“Ando a pé onde eu quiser e vou falando com todo mundo”
Redação DM
Publicado em 3 de fevereiro de 2016 às 21:51 | Atualizado há 5 meses
Na era da internet, com toda a vigilância das redes sociais, poucos artistas conseguem o feito de transmitir uma imagem cativante e de falar francamente sem ser atropelado por enxurradas de críticas. Zeca Pagodinho é um desses artistas. Sua simplicidade e falta de cerimônia são algumas pistas que servem para explicar tal proeza. Sucesso absoluto desde a década de 2000, o artista chama a atenção em tudo que coloca a voz e a imagem: desde comerciais de TV a parcerias musicais. A primeira gravação de Zeca Pagodinho foi feita em 1983. A música ‘Camarão que dorme a onda leva’, foi escrita em parceria com Arlindo Cruz.
Em 2003, o cantor gravou no Rio de Janeiro o álbum ‘Acústivo MTV – Zeca Pagodinho’, parte de uma série de discos (que também eram lançados em DVD e transmitidos pela TV) produzidos pela extinta filial brasileira da emissora televisiva MTV e que fez bastante sucesso na década de 2000. Na época, o artista vivia o auge de sua carreira, as canções ‘Deixa a vida me levar’ e ‘Caviar’ tocavam nas rádios de todo o país várias vezes por dia. Zeca foi o primeiro artista do samba a ser convidado para a série Acústico MTV. Foi um de seus trabalhos que alcançou maior sucesso comercial, o que o levou a gravar uma segunda edição, com o título ‘Acústico MTV Zeca Pagodinho 2 – Gafieira’.
Carisma
A simpatia e simplicidade de Zeca Pagodinho é uma de suas características mais marcantes. Na internet, várias listas de sites como o Buzzfeed são dedicadas à irreverência do artista. A aprovação popular à figura de Zeca pode ser vista em matéria especial feita pela jornalista Ângela Bastos para o Diário Catarinense em 2012. “’Diz ao Zeca que mandei um abraço’, foi o que mais ouvi quando comentei com algumas pessoas que ao Rio de janeiro para entrevistar o Zeca Pagodinho. Recado do vizinho do prédio, do colega jornalista, do compositor amigo, do taxista que me levou ao aeroporto”.
Momentos icônicos de sua vida pública também foram transformados em memes que circulam na internet. Um dos mais famosos é de 2013, quando o cantor usou um quadriciclo pra ajudar a socorrer vitimas de uma enchente causada pela chuva em Xerém, na Baixada Fluminense, onde possui um sítio e uma escola de música para crianças carentes da região. Ele foi parado por um repórter do canal Globo News, que lhe fez uma pergunta genérica diante da situação. “Qual é o seu sentimento?” perguntou o repórter? Zeca apenas julgou desnecessária a atitude do jornalista e saiu com pressa para continuar ajudando.
Boemia
Zeca Pagodinho gosta de dizer que é das ruas, dos bares e das rodas de samba. Casado há quase trinta anos com Mônica, prefere ser chamado de pecador que de pegador, como mostra entrevista concedida a Ângela Bastos. “Pegador? Sou é pecador. Hoje estou mais devagar. Mas olhar não custa nada né?”. Ele ainda fala da posição liberal de sua esposa, que o deixa desfrutar da vida como desejar, sem barreiras e pesares de consciência. “Se a dona (Mônica) não estiver perto, um beijinho e tal. Eu sou da rua, sou boêmio, minha mulher sabe disso. Eu sou o único boêmio que conseguiu fazer 25 anos de casado, e com uma tremenda festa”.
Outro momento bastante interessante da entrevista é observar a forma sistemática do músico de dividir sua vida boêmia de sua vida familiar. Quando a repórter indaga sobre ‘vida em Xerém versus vida em família’, ele é bastante categórico. “Minha família fica do outro lado do muro. Homem fala muita bobagem, bebe, diz palavrão. A Mônica fica com as crianças do outro lado. O pessoal do lado de cá bebe muito, sambista conta piada”. Para Zeca, também não existe hora de encerrar a festa. Quem tiver ânimo que não sofra falta de álcool ou de lugar. “Quando eu canso, vou pro outro lado do muro. E eles, os meus amigos, ficam bebendo”.
A fama de boêmio e a paixão de Zeca pela cerveja acabam gerando bastante material na internet. Alguns deles parecem tão absurdos que fica difícil acreditar na legitimidade dos fatos apresentados. Certa vez, a coluna ‘Gente boa’ do jornal ‘O Globo’ lançou a seguinte manchete: “Zeca Pagodinho tem funcionário só pra carregar cerveja”. Ainda segundo a coluna, Zeca refere-se ao seu funcionário como ‘caddie’, expressão utilizada para definir quem carrega os tacos de um golfista profissional. Ele brincou ainda que havia trocado o samba pelo golf. Zeca também já foi fotografado bebendo água mineral, o que alimentou o humor dos fãs.
Uma das datas religiosas mais celebradas por Zeca Pagodinho é o dia de São Cosme e Damião, comemorado no dia 27 de setembro. As festas costumam evocar o lado infantil das pessoas, e a inocência das crianças. Na data, o cantor costuma distribuir doces para as crianças nas ruas de Xerém. Zeca também materializou sua admiração pelas crianças através de uma tatuagem dos dois meninos. Mas não pensem que Zeca é alguma espécie de católico conservador. Cosme e Damião são apreciados por muitas religiões afro-brasileiras. Os negros bantos, por exemplo, identificam Cosme e Damião como orixás.
Em várias entrevistas já fez revelar seu lado religioso que pende para a cultura afro-brasileira. Gosta de mencionar, em especial, que almeja a proteção de Ogum, que na mitologia iorubá (oriunda do sudoeste da Nigéria e trazida ao Brasil por africanos escravizados) representa o senhor do ferro, da guerra, da tecnologia e da agricultura. Zeca falou de sua fé à jornalista Ângela Bastos. “Tenho Cosme e Damião no peito (mostra a tatuagem). São os erês (chamados na umbanda). Ogum é o nosso protetor, santo guerreiro, que nos protege nos becos e nas vielas. No sobe e desce dos morros. Ogum está ali, é pai, é guerreiro”.