‘A Vida de Chuck’ oferece drama com toques de fantasia
DM Redação
Publicado em 3 de setembro de 2025 às 19:22 | Atualizado há 48 minutos
João Pedro Santos
Especial para o DM
Quando você vai assistir um filme baseado em uma obra de Stephen King, já sabe o que esperar: personagens comuns entram em contato com algo sobrenatural, dando início a uma série de sustos e reflexões sobre o terror humano que nos cerca, como em “Carrie” e “It”. Mas e se essa fórmula não só tivesse um tom completamente diferente, como também fosse contada de trás para frente? É isso que “A Vida de Chuck”, um dos lançamentos desta quinta-feira, 04, nos cinemas, propõe, contando com a direção apaixonada de Mike Flanagan, que já comandou duas outras adaptações de King: “Jogo Perigoso” e “Doutor Sono”.
Na trama, acompanhamos um cenário apocalíptico que é misteriosamente conectado à figura de um homem comum, Chuck Krantz (Tom Hiddleston, ‘Loki’), cuja imagem jovial e alegre domina outdoors, televisões e até transmissões de rádio. A partir de uma narrativa reversa, contada de trás para frente, descobrimos cada vez mais sobre a vida e o passado de Chuck, culminando em sua infância, passada junto aos avós (Mark Hamill e Mia Sara), em uma casa aparentemente mal-assombrada.
Aqui, ao invés de encontrarmos o terror característico das obras mais famosas de King, recebemos um drama com toques de fantasia que entrega a mesma qualidade na construção narrativa e de diálogos, forças que o autor compartilha com o diretor Mike Flanagan, que dominou a Netflix entre 2018 e 2023 através de minisséries como “A Maldição da Residência Hill” e “Missa da Meia-Noite”. Além disso, o tom mais leve de “Chuck” permite que a história tenha um alcance universal, graças à abordagem de temas atemporais como o amadurecimento. O filme causou uma impressão tão positiva em sua primeira exibição no Festival de Toronto de 2024 que acabou saindo com o principal prêmio do evento, o Prêmio do Público, visto como um termômetro para o Oscar de Melhor Filme.
Curiosidades
King teve a ideia para escrever o conto homônimo (presente na compilação “Com Sangue”, publicada pela Suma) ao ver um artista de rua tocando bateria na cidade de Boston. A cena o fez imaginar um homem de negócios começando a dançar no ritmo do artista, algo que ganha vida no que os críticos consideram ser a melhor sequência da adaptação de Flanagan, graças ao caráter imprevisível e à alegria energética da situação. O autor, então, ficou curioso sobre como seria a vida particular deste sujeito imaginário, criando uma história que surpreende ao mesmo tempo que emociona.
Não sendo uma coincidência, as adaptações mais aclamadas de Stephen King não só são baseadas em narrativas mais curtas como também seguem a veia mais dramática presente em “Chuck”. “Um Sonho de Liberdade”, por exemplo, é baseado na novela ‘Primavera Eterna’, da compilação ‘Quatro Estações’, e é lembrado como um dos melhores filmes de todos os tempos, tendo acumulado 7 indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme. “Conta Comigo” adapta a novela “Outono da Inocência”, da mesma compilação, e foi responsável por lançar a carreira de seus quatro jovens protagonistas, entre eles o saudoso River Phoenix, sendo considerado por King como a melhor adaptação de sua obra para o cinema.
Assim como o conto, “A Vida de Chuck” é dividido em três atos, e é curioso notar que tudo na narrativa é conectado. Ao longo das três partes, protagonizadas por personagens completamente diferentes, pequenas pistas que conseguem explicar mais e mais sobre o que está acontecendo em tela são oferecidas ao espectador, em especial em relação ao personagem-título. Um gesto com as mãos, o uso de diálogos específicos, até os mínimos detalhes são absolutamente essenciais para entender a adaptação de Flanagan por completo.
Outro aspecto em “A Vida de Chuck” que irá agradar os fãs de Flanagan é a presença de seus colaboradores recorrentes no elenco, como Kate Siegel (‘Hush: A Morte Ouve’), Samantha Sloyan (‘Missa da Meia-Noite’), Rahul Kohli (‘A Maldição da Mansão Bly’), Karen Gillan (‘Guardiões da Galáxia’, ‘O Espelho’), Carl Lumbly (‘Doutor Sono’) e Jacob Tremblay (‘Extraordinário’, ‘O Sono da Morte’), que fazem breves pontas complementadas pelas performances centrais dos já citados Hiddleston, Hamill e Sara.
Veterano em adaptar King para o cinema, Flanagan já tem dois outros projetos em vista que trazem novas versões audiovisuais das obras do autor: uma minissérie baseada em ‘Carrie: A Estranha’, original da Amazon Prime Video e prevista para 2026; e uma saga de filmes e séries de TV de “A Torre Negra”, fantasia épica escrita por King em 8 livros que conecta os seus trabalhos em um universo compartilhado através de uma mitologia complexa e uma mistura de gêneros como o faroeste, a ficção-científica e o terror.