Cultura

Antropofagia: Te decifro e te devoro

Redação

Publicado em 11 de janeiro de 2016 às 23:38 | Atualizado há 4 meses

Oswald de Andrade filho abastado da burguesia brasileira do fim do século XIX. Acabou por se tornar um jornalista e escritor irreverente e combativo. Ele escreveu dois manifestos, o da “Poesia Pau-Brasil” e o “Antropofago”. Além desses conceitos culturais escreveu poemas e peças de teatro.Foi um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna no ano de 1922, que aconteceu em São Paulo. Este evento foi um fato histórico que teve a participação de representantes de todas as áreas da cultura. Música, artes plásticas, poesia, tudo estava lá no Teatro Municipal. Foi pura ebulição, a galera envolvida subverteu toda a produção artística da época.

A elite da época não ficou muito feliz com esse rebuliço. A cultura, moda e tudo mais a qual a alta burguesia seguia e reproduzia rigorosamente era a europeia. Como os jornais da época eram concentrados na mão dessa gente, haja crítica nos meios de comunicação ao tal modernismo apresentado nesse evento de arte.Oswald e outros poetas da época já não engoliam a estética da poesia do século XIX, considerada por eles já ultrapassada, que não oferecia uma identidade real com o povo brasileiro.

Oswald contestava tudo, o conteúdo, a linguagem e a finalidade da poesia, fato que pode ser observado em sua obra como por exemplo nesse poema, chamado “Pronominais”: “Dê-me um cigarro/ Diz a gramática/ Do professor e do aluno/ E do mulato sabido/ Mas o bom negro e o bom branco/ Da Nação Brasileira/ Dizem todos os dias/ Deixa disso camarada/ Me dá um cigarro.”

AS MULHERES ESPETACULARES DE OSWALD

Tarsila do Amaral foi uma das companheiras de Oswald. Ela era uma pintora que também compunha o grupo dos cinco da arte moderna, que eram : Mário de Andrade, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Menotti del Picchia e Oswald. Dessa junção artística se tornam amigos e depois companheiros. A pintora chegou a retratar Oswald em suas pinturas.

Outra mulher de força e expressão que se envolveu com Oswald foi Patrícia Galvão, ou Pagu. Sempre foi dada a “extravagâncias” de acordo com o padrão de comportamento das mulheres de seu tempo. Militante comunista foi uma das primeiras presas políticas do Brasil. Ela se casou com Oswal em 1930, quando se separou de Tarsila.

Só pra despertar a lembrança de uma boa canção inspirada na força e luta de Patrícia Galvão, temos a música “Pagu” escrita por Rita Lee, que tem esse trecho: “Sou mais macho que muito homem/ Sou rainha do meu tanque/ Sou Pagu, indignada no palanque”.

TUPI OR NOT TUPI

Oswald resumiu com um manifesto as ideias culturais “regurgitadas” pelo modernismo. Importante parte da construção do movimento cultural antropofágico inspirou outros movimentos culturais posteriores como o “Tropicalismo” e até o mais atual “Manguebeat”.

Estes movimentos obviamente têm características muito distintas mas todos beberam do poço de Oswald. A ideia central do Movimento Antropofágico era um olhar para dentro da cultura nacional. Ele propunha que os brasileiros engolissem tudo que a Europa e EUA nos empurraram guela abaixo, mastigasse junto com as construções culturais daqui e regurgitasse tudo como nossa verdadeira expressão artística.

Antropofagia seria uma prática semelhante ao canibalismo, mas com uma finalidade mais ritualística do que nutritiva. Muitos povos considerados “primitivos” tinham essa prática, inclusive indígenas que habitavam o Brasil antes da colonização. No ritual antropofágico acreditava-se que ao ingerir o inimigo fosse possível absorver suas forças e habilidades.

Por isso Oswald utiliza esse termo, antropofagia. A idéia dele era “ingerir” a cultura dos povos dominadores junto com a cultura africana e latina, parte da nossa construção e desse misto de influências e forças obter uma cultura nacional brasileira.

“Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz. Tupi, or not tupi that is the question”. Este é um trecho do Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade, escrito na década de 20, que tradução de um movimento cultural.

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