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A superação por meio da escrita: mãe e filho autistas desafiam preconceitos com literatura

Entende-se que, para ser um profissional de sucesso e reconhecido, não se pode ter transtornos mentais ou neurológicos, e que a pessoa esteja em boa performance mental, certo? Errado!

Com a globalização e uma sociedade que cobra o tempo todo, cobra-se muito a todo minuto, porém, entre as milhões de pessoas que produzem e trabalham como robôs, há os que pensam "fora da caixinha", e desenvolvem materiais sensacionais para a sociedade.

A escritora goiana Renata da Costa, de 40 anos, mora nos Estados Unidos há sete anos com seu filho, Raphael da Costa, de 12 anos, os dois têm diagnóstico de autismo e escrevem livros que abordam o transtorno neurológico por meio de histórias.

"Eu escrevo desde os oito anos de idade, aos doze eu comecei a escrever poemas, mas nunca havia publicado nenhum dos meu escritos", conta Renata.

Anos mais tarde, ela foi morar nos Estados Unidos por três anos, lá ela teve seu filho Raphael, logo depois voltou ao Brasil, entretanto, passados quatro anos e meio, ela decidiu voltar para os EUA, pois Raphael começou a apresentar sintomas de agressividade, reclamação de sons, cheiros, entre outros, que eram característicos do autismo.

"Mas como eu não sabia o que era o autismo, eu não conseguia ajudar os médicos a diagnosticá-lo no Brasil. Por mais que eu tenha um conhecimento na área de saúde, por ser técnica de enfermagem, eu não conseguia jamais imaginar que ele era autista. Eu fiz toda a interferência educacional do primeiro ano até ele ser diagnosticado, em 2016", explica.

Ao se aprofundar e estudar no assunto, Renata levantou a hipótese de ter também o autismo. Com isso, ela passou a dar suporte voluntário para mais de 100 famílias no Brasil e no mundo. Aos 39 anos, ela também foi diagnosticada com o transtorno, o que a motivou ainda mais a mergulhar no mundo da escrita.

"Meu filho sempre chegava da escola e falava: 'mamãe, ninguém me entende', e por ter estudado os sintomas dele, que batiam com os sintomas gerais do autismo, surgiu o primeiro livro: Meu pequeno grande mundo", conta.

Renata reflete sobre o livro em poucas, mas sublimes palavras: "eu me tornei a voz do meu filho, e ele se tornou o meu mundo, por isso o título "Meu pequeno grande mundo".

Após a publicação do primeiro livro, Renata descobriu escritos de Raphael guardados e publicou o primeiro livro dele, intitulado "I love you mamma".

"Esse livro foi premiado várias vezes, e então veio meu segundo livro, chamado "O banho de banheira", que relata uma história real do meu filho sobre o sonho dele de tomar um banho de banheira", diz.

Depois do segundo livro, Renata lançou 'Insuficiente', um livro de poemas que ela havia escrito na adolescência e que não foram publicados. E agora, juntos, ela e o filho irão lançar em Nova York o livro 'Sarah e as regras de família', que escreveram juntos.

Após as publicações, Renata entrou em várias academias de letras, conseguiu o Doutor Honoris Causa, várias premiações, além de ter ficado entre os 10 melhores escritores do mundo e os cinco melhores dos Estados Unidos em 2022, e seu filho, Raphael, em 2021.

Dar voz aos silenciados

Em 2020, Renata montou uma antologia chamada "Talentos por trás do autismo", composta e organizada apenas por autistas, como uma forma de mostrar ao mundo, por meio de seus livros em inglês e português, que autismo não é doença e todos têm capacidade de desenvolver práticas que podem mudar o mundo.

"Eu os descobri no grupo no qual eu dava suporte adulto e infantil sobre autismo, então eles me mandaram seus escritos e eu os desafiei a mostrar o nosso talento, que nós somos capazes de superar nossas dificuldades", conta.

O orgulho em relação ao filho é nítido quando ela conta que ele começou a estudar piano pela Universidade de Berklee, além de ter ganhado aulas de saxofone e composição e ter participado de vários concertos. Raphael também toca bateria, flauta, cavaquinho e violão.

"Desde que eu comecei a minha carreira como escritora, participo de mais de 95 antologias no Brasil e no mundo, já participei de vários congressos sobre autismo, poesia e escrita. Porém meu foco é o autismo, pois eu quero que as pessoas nos compreendam, com foco também na linguagem educativa", explica.

O trabalho de Renata e Raphael são um grande exemplo para o mundo, a genialidade de quebrar os paradigmas e preconceitos acerca do autismo por meio de livros é de uma genialidade infinita, uma forma de protesto.

Raphael da Costa, de apenas 12 anos, já faz sucesso na literatura. (Foto: Reprodução/Arquivo pessoal)

Nas antologias, Renata permite que pessoas que não se sentem parte do mundo globalizado, com esse vaivém estressante, pudessem entrar em seu próprio mundo para comunicarem entre si e mostrar suas vozes à sociedade.

A escrita de fato transforma tanto quem escreve, quanto quem lê, gerando uma reação em cadeia de conhecimento. E é com uma mensagem motivacional que Renata abre os olhos da sociedade, com incentivo à compreensão e compaixão.

"Somos seres humanos como todos, podemos ser , fazer e estar onde quer que queiramos estar, não julgue um autista, estimule, o que falta para muitos é estímulo. Autismo não é uma desabilidade e sim uma habilidade diferente de ser, ver e fazer um mundo. Autismo não é doença, então não nos cobrem por cura, já lutamos demais pra sermos "melhores"".

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