflexões embaladas pela arte. Sem qualquer apoio de ordem financeira e remando contra a maré do preconceito, o grupo se fez respeitado por um público acostumado com os ditames estéticos da indústria cultural, que precisou ser formado para compreender o queria dizer o grupo.

Se palavras definem e movimentos superam, o leitor é levado na página 38 a conhecer – ou melhor, recordar – a vida cultural goianiense - Foto: Layza Vasconcelos/ Divulgação

Se palavras definem e movimentos superam, como atesta Henrique Rodovalho, o leitor é levado na página 38 a conhecer – ou melhor, recordar – a vida cultural goianiense e, no parágrafo seguinte, depara-se com uma narrativa sobre o surgimento da Quasar nas salas de aula de Julson Henrique, professor que jogou balões de oxigênio sob a capital goiana com seus cursos de dança moderna no início dos anos 1980. Não por acaso, foi lá que houve o embrião do Grupo Energia, uma espécie de progenitor da Quasar, do qual fazia parte a bailarina Vera Bicalho: sua perseverança, amor à dança e talento para fazer o público ficar atento ao palco fizeram da companhia o que ela é pelo Brasil.

Segundo Bicalho, que respondeu questionamentos do DM nesta segunda-feira, 27, são muitos momentos marcantes vividos nos últimos 34 anos. “Mas, vamos lá: quando saímos, pela segunda vez, para nos apresentar lá fora é um deles. A primeira foi num festival de teatro em Manizales, em 89. Éramos a única companhia de dança, com um trabalho cheio de humor e com cenas curtas. Em 96, fomos para a Alemanha e também foi um momento de ver outro mundo, sentir a plateia, espetacular!, e teve ainda o Carlton Dance, rompendo o circuito de São Paulo e Rio”, diz.

Melhor de tudo: eram uma companhia goiana dançando nos palcos municipais de Rio e São Paulo e sendo a sensação. Embora graduado em Educação Física, Rodovalho estava convicto da necessidade em explorar seu potencial artístico. Bicalho e ele, então, resolveram unir forças. Mas ainda era preciso um nome. Qual escolher? Ora, um que expressasse a plenitude do que o novo projeto buscava. Quasar, como chamava-se o elenco em formação, caiu bem, pois está associado aos pontos do universo nos quais a alta concentração de energia é capaz de gerar estrelas e galáxias.

"Talvez o meu favorito seja o próximo espetáculo que vou criar"Henrique Rodovalho, fundador da Quasar

Para Rodovalho, que teve a inglória tarefa de responder questionamento do repórter sobre qual é o seu espetáculo favorito, a Quasar criou obras que foram marcantes, uma referência na trajetória do grupo e até na dança. “Tem o 'Versus', que foi, por exemplo, o princípio de todo reconhecimento e sucesso da Quasar. Mas talvez o meu favorito seja o próximo espetáculo que vou criar”, afirma o artista, cujas obras “Sob Mesmo Azul” (1990), “Não Perturbe” (1992) e “Três ao Centro” (1992) são citadas na obra “Quasar Cia de Dança – 34 Anos” como divisores de água do grupo.

Rodovalho, e seu espetáculo favorito?! “É uma pergunta muito complicada. É igual perguntar de qual filho você gosta mais." Ok, meu caro. Mas a verdade é que, no Teatro Goiânia, onde a Quasar se apresentou em sua reinauguração no ano de 1998 e que ao longo dos anos se tornou uma espécie de casa, terá um encontro entre bailarinos e pessoas com deficiência. A estreia será nesta quarta, 29, e quinta, 30. “Carinhosamente Juntos” celebra diferenças de seres humanos unidos pelo desejo compartilhado de dançar e de explorar as potencialidades do corpo.

Informação de utilidade pública: as apresentações ocorrem às 20h30 e o ingresso para a entrada sai por R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia). “Carinhosamente Juntos” é o 28º espetáculo da companhia, resultado de um trabalho realizado desde 2019 sob a direção de Henrique Rodovalho, em que os bailarinos da Quasar encontraram-se com sete pessoas portadoras de deficiência que foram escolhidas para participar do espetáculo. O trabalho, diz a companhia, nasceu de um desejo dos fundadores, Vera Bicalho e Henrique Rodovalho, para que o grupo estivesse atento às questões de cunho social.

"Foi um livro longo, que começou em 2008, porque saíamos da editora sem podermos conclui-lo e obviamente que é uma obra cara, pois é pensada materialmente para ser um diálogo com o trabalho que a companhia desenvolve"

Maria das Graças Monteiro Castro, professora da UFG

Para a obra, a companhia contou com orientação de Marlini Dornelas, do Grupo de Dança Diversus, além de Henrique Amoedo, que é coreógrafo e diretor da Companhia Dançando com a Diferença, de Portugal. Em cena, numa simbiose emocionante, os bailarinos Gabriela Leite, Gustavo Silvestre, Jackeline Leal, Marcella Landeiro e Thais Kuwae unem-se aos residentes Ana Beatriz Dalla Déa, João Victor Frazão de Oliveira, Luciana Potiguara da Silva, Marcos Machado de Oliveira Filho, Pedro Ratters Motta Fernandes, Thallyta Santos Poloniatto e Wendyane Silva Geraldes.

Sofisticada e transgressora, a obra “Quasar Cia de Dança – 34 Anos” tem a cara da companhia goiana: é cuidadosa, bonita, exibe técnica, prende pelas fotos e chama para viajar com o texto. “O livro é uma possibilidade de registrar indefinidamente o acúmulo de conhecimento produzido pela humanidade. E a Quasar precisava ter esse registro do que vem produzindo ao longo dos últimos 34 anos. Foi um livro longo, que começou em 2008, porque saíamos da editora sem podermos conclui-lo e obviamente que é uma obra cara, pois é pensada materialmente para ser um diálogo com o trabalho que a companhia desenvolve”, afirma a professora Maria das Graças Monteiro Castro, da UFG, em entrevista ao DM.

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