Ao Globo Rural, José Hamilton Ribeiro recorda reportagens marcantes
Redação DM
Publicado em 20 de março de 2022 às 20:30 | Atualizado há 3 anos
O
jornalista José Hamilton Ribeiro, 86, vai para o apartamento que mantém em São
Paulo para cumprir obrigações de saúde. Após ser aposentado pelo Globo Rural, o
premiado repórter vive numa fazenda em Uberada (MG), caminha pela propriedade,
dedica de três a cinco horas do seu dia para ler livros sobre os quais quer
escrever artigos e folheia trabalhos que lhe enviam para comentar ou prefaciar.
Zé
Hamilton (como é chamado pelos mais próximos) foi homenageado neste domingo,
20, pelo Globo Rural, programa do qual foi desligado há quatro meses e para
onde fez reportagem memoráveis, como a entrevista com os cantores sertanejos
Tonico e Tinoco. No bate-papo, disponível na íntegra no Globoplay, o jornalista
recordou ainda momentos marcantes da carreira, que já ultrapassa seis década de
labor na lauda.
Há 54
anos, Ribeiro participava de uma patrulha com tropas americanas, na Estrada sem
Alegria em Quang Tri, norte do Vietnã, quando perdeu parte da perna esquerda.
“Então senti um repuxão na perna esquerda e só aí tive consciência de que a
coisa era comigo. A perna esquerda da calça tinha desaparecido e eu estava,
naquele lado, só de cueca”, narra o jornalista em “O Gosto da Guerra”,
reportagem com a qual fez história.
Mutilado
e sentindo uma dor terrível, não perdeu o foco do cenário de carnificina ao seu
redor. Por conta de sua capacidade de observação, conseguiu ambientar o cenário
com precisão na antológica reportagem, que fez história ao ser descrita em
primeira pessoa, e onde possibilitou ao leitor desenhar o ambiente, imaginar os
diálogos e se colocar na situação como um personagem e não omitir nada do
público.
Kei
Shimamoto, que conseguiu o retrato de Ribeiro ferido após pisar na mina, morreu
pouco tempo depois quando o helicóptero em que estava explodiu, alvo de um
foguete. Com a consciência pesada e sentindo-se culpado, Shimamoto ficou
no hospital com o jornalista, que precisou passar por uma cirurgia. Do Vietnã,
o repórter foi para os Estados Unidos. Shimamoto vinha ao Brasil para trabalhar
na Realidade, mas não deu tempo: o fotojornalista foi vítima dos horrores da
guerra.
Ao Diário da Manhã, numa entrevista
publicada em 2020, Zé Hamilton afirmou que o grande sucesso da obra foi porque
ela acabou sendo contada “com muita naturalidade”. “Foi escrita no calor do
momento, com sangue nos olhos”, disse. O repórter começou no jornalismo em
1954. (Redação)