36 ANOS DE MURO
Redação
Publicado em 8 de dezembro de 2015 às 20:42 | Atualizado há 4 mesesNo último dia 8 de dezembro, comemora-se o lançamento mundial do álbum mais famoso do Pink Floyd, o aclamadíssimo “The Wall”. No dia 30 de novembro de 1979, a banda britânica lançou o álbum apenas na Grã Bretanha mas, nove dias depois, a Columbia Records foi a responsável pelo lançamento do disco (em formato duplo, bem como na Inglaterra) nos Estados Unidos e no resto do mundo.
Depois de uma exaustiva turnê em 1977, intitulada de “In The Flesh” (que tempos depois viria se tornar o título de duas faixas no The Wall), os Floyd’s realizaram o último show no Estádio Olímpico de Montreal. No meio do show, um grupo de fãs baderneiros e barulhentos irritaram o baixista e principal compositor da banda, Roger Waters, que acabou cuspindo em um deles. Naquela mesma noite, enquanto tratava de uma lesão no pé em um hospital, ele conversou com Bob Ezrin, futuro produtor do disco, e com o amigo de Bob, que era psiquiatra. Ele falou sobre alguns sentimentos de alienação que se afloravam enquanto ele se apresentava com a banda.
Enquanto o guitarrista David Gilmour e o tecladista Richard Wright estavam na França, cada um gravando discos solo, e o baterista Nick Mason produzia o disco “Green”, de Steve Hillage, Roger Waters começou a escrever um novo material, que os colocaria definitivamente no panteão do rock. O incidente da turnê com os fãs deu o ponto de partida para um novo conceito, que era tentar analisar a situação psicológica do artista usando uma estrutura física como um dispositivo metafórico e teatral.
“The Wall” é uma Ópera Rock que explora o abandono e o isolamento, e é simbolizado por uma parede metafórica. O disco todo narra a vida, desde o nascimento, de Pink, o protagonista da história escrita por Waters. Vários traços no personagem são bem evidentes no baixista, como o fato de ter perdido o pai na Segunda Guerra Mundial, e suas várias experiências com as mulheres. Cada acontecimento traumático vivido por Pink, seja na escola, com o tirano e abusivo professor de matemática, ou pela opressão de sua mãe superprotetora, representam tijolos no muro que se constrói aos poucos.
Quando Pink se torna adulto, ele vira uma estrela do rock. A partir disso, uma série de acontecimentos ainda mais traumáticos acontecem, como o sentimento de abandono, explosões de violência, o desmoronamento do seu casamento, e tudo atingindo o clímax numa overdose de drogas. Nesse ponto, o muro está completo e alcança seu total isolamento da humanidade.
A partir daí, a loucura do protagonista atinge o seu ápice, sofrendo com frequentes crises de alucinação. Escondido atrás do muro, Pink começa a ter alucinantes performances no palco, onde acredita que agora é um ditador fascista. Horrorizado pelo terror que ele mesmo provocou no mundo que vive agora, ele se arrepende, como a própria música “Stop” mostra nos versos “Eu quero ir para casa/ tirar esse uniforme/ e deixar o show”.
Recorrendo ao seu juízo interior, através de um julgamento, Pink é condenado a derrubar o muro que por tantos anos construiu. O contexto do julgamento foi ter sido encontrado por suas próprias tropas (os pensamentos) e “pego em flagrante mostrando sentimentos/ mostrando sentimentos de uma natureza quase humana” (The Trial, penúltima faixa do disco). A Ópera Rock se encerra com a continuação da melodia presente na primeira faixa do disco, e representa a natureza cíclica do tema abordado por Roger Waters.
Embora o disco tenha sido a obra prima da banda, seu processo de desenvolvimento foi o mais complexo e representou o período mais turbulento na relação entre os membros. No final das gravações do disco, Roger e Wright brigaram e, com o consentimento da banda, ele foi expulso do grupo. No entanto, ele foi contratado como músico para a The Wall Tour, a turnê que sucederia o lançamento do disco. O tecladista seria reincluído na banda seis anos depois, quando Waters já não era mais membro.
Pré-The Wall
O Pink Floyd foi um grupo musical de rock formado em Londres, em 1965, e é considerada uma das bandas comercialmente mais bem sucedidas, tendo vendido mais de 260 milhões de discos. Com sua pegada experimental, além de resgatar um gênero já em decadência na época, o rock progressivo, e usando diversos elementos psicodélicos, a banda inglesa alcançou também sucesso crítico e conquistou uma enorme legião de fãs. Tendo influenciado várias bandas desde seu reconhecimento mundial, também influenciou a principal banda de rock progressivo do Brasil, Engenheiros do Hawaii.
A formação original, nos primeiros anos, era constituída por Syd Barrett (líder da banda, guitarrista e vocalista principal), Roger Waters (baixo e vocais), Richard Wright (teclados e vocais) e Nick Mason (bateria e percussão). No entanto, Syd Barrett saiu da banda depois de seu vício em drogas alucinógenas se tornar incontrolável, em 1968. Roger Waters passou a liderar a banda e, com o consentimento dos demais membros, convidou um amigo da banda, que inclusive ensinou Barrett a tocar violão, David Gilmour (mais tarde seria eleito o 14º melhor guitarrista do mundo pela revista Rolling Stone).
A partir daí a banda desenvolveu um estilo único de se apresentar. Muito do que se conhece hoje por apresentação musical foi concebido pelo Pink Floyd, como o grande uso de luzes, fumaça e pirotecnia. Em 1973 a banda alcançou reconhecimento mundial e grande sucesso comercial e crítico com o lançamento do disco “The Dark Side of the Moon”. A emblemática capa do disco, em que um facho de luz passa por um prisma em formato de triângulo, e é dividido em vários outros fachos coloridos é, até hoje, considerado um dos principais símbolos referentes ao Pink Floyd.
O disco seguinte seria o “Wish You Were Here”, lançado em 1975. Depois de algumas semanas de férias, que sucederam a extensa e memorável turnê do disco anterior, os ingleses se reuniram no estúdio da Abbey Road (também usado pelos Beatles, Duran Duran e Oasis) e gravaram seu nono álbum inédito. A principal música do disco, “Shine on You Crazy Diamond” (com duração de 25 minutos e dividida em duas partes) era dedicada ao antigo integrante da banda, Syd Barrett. Durante a mixagem da música, em junho de 1975, uma visita inesperada do ex-membro nos estúdios, bem acima do peso e totalmente desligado do mundo ao seu redor, emocionou fortemente todos os que estavam envolvidos no projeto. O disco foi lançado no dia 12 de setembro, e foi também considerado o melhor disco da banda pelos próprios membros.
Depois de uma grande turnê pelo mundo, a banda já tinha alcançado um sucesso mundial que nem mesmo os integrantes imaginariam alcançar. Em 1977 lançaram o disco “Animals”, influenciado pela onda Punk Rock que dominava a Inglaterra naquele período. Também tinha no livro “A Revolução dos Bichos”, como principal fonte de inspiração. O disco abordava assuntos existenciais, que mais tarde seria mais evidente no “The Wall”, além de também criticar regimes políticos, como na obra literária de George Orwell.
Pós The Wall
Depois da extensa turnê do “The Wall”, Roger Waters escreveu o conceito do próximo disco, que também seria sua última composição como membro do Pink Floyd. O disco se intitulava “The Final Cut” e representava uma continuação do disco anterior, visto que também aborda temas semelhantes, como os horrores e as consequências da guerra e questões existenciais e niilistas.
“The Final Cut” foi lançado em março de 1983, um ano após o lançamento do filme “Pink Floyd The Wall”, com roteiro também escrito por Roger Waters. Alan Parker foi convidado para dirigi-lo, sendo que era um dos diretores britânicos mais badalados na época, além de grande fã da banda. Ele dirigiu os filmes “O Expresso da Meia Noite” e “Fama”, que lhe renderam várias indicações ao Oscar e ao Globo de Ouro. Gerald Scarfe foi o responsável pelas marcantes animações presentes no filme.
Em 1985 Roger Waters anunciou sua saída da banda, e decidiu seguir carreira solo. No entanto, para surpresa do ex-baixista, David Gilmour e Nick Mason decidiram continuar com a banda, rendendo uma extensa batalha judicial. O resultado foi o de que os membros remanescentes poderiam continuar com o nome, mas não poderiam reproduzir músicas que fossem de autoria de Waters.
Dois anos depois, o Pink Floyd lança “A Momentary Lapse of Reason”, com recepção morna do público e mista da crítica. E em 1994 lançaram “The Division Bell”, dessa vez aclamado por ambos, e a turnê Pulse, que sucedeu ao disco, é considerada uma das melhores já feitas por uma banda de rock. Richard Wright voltou para a banda em 1987 e permaneceu na banda até sua morte, em 2008, com 65 anos de idade, derrotado numa curta batalha contra uma forma não revelada de câncer.
A banda se reuniu, na sua formação completa, esporadicamente desde a saída de Waters. A mais famosa das reuniões aconteceu no evento beneficente Live 8 de 2005, em Londres. No final da apresentação, eles se reuniram num abraço coletivo e tal imagem se tornou uma das imagens mais famosas e saudosistas para os fãs. Foi a última vez que a banda se reuniu com a formação completa.
Em 16 de novembro de 2005, O Pink Floyd foi indicado ao Hall da Fama da Música do Reino Unido, por Pete Townshend. Roger Waters apareceu numa transmissão via satélite, de Roma. David Gilmour e Nick Mason compareceram em pessoa, mas Richard Wright ficou impossibilitado devido a uma cirurgia no olho. A introdução ao Hall da Fama foi, sem dúvidas, o reconhecimento que faltava a uma banda de tamanha importância para a música como foi o Pink Floyd.
Roger Keith (Syd) Barrett: Guitarrista, vocalista principal, compositor e principal líder do Pink Floyd, é considerado um dos pioneiros do rock psicodélico, além do space rock e folk psicodélico. Sua deterioração mental foi agravada pelo uso excessivo de LSD e, por isso, saiu da banda em 1968. Também foi o responsável por dar o nome à banda, em homenagem aos músicos de blues Pink Anderson e Floyd Council.
George Roger Waters:Ex-baixista do Pink Floyd, em 1990 realizou o “The Wall Live in Berlin” em comemoração à queda do Muro de Berlim, ocorrida oito meses antes. Entre 2010 e 2012 realizou uma das maiores turnês da história da música, o “The Wall Live”, com 192 apresentações, sendo que quatro delas aconteceram aqui, no Brasil. Hoje vive em Londres e trabalha em um novo disco solo.
David Jon Gilmour: Guitarrista da banda, tornou-se o líder e o principal compositor da banda desde a saída de Waters. É doutor em arte pela Universidade de Cambridge. Ganhou o primeiro violão quando tinha 13 anos de idade e, na época da faculdade, era o melhor amigo de Syd Barrett. Também ensinou Syd a tocar guitarra.
Nicholas Berkeley Mason: Baterista e percussionista do PF, foi o único membro a participar das gravações de todos os discos da banda. Mesmo compondo muito pouco, é considerado um dos melhores bateristas do mundo da sua geração, também chamado por alguns críticos de “minuteman”, pela sua precisão e nunca errar o tempo da música.
Richard William Wright: Responsável pelos teclados e sintetizadores, não era considerado um tecladista tão habilidoso quanto outros famosos músicos, mas era reconhecido pela criatividade e pela textura que dava às músicas. Tanto crítica como fãs dizem que o Pink Floyd jamais seria o mesmo sem os teclados de Wright.