“Adeus que eu já vou me embora, que Goiás tá me chamando”
Redação DM
Publicado em 14 de outubro de 2015 às 22:03 | Atualizado há 5 mesesA virtuosidade de José Dias Nunes, que nasceu no norte de Minas Gerais na vila de Monte Azul em 1934, originou uma das figuras mais imponentes e respeitadas da música brasileira: o violeiro Tião Carreiro. Ao longo da carreira fez muitas parcerias, sendo a mais duradora com Pardinho, com quem gravou mais de 30 discos. Nos fins da década de 1950 criou um novo estilo, o pagode de viola. Esse feito tornou-o conhecido como o Rei do Pagode, e trouxe canções eternas como ‘Pagode em Brasília’. Faleceu há exatos 22 anos, em São Paulo, vítima de diabetes.
Foi criado em Araçatuba, no interior de São Paulo, onde ajudava seu pai nas lavouras. Aos oito anos já arranhava seus primeiros barulhos no violão. A viola entrou em sua vida quando ele tinha 13 anos. Com o apelido Palmeirinha, formou a dupla Palmeirinha e Coqueirinho com seu primo Waldomiro. O dono do circo onde eles se apresentavam dizia que dupla de violeiros tinha que tocar viola. Tião só tocava violão. Com uma viola branca, descobriu de forma autodidata o som característico do interior do Brasil, que até hoje conquista gerações.
Estradas
O nome Tião Carreiro, responsável por sua consagração, surgiu quando ele chegou a São Paulo. Foi uma invenção de Teddy Vieira, um célebre compositor e instrumentista de modas de viola de Itapetininga. Antes de formar a dupla com Pardinho, já atuou sob vários pseudônimos. Foi Zé Mineiro (com Tietezinho), Zelinho (com Lenço Verde), além de Palmeirinha, sua primeira dupla. A esposa de Tião, Dona Nair, costumava chamar o marido por esse nome.
Deixou vários registros musicais durante sua carreira. Foram 27 compactos (9 com Carreirinho e 18 com Pardinho), e 41 LPs (33 com Pardinho, quatro com Paraíso, um com Carreirinho, um com praiano e dois discos solo). Sua estréia em estúdios foi em 1956, com a canção ‘Boiadeiro punho de aço’. A última gravação, uma colaboração com a cantora Jayne na música ‘Viola e Paixão’, foi realizada em 1993, ano de sua morte.
Além de agitarem o mundo musical com suas letras que remetem aos amores, alegrias e dificuldades do homem do campo, bem como a percepção de realidade política e econômica a partir da figura do matuto; a dupla também marcou presença no teatro e no cinema. As canções ‘O mineiro e o italiano’ e ‘Pai João’ foram adaptadas em peças teatrais, e o filme ‘Sertão em Festa’, de Osvaldo de Oliveira, lançado em 1970, teve participação musical e cênica de ambos.
Pagode
Um novo ritmo foi criado por Tião Carreiro em 1958 na cidade de Maringá, no Paraná. O pagode de viola saiu de experimentações com viola e violão. Sozinho, munido de um gravador, fez separadamente as batidas do violão e da viola. Sua síntese foi mostrada em uma fita ao memorável compositor e violeiro Lourival dos Santos, que batizou a invenção do amigo dizendo a ele que aquilo parecia um pagode.
Esse pagode não deve ser confundido com o estilo derivado do samba. Em algumas regiões de Minas Gerais, “pagode” significa “reunião” ou “festa animada”. Tecnicamente, o novo ritmo surgiu a partir de duas danças de roda. No violão, Tião gravou um Coco de roda, ritmo dançado em pares que surgiu no nordeste, repleto de influências indígenas e africanas. Na viola, executou o ritmo do Calango, uma dança folclórica do Mato Grosso que faz referência ao animal escalador de paredes típico da região.