A arte no cotidiano
Redação
Publicado em 8 de outubro de 2015 às 23:29 | Atualizado há 4 mesespor Rariana Pinheiro
A beleza poética da natureza, completamente envolta à urbanidade cotidiana, com seus concretos, carros, ônibus, moradores e prédios. Adicione ainda uma banda a isto tudo. É assim, que se pode resumir o primeiro capítulo da web série, produzida pela Nonanuvem Filmes, A Música e A Cidade. O projeto, que estreou nesta última segunda-feira (5) – e pode ser conferido no Facebook, ou pelos canais no Youtube e no Vimeo – terá três episódios. Em cada um deles, músicos locais mostram suas histórias e canções, em espaços públicos de Goiânia.
Os escolhidos para abrir esta iniciativa foram o guitarrista Caio Stuart, o baterista Zé Junqueira e o baixista John Walter. Juntos eles compõe o trio instrumental de groove psicodélico, Dom Casamata e A Comunidade. Da web série, a banda, que possui 10 anos de trajetória, foi convidada para tocar no charmoso no “castelinho”, – o coreto grafitado e localizado no parque mais antigo da Capital, o Lago das Rosas.
Embalam as paisagens, ora bucólica, ora extremamente urbana, faixas do primeiro álbum da Dom Casamata e a Comunidade, que foi lançado em vinil e leva o nome do trio. O trabalho guarda faixas com nomes irreverentes a exemplo de: Animal Planet, Pizza Fria e Tanga Enxuta. E, estas canções do grupo, em A Música e A Cidade, parecem caírem, como luva, para o olhar dos diretores do projeto Higor Coutinho e Uliana Duarte.
Mais está por vir
No próximo episódio da série, o veterano compositor Carlos Brandão vai levar seu violão ao tradicional Mercado da 74, no antigo Bairro Popular. O dia da gravação era uma véspera chuvosa de carnaval. Esta data, provavelmente deve ter ajudado a construir a atmosfera perfeita para o convidado cantar e comentar sobre um assunto que é quase especialista: a boemia cultural da cidade.
Quem encerra a primeira temporada da série será outra banda, que por anos também ocupa os palcos desta cidade. Trata-se da Casa Bizantina, que a produção da montagem levou para tocar na rua, em contato direto com os goianienses. Em entrevista ao DMRevista, o diretor Higor Coutinho, comenta mais sobre a nova empreitada, novos projetos e o cinema em Goiânia. Confira.
ENTREVISTA DIRETOR HIGOR COUTINHO
DMRevista: Como nasceu a ideia de fazer esta websérie com Uliana Duarte?
Higor Coutinho: A música sempre foi muito importante para nós. Eu coleciono discos de vinil há quase 20 anos, já tive banda na adolescência e sempre estive envolvido com o meio. Editei por oito anos um blog chamado Goiânia Rock News e viajava regularmente para cobrir os principais festivais de música independente do País, num momento particularmente fértil para esse cenário. Nessa época eu já produzia alguns vídeos de artistas e bandas no palco para alimentar o blog. Paralelamente, a Uliana Duarte – que é minha esposa -, estava começando a produzir um filme chamado Goyania, um ensaio poético sobre a cidade, desde sua fundação. Quando aposentei o blog, percebi que tinha tomado gosto pelo audiovisual e, influenciado pela Uliana, misturei as duas coisas e tive a ideia de fazer A Música e a Cidade.
DMRevista: Como escolheram os artistas e as locações da filmagens?
Higor Coutinho: Nosso critério foi basicamente o da admiração. Convidamos artistas dos quais gostamos e acreditamos que têm relevância para o imaginário cultural da cidade. A escolha das locações também foi meio passional, ainda que obviamente tenhamos observado questões técnicas. No caso do Castelinho, no Lago das Rosas, escolhemos porque achamos aquele lugar lindo, mas “sub-aproveitado”. Uma paisagem nobre ao lado da Avenida Anhanguera que passa despercebida. A ideia é ocupar a cidade. O que quisemos foi redescobrir a cidade a partir de sua música, porque amamos ambas, e compartilhar com o pessoal que também gosta delas. A música produzida em Goiânia é plural, cosmopolita, um belo cartão de visitas para uma cidade tão jovem. Esta redescoberta por meio da música é uma coisa mais subjetiva, que depende da interpretação de cada um. E, cada músico tem uma história para contar, uma relação particular com a cidade.
DMRevista: Haverá outras temporadas?
Higor Coutinho: A segunda temporada já está sendo pensada, mas dependemos da aprovação do projeto pela Lei Goyazes. Se tudo der certo, queremos produzir mais seis episódios.
DMRevista: Quais os próximos projetos da Nonanuvem?
Higor Coutinho: Planejamos dar continuidade à websérie
A Música e A Cidade, que vem sendo muito bem recebida e é um dos produtos audiovisuais da Nonanuvem
criado como parte de um projeto de “discussão de sentido”, que almeja abordar, não apenas a produção artística e festejar os valores culturais da nossa sociedade, mas principalmente falar sobre Goiânia, o ambiente do nosso cotidiano. Sobre o que nos agrada ou nos envergonha, sobre seu crescimento, seu desejo de ser moderna e sobre as práticas provincianas, que ainda pautam nosso presente. Dentro desse espírito, começaremos em breve a produção de um projeto chamado LP-GO, um documentário que, a partir de um disco gravado na Igreja Matriz de Pirenópolis em 1970, com a obra de um compositor pirenopolino de vanguarda do século XIX, que investiga a produção musical goiana através de LPs raros. Aguardamos também ansiosamente o resultado do edital 01/2014, do Fundo de Cultura, em convênio do Estado de Goiás com a ANCINE, para a produção de um longa-metragem, um documentário chamado O Som da Rotina, sobre uma tradicional instituição pública de ensino de artes de Goiânia.
DMREvista: Como analisam o atual momento do audiovisual em Goiás?
Higor Coutinho: O momento é fértil, porém mais expressivo em números do que em reconhecimento pelo mérito artístico de nossas produções audiovisuais. A mostra de filmes goianos realizada pela ABD-GO no último Fica, recebeu severas críticas do jornalista e crítico de cinema Sérgio Alpendre, para citar um exemplo bem atual. Mas, acreditamos que o amadurecimento vem chegando. Os editais de fomento são fundamentais para o crescimento profissional, bem como oficinais e laboratórios para os realizadores goianos, como as excelentes oficinas da Goiânia Mostra Curtas. Em 2016 algumas produtoras independentes do Estado premiadas pelo edital federal PRODAV entrarão em fase de produção de seus projetos. Editais estaduais também farão com que possamos trabalhar com segurança e profissionalismo. Vislumbramos um bom cenário para o cinema feito em Goiás.
Ficha Técnica A Música e A Cidade
Direção: Higor Coutinho Uliana Duarte
Câmera: João do Céu Rafael de Almeida Uliana Duarte Produção: Higor Coutinho Uliana
Duarte Montagem: Higor Coutinho Som direto: César Kiss Thiago Camargo Realização: nonanuvem filmes
Projeto é dirigido por Higor Coutinho Uliana Duarte
Cena da série, A Música e A Cidade, com Dom Casamata e a Comunidade
Cenário do primeiro episódio foi o charmoso Castelinho, do Lago das Rosas
Dia a dia da cidade é visto na série com lirismo
Enquanto a música acontece, série mostra a cidade seguindo seu curso normal
Banda apresenta canções do álbum primeiro álbum da carreira